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Por Carolina Callegari e Giovanna Durães*, O GLOBO — Rio de Janeiro

A Velha Guarda da Portela se tornou Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial. O decreto foi publicado no Diário Oficial do município nesta terça-feira. No texto, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, destaca "a importância social, cultural e econômica" da agremiação para a "preservação da memória e da história do samba e do carnaval carioca" e "a necessidade de se reconhecer e contribuir com a preservação e perpetuação desses que são um dos principais atores responsáveis pelo tradicional carnaval carioca, pelo samba e pela cultura da Cidade do Rio de Janeiro".

— A Velha Guarda é a espinha dorsal de qualquer agremiação, mas na Portela é ainda mais importante. Nossa tradição vem de Paulo da Portela, e com a disciplina vamos dando continuidade ao legado de grandes compositores — diz Tia Surica. — Comecei a fazer parte da ala em 1980 e nunca mais saí. Estar rodeado de tantos talentos me deu abertura, apoio e uma alça para crescer.

Em dezembro de 2021, a Portela recebeu o título de Patrimônio Imaterial e Cultural do Estado do Rio de Janeiro. O reconhecimento veio com a Lei n° 9.505, de autoria do deputado estadual Dionísio Lins, sancionada pelo governador Cláudio Castro. A escola segue como a maior campeã do carnaval carioca, com 22 títulos.

Guardiões da tradição

Formada por antigos integrantes da escola, a Velha Guarda estreou em disco em 1970, com “Portela Passado de Glória”, produzido por Paulinho da Viola, padrinho da ala. O conjunto original era composto por Ventura, Aniceto, Alberto Lonato, Francisco Santana, Antônio Rufino dos Reis, Mijinha, Manacéa, Alvaiade, Alcides Dias Lopes, Armando Santos e Antônio Caetano. Com o sucesso, o grupo passou a se apresentar em shows, resgatando antigos sambas e sambistas da escola.

Após o primeiro disco, foram mais três lançamentos: "Grandes Sambistas", em 1986; "Homenagem a Paulo da Portela", em 1988; e "Tudo Azul", em 1999. A formação do grupo variou ao longo dos anos e carregou grandes compositores, como Jair do Cavaquinho, Guaracy, Monarco, Davi do Pandeiro e Serginho Procópio.

Atualmente, ela é dividida em Galeria da Velha Guarda e a Velha Guarda Show. A primeira reúne membros por idade e tempo de serviço à escola. Já a segunda, que vem da formação criada por Paulinho, só aceita integrantes chamados pelo próprio líder, hoje Serginho Procópio. São levadas em consideração a qualidade musical e a fidelidade à doutrina que guia as diretrizes da Velha Guarda e da escola. Dentre esses valores, estão o jeito de se vestir, o comportamento e a vivência dentro da escola.

Para os integrantes, é necessário se manter fiel às raízes. A ala é responsável por criar o samba em sua forma original e manter as tradições que surgiram ao longo dos cem anos de história da Majestade do Samba, que se mistura com o nascimento do ritmo e do próprio carnaval.

Os bambas fundadores da ala faziam sambas de terreiro que só circulavam ali, no subúrbio, em Oswaldo Cruz. Mas Paulinho da Viola teve a ideia de gravar essas obras, imortalizá-las e levá-las ao resto da cidade. Fundador da escola, Paulo da Portela foi um dos nomes principais na defesa das agremiações, sendo um dos responsáveis pela oficialização dos desfiles de carnaval no Rio de Janeiro.

Com berço portelense, Waldormiro Meirelles, o Seu Mirinho, que completa 93 anos no próximo sábado, é o integrante mais antigo da Galeria da Velha Guarda. Em seus mais de 70 anos de participação ativa na escola, já foi diretor de harmonia e é o único portelense vivo que conheceu o lendário Paulo da Portela.

— Eu desfilo desde criança, minha vida foi feita aqui, a Portela faz parte de mim. A Velha Guarda é uma parte essencial da nossa agremiação, um patrimônio nosso e, agora, da cidade — disse o baluarte que, neste ano, entrou na Avenida em uma alegoria que homenageou Mestre Monarco.

A 'nova' Velha Guarda

As doutrinas permanecem vivas nas composições e nos valores de quem quer dar continuidade à tradição. José Barbosa Neto, mais conhecido como Camarão, é o integrante mais jovem da Velha Guarda Show. Hoje com 32 anos, ele tinha apenas 26 quando passou a fazer parte do grupo.

— A doutrina do samba mudou a minha vida. É muita responsabilidade estar ali presente e ser um jovem carregando essa bandeira. Eu cresci na escola, tenho a honra de estar próximo de pessoas mais velhas que me mostraram outra visão de vida. A Velha Guarda é uma escola de vida, não só de samba — contou o compositor.

O desafio agora, diz Camarão, é dar continuidade ao legado da produção e do estilo de vida e de arte da Velha Guarda.

— A gente está preocupado. O que se vê hoje é uma minoria que segue a tradição dos sambas antigos. São poucos que procuram saber a história da Velha Guarda a fundo e que decidem seguir esse fio condutor. É um cenário preocupante para o nosso carnaval — alerta.

Os novos integrantes da ala acreditam que a renovação vem por meio de projetos culturais dentro das agremiações, com pessoas que tenham a vivência e o conhecimento da verdadeira história da escola e possam passar isso para os componentes.

O centenário na Avenida

Neste ano, a azul e branco de Oswaldo Cruz e Madureira levou seu centenário para a Avenida. A Velha Guarda da agremiação ganhou destaque no desfile numa das primeiras alas.

Na edição do Estandarte de Ouro deste ano, a Portela conquistou duas categorias: inovação, com os drones, e personalidade, com a ex-porta-bandeira Irene Silva. A escola, a segunda a desfilar na noite de segunda-feira, fez o céu da Sapucaí brilhar. A agremiação surpreendeu o público com um show nunca visto antes na Avenida. A tecnologia rendeu um estandarte na categoria inovação.

A escola completou seu centenário neste ano e celebrou a data no próprio enredo "O azul que vem do infinito". Os drones permitiram que a agremiação escrevesse no ar “Portela 100 anos" e nomes de personagens históricos, como os de Paulo (da Portela) e Natal, marcantes na história da azul e branco. Apesar do começo triunfal, a azul e branco teve problemas no desfile e terminou apenas na décima colocação.

*Estagiária sob supervisão de Leila Youssef

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