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Por Giulia Ventura — Rio de Janeiro

A ação de criminosos que levou à morte da menina Ester de Assis Oliveira, de apenas 9 anos, no Morro do Cajueiro, em Madureira, Zona Norte do Rio, na última quarta-feira, durou cerca de três minutos, conforme apontam testemunhas. Os homens, apontados como traficantes do Complexo da Serrinha, comunidade de uma facção rival, chegaram em um carro preto pela Avenida Ministro Edgard Romero, atiraram e fugiram pelo mesmo caminho. Além da criança, um rapaz de 19 anos, morreu. João Vitor Pereira Brander era entregador de botijões de gás. Outras três pessoas, que não foram identificadas, ficaram feridas.

Local onde vítimas foram baleadas — Foto: Editoria arte
Local onde vítimas foram baleadas — Foto: Editoria arte

De acordo com os relatos, as vítimas estavam na Rua Piraquê no momento em que foram atingidas. Ester estava com uma prima de 17 anos. As duas haviam acabado de sair de suas respectivas escolas e faziam o caminho normal para casa, por volta de 17h30. Como a rua é íngreme, pararam para descansar e Ester, que participou de uma comemoração de Páscoa no colégio naquele dia, aproveitou para comer um pedaço de bolo que ganhou. Foi quando foi baleada na cabeça. Ela chegou a ser levada ao Hospital Getúlio Vargas, na Penha, mas não resistiu.

João Vitor estava em seu horário de almoço, próximo a um portão onde costumava fazer entregas. Segundos as testemunhas, as outras três pessoas atingidas estavam na mesma região. Não há, no entanto, informações da distância entre elas ou de quantos tiros foram disparados pelos criminosos.

— Estavam, mais ou menos, na metade da rua. Foi muito rápido, não conseguiram pegar nenhuma característica (do carro ou dos atiradores) — conta uma das pessoas.

Ester de Assis Oliveira, de 9 anos, foi atingida na cabeça e não resistiu — Foto: Reprodução
Ester de Assis Oliveira, de 9 anos, foi atingida na cabeça e não resistiu — Foto: Reprodução

Menina doce e alegre

Ester foi enterrada na manhã de sexta-feira, no Cemitério de Irajá, também na Zona Norte, em meio a muita comoção. A menina é lembrada por seu jeito doce e alegre, seja por amigos, familiares e até mesmo professores. Numa carta divulgada nas redes sociais após a morte da menina, uma professora já havia falado sobre seu jeito carinhoso. Após o velório, a mãe da menina reforçou, com lágrimas nos olhos, as características da filha:

— A Teté é uma pessoa doce, alegre, brincava com todo mundo, não respondia ninguém. Para você ver, todo mundo aqui conhecia a minha princesinha. Ela era muito boa — lembrou Thamires, que lamentou:

— Tive que dar para ele (pai) a notícia que ela nasceu, e falar para ele que ela morreu. Isso dói para uma mãe. Eu só quero a minha princesa de volta.

Thamires Assis e Dilson Moura, pais de Ester, se despendem da filha abraçados ao seu urso de pelúcia — Foto: Domingos Peixoto/Agência O Globo
Thamires Assis e Dilson Moura, pais de Ester, se despendem da filha abraçados ao seu urso de pelúcia — Foto: Domingos Peixoto/Agência O Globo

Dilson Moura, pai da menina, contou que Ester era uma criança forte como “um leão” e disse não saber viver sem a filha.

— Me mataram, não tem como viver sem a minha filha. Vocês não têm noção da dor. Tiraram a minha vida. Essa menina era um leão, era muito forte.

Guerra pelo controle

Questionada, a Polícia Militar não respondeu se a inteligência da corporação identificou a movimentação dos traficantes para a invasão do Cajueiro. Em nota, a PM apenas disse que intensificou o policiamento na região e atuou para o restabelecimento do trânsito na região após os protestos realizados ontem em várias vias de Madureira. A Delegacia de Homicídios investiga as duas mortes no confronto. Os demais casos serão apurados pela 29ª DP (Madureira).

A disputa pelo controle das favelas da região de Madureira é antiga, mas se intensificou no último ano, segundo relatos de moradores que mais uma vez testemunharam o rastro de violência dessa guerra. Em 2016, no domingo de Páscoa, Ryan Gabriel Pereira dos Santos, de 4 anos, também foi morto ao ser atingido por uma bala perdida enquanto brincava com o avô na calçada, no Morro do Cajueiro. Na ocasião, também houve uma tentativa de invasão de uma quadrilha rival.

O tráfico de drogas na Serrinha é comandado por Wallace de Brito Trindade, conhecido como “Lacoste”, que também domina as favelas Fazenda, Patolinha, São José e Dendezinho. Ele é integrante da facção Terceiro Comando Puro e também teria se aliado a milicianos da região.

Já a Favela do Cajueiro teria um homem conhecido como Graveto no comando, membro do Comando Vermelho, uma facção rival. Ele teria sido indicado por Edgar (Doca), que controla o tráfico no Complexo da Penha, para comandar os negócios do grupo criminoso na comunidade.

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