Rio
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Por Carolina Heringer e Marcos Nunes — Rio de Janeiro

Mais uma disputa violenta por territórios vem espalhando o medo pelo Rio. Além do tráfico e da milícia, a máfia do jogo do bicho protagoniza uma guerra que já deixou dois mortos e cinco feridos este mês. Na noite de terça-feira, um cabo da PM foi executado em Marechal Hermes, na Zona Norte do Rio. No Catumbi, um homem teve, na semana passada, o carro metralhado perto do Sambódromo. Atingido por quatro tiros, ele ainda está internado. Por trás dos ataques estariam os herdeiros dos antigos chefões da contravenção. Foi Luiz Cabral Waddington, de 42 anos, que levou para a Polícia Civil o que está acontecendo nas ruas, após o filho dele ser baleado na última sexta-feira. Segundo ele, o conflito tem como pano de fundo um suposto plano dos contraventores Rogério Andrade, Adilsinho e Vinicius Drummond para formar uma nova cúpula do jogo do bicho. Para isso, estariam agindo para tomar os pontos de Bernardo Bello Pimentel Barboza, que foi casado com Tamara Garcia, uma das filhas de Maninho.

Bernardo Bello está foragido desde novembro do ano passado, quando foi alvo da Operação Fim da Linha, do Ministério Público estadual. Na época, ele respondia em liberdade ao processo pela morte de Alcebíades Paes Garcia, o Bid, irmão de Waldermir Paes Garcia, o Maninho, seu ex-sogro. Após descumprir as medidas cautelares impostas nesse processo, Bello teve a prisão novamente decretada. Em um terceiro processo, Bernardo é acusado de lavagem de dinheiro e também teve a prisão determinada no último mês.

Bicheiro confesso, Luiz Cabral contou sem meias palavras que trabalha há 20 anos para a “família Garcia” — de Waldemir Paes Garcia, o Maninho, assassinado em setembro de 2004 — cujos negócios ilegais seriam hoje controlados por Bernardo Bello. Ele afirmou ser “gerente” de mais de 40 pontos de jogo, do Engenho Novo ao Leblon.

Quatro ataques recentes ocorreram em bairros da Zona Norte, onde a contravenção seria controlada por Bello. O mais recente, em Marechal Hermes, foi fora de seu território, mas investigações mostram que o PM Daniel Mendonça da Silva tem ligação com Bello. No início do mês passado, o policial tinha sido preso com outros oito homens. Um deles, outro PM, estava com uma pistola registrada em nome de Bello. Poucos dias depois, eles foram soltos por decisão da Justiça.

Fontes das polícias Civil e Militar ouvidas pelo GLOBO apontam que o momento para atacar Bello pode ter relação com um enfraquecimento do bicheiro, que está foragido da Justiça e com três mandados de prisão contra ele. Além disso, Bello perdeu, em novembro do ano passado, Marco Antônio Figueiredo Martins, o Marquinho Catiri, apontado em investigação do Ministério Público como um de seus sócios. Catiri foi assassinado.

Clima tenso na delegacia

Na 6ª DP (Cidade Nova), Cabral disse que vem sendo ameaçado de morte por Adilson Coutinho Oliveira Filho, o Adilsinho, que herdou do pai a contravenção em parte de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e seria ligado ao mercado clandestino de cigarro. Luiz Cabral afirmou que Adilsinho recebe apoio de Rogério Andrade, que assumiu o espólio da família de Castor de Andrade, e de Vinicius Drummond, um dos cinco filhos do “capo” da contravenção Luiz Pacheco Drummond, o Luizinho, que morreu em 2020. Para Cabral, seus inimigos querem assumir a área da família Garcia.

Policiais da Delegacia de Homicídios abordam carro da segurança de contraventor

Policiais da Delegacia de Homicídios abordam carro da segurança de contraventor

Luiz Cabral foi convocado a depor ontem na Delegacia de Homicídios sobre o rastro de violência deixado por esta guerra pela exploração do jogo do bicho e das máquinas de caça-níqueis. Ele falou por seis horas. Ao deixar a unidade na Barra da Tijuca, o clima ficou tenso. Agentes da DH, com armas em punho, abordaram três homens numa picape de luxo. Dois deles estavam armados e se apresentaram como policiais militares. Todos foram identificados e liberados. André Bergeralck, advogado do bicheiro, admitiu ter contratado uma empresa de segurança para garantir a integridade de seu cliente. O nome da empresa não foi divulgado, nem os dos PMs. Em nota, a Secretaria de Polícia Militar afirmou que enviará o caso à corregedoria da corporação.

Confira quem são eles

Daniel Mendonça da Silva

O cabo, de 41 anos, integrava a Polícia Militar desde 2012. Ele foi preso em março deste ano, acusado de integrar da quadrilha do contraventor Bernardo Bello. Ele teve a prisão relaxada no mesmo mês. Com o assassinato do agente, a polícia investiga a relação do crime com a guerra do jogo do bicho.

Daniel deixou a prisão no fim do mês passado, após decisão do juiz Juarez Costa de Andrade, da Vara Especializada de Combate ao Crime Organizado, que entendeu que havia ilegalidades na prisão. Segundo o juiz, o Ministério Público não ofereceu denúncia contra eles, quase um mês após todos serem detidos, desrespeitando prazo do Código de Processo Penal.

Ele foi baleado por homens encapuzados e levado para o Hospital Estadual Carlos Chagas, no mesmo bairro, mas morreu na unidade de saúde. A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) investiga a morte do agente. A Corregedoria Geral da PM acompanha os desdobramentos do caso.

  • Luiz Henrique de Souza Waddington

Na última sexta-feira, o motorista Luiz Henrique de Souza Waddington, de 22 anos, foi vítima de homicídio tentado no Catumbi, no Centro do Rio. Ao menos 40 disparos atingiram o carro, quatro deles feriram Luiz Henrique, que foi levado para o Hospital Souza Aguiar. O pai dele admitiu envolvimento com a contravenção e afirmou que era o alvo do ataque. Ele também trabalha para o bicheiro Bernardo Bello.

A Polícia Civil investiga se uma disputa pelo controle de mais de 40 pontos do jogo do bicho, envolvendo contraventores da Zona Norte e integrantes da máfia do cigarro contrabandeado de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, pode estar por trás do caso.

  • Fernando Marcos Ferreira Ribeiro

Morto no dia 6 deste mês, Fernando foi abordado por criminosos na Rua Caruso, na Tijuca, Zona Norte do Rio. Ele estava na porta de casa quando foi baleado e morto. A vítima, de 41 anos, possuía quatro anotações criminais por jogo de azar. O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). Em um dos processos respondidos por Fernando, o seu advogado é o mesmo que já foi responsável pela defesa de Bernardo Bello, Thiago Santoro.

Momento em que Fernando Marcos Ferreira Ribeiro é assassinado na Tijuca

Momento em que Fernando Marcos Ferreira Ribeiro é assassinado na Tijuca

  • Dois baleados no Andaraí

No dia 14, dois homens foram baleados na Rua Barão de Mesquita, atingidos por disparos de homens que chegaram num carro. Um dos baleados é um policial militar, que não teve a identidade revelada. As vítimas seguem internadas em unidades de saúde. O caso é investigado como tentativa de homicídio. A área do Andaraí pertence à família Garcia, de Waldemir Paes Garcia, o Maninho, atualmente sob exploração de Bernardo. O contraventor foi casado com uma das filhas de Maninho, Tamara Garcia.

  • Dois baleados em Vila Isabel

No sábado, dia 15, outros dois homens foram baleados no interior de um bar. Segundo as investigações, homens armados desembarcaram de um carro e dispararam contra o estabelecimento, que oferece jogos em máquinas caça-níqueis. As vítimas também seguem internadas em unidades de saúde, e o caso é investigado como tentativa de homicídio. Assim como o Andaraí, Vila Isabel também é área que “pertence” à família Garcia e explorada por Bernardo.

  • Marco Antônio Figueiredo Martins

O miliciano, conhecido como Marquinhos Catiri, foi morto no dia 19 de novembro de 2022, em Del Castilho, na Zona Norte do Rio. A Delegacia de Homicídios da Capital, encarregada de investigar o caso, tinha como principal linha que os assassinos de Catiri prestariam serviços como mercenários para um núcleo da contravenção ligado a máfia de cigarros contrabandeados.

De acordo com investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), Catiri seria ligado ao contraventor Bernado Bello, com que teria negócios. Num áudio gravado em maio de 2022, obtido pelo MPRJ, Catiri disse que sua cabeça estaria valendo R$ 4 milhões e que por isso precisou reforçar sua segurança.

Contraventor confesso

Luiz Cabral, de 42, pai de Luiz Henrique — motorista baleado na última sexta-feira — admitiu, em depoimento à 6ª DP (Cidade nova), que trabalha para a contravenção. Ele gerencia cerca de 45 pontos da quadrilha de Bernardo Bello, que funcionam entre os Bairros do Leblon, na Zona Sul, e o Engenho Novo, na Zona Norte, passando ainda pelo Centro, em áreas como Bairro de Fátima e Bairro da Lapa.

Segundo Cabral, ele seria o alvo do atentado e não seu filho. Cabral contou que, um dia antes do crime, recebeu um telefonema mandando deixar o negócio.

— Meu filho é motorista e não trabalha com contravenção. Mas, às vezes me leva de um lado para o outro. Na sexta-feira, ele estava vindo me pegar, em Vila Isabel, quando um Creta preto emparelhou com o carro dele e o fechou. Dois homens armados de fuzis desceram e atiraram nele. Ele levou quatro tiros e sobreviveu por milagre. Eles acharam que eu estava naquele carro. Um dia antes houve um telefonema onde me ameaçaram. Disseram que não era para mexer mais em nada e que agora seria tudo com eles. Tenho medo de morrer. Estou me sentindo ameaçado, estou com minha vida em risco. A do meu filho está em risco também. O carro dele levou de 30 a 40 tiros — disse.

O advogado de Vinicius, Max Marques, nega qualquer ligação do cliente com a contravenção e afirma que tomará as providências contra Cabral após ter acesso à investigação. O advogado de Bernardo não respondeu ao questionamento feito pela reportagem.

Procuradas, as defesas de Rogério de Andrade e de Adilsinho ainda não se manifestaram.

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