Rio
PUBLICIDADE

Por Geraldo Ribeiro — Rio de Janeiro

O centenário da Portela será comemorado nesta terça-feira com duas missas, uma pela manhã no Cristo Redentor e outra no fim da tarde, na quadra da escola, onde na mesma noite haverá um show da Velha Guarda. Os festejos continuam no fim de semana e serão encerrados no domingo com um desfile comemorativo, com comunidade e segmentos das agremiação na Estrada do Portela.

A programação de aniversário começa com a missa no Santuário do Cristo Redentor, às 8h. A celebração ficará a cargo do bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, Dom Antonio Luiz Catelan e contará com as presenças do presidente da escola, Fábio Pavão, do vice-presidente, Junior Escafura e de representantes de todos os seguimentos da agremiação.

O Santuário Cristo Redentor também vai fazer uma homenagem iluminando amanhã, a partir das 19h, o monumento nas cores da escola: azul e branco. Uma outra missa será celebrada no Portelão, essa às 18h. Os festejos prosseguem às 20h com shows da Velha Guarda da Portela e do Grupo-Show da escola, na Praça Paulo da Portela, em frente à Portelinha.

Webstories

Protagonismo feminino

A figura feminina sempre teve um papel de destaque na construção da história da Portela. Foi no quintal de Esther Maria de Jesus, a dona Esther, que muitos dos primeiros portelenses tiveram contato com o samba ao lado de nomes já consagradas da música popular brasileira. Em 1938, foi a primeira escola a permitir a presença de mulheres na bateria, através da pioneira Dagmar. A porta-bandeira Dodô e Tia Vicentina são personagens lendárias.

No centenário da Portela, comemorado nesta terça-feira, mulheres que ainda continuam ajudando a construir essa história, como Tia Surica, Vilma Nascimento e Nilce Fran, destacam a importância do protagonismo feminino na azul e branco de Oswaldo Cruz e Madureira. Não por acaso, escolheu para o ano que vem o enredo “Um defeito de cor”, baseado no livro da escritora Ana Maria Gonçalves, que conta a história de Luisa Mahim, a mãe de Luis Gama.

— A Portela que sempre teve essa coisa matriarcal muito forte, a começar por dona Esther. Teve também Nega Pelé, Tia Doca, Tia Vicentina, Tia Surica, Tia Eunice, Dodó, Vilma Nascimento e muitos outros nomes. É uma escola que sempre teve a presença feminina muito viva. A mulher sempre teve uma imagem presença forte. A Portela é uma escola matriarcal, de colo. Ali é onde eu faço minhas festas de aniversário das crianças e as resenhas de domingo. Essa coisa de mulher e de mãe é muito cultuado na escola — aponta Nilce Fran, de 57 anos, diretora e coreógrafa da Ala dos Impossíveis.

Filha de Wanderley Francisco da Silva, um grande nome da escola, amigo próximo dos fundadores da azul e branca, Nilce conta que seu carrinho de bebê ficava estacionado na quadra da agremiação, ao lado do palanque, onde hoje está localizada a sala de troféus. Debutou na avenida aos 10 anos, em 1976, quando a escola desfilou com o enredo “O homem do Pacoval”. Renato Sorriso, o gari que hoje encanta o público da Sapucaí no intervalo dos desfiles foi seu primeiro mestre-sala. Nunca mais parou.Virou passista. Conheceu mais de 20 países por causa do carnaval, e hoje mantém o projeto “Samba pra sempre”, destinado a formaçã de novos passistas.

Pastora da Velha Guarda, Tia Surica, de 82 anos, diz que a escola sempre teve tradição de valorizar figuras femininas, como a Tia Vicentina, que preparava feijoadas memoráveis e foi imortalizada no samba de Paulinho da Viola, “Pagode do Vavá”.

— A mulher é muito importante na história das Portela e sempre teve papel de destaque na escola — afirma a matriarca que é portelense “desde criancinha” e se ogulha de nunca ter desfilado em outra escola.

Vilma Nascimento, de 84 anos, fez história como porta-bandeira da escola, a partir de 1957. A "Cisne da Passarela", como ficou conhecida pela graciosidade de seu bailado, foi casada por quase 50 anos, com Mazinho, filho do lendário Natalino José do Nascimento, o Natal da Portela. Foi o patriarca quem a levou para a escola, a qual orgulha de ter ajudado a ganhar importantes campeonatos com os dez obtidos em seu quesito. Foram quatro títulos de 1957 a 1960. Também é detentora de quatro troféus Estandarte de Ouro, sendo três pela azul e branco (1977, 1978 e 1979) e um pela Tradição (1989). Continua desfilando, agora como destaque. Sua filha Danielle e a bisneta Clarice deram seguimento à sua linhagem.

— Muitas mulheres contribuíram para que a Portela chegasse a esse centenário. Inclusive eu, que ajudei a escola a conquistar vários campeonatos com as minhas notas dez —se orgulha a lendária porta-bandeira, que começou na União de Vaz Lobo e foi levada para a azul e branco por Natal.

A presidente da Ala das Baianas, Jane Araújo, de 57 anos, integra uma família que está na quinta geração de mulheres portelenses. A relação com escola foi iniciada por sua avó Hermínia Belchior. Sua mãe Hilma, aos oito anos encantou o velho Natal e se tornou a primeira passista da escola. O amor à azul e branco passou de mãe para filha, ainda na infância. Agora filha e netas de Jane seguem o mesmo caminho.

— As mulheres sempre tiveram presença forte na Portela. Ai dos homens se não fossemos nós. A própria história da escola começa com uma mulher — diz, referindo-se a Dona Esther.

A Portela, que no ano do centenário ficou em décimo lugar na apuração do carnaval, aposta num enredo forte em 2024 para dar a volta por cima. Maior campeã do carnaval carioca, é detentora de 22 títulos, o primeiro conquistado em 1935 e o ultimo em 2017.

Desenvolvido pelos carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga, e baseado na obra homônima da autora Ana Maria Gonçalves, o enredo do ano que vem traz uma outra perspectiva da história, refazendo os caminhos imaginados da história da mãe preta, Luisa Mahim. Antônio Gonzaga, um dos carnavalescos, disse, por ocasião da divulgação do tema, se tratar de um projeto dedicado a todas as mães, além de ser uma forma de demonstração de afeto e gratidão por sua recém-chegada à escola, ao lado de André Rodrigues.

— Existe uma falta de conhecimento em geral sobre o protagonismo feminino nas escolas de samba, na contrução da identidade cultural dessas agremiações. Mas, não necessariamente só na parte matriarcal, das mulheres que cederam os espaços, que fizeram comidas e quitutes. Existe uma série de mulheres que fizeram parte dessa construção de maneira efetiva, seja versando ou batucando. Elas construíram também essa intelectucalidade nas escolas de samba tanto como os homens. Mas, muitas vezes são apagadas ou esquecidas. Isso é também um fator importante para que a gente não coloque essas mulheres só no papel maternal, mas de participação efetiva na construção da intelectualidade da escola de samba — defende o carnavalesco André Rodrigues.

O carnavalesco explica que o viés escolhido para contar a história de Luisa Mahim é pelo ponto de vista da compreensão de seu filho, o advogado abolicionista Luis Gama sobre a importância de sua jornada e saga.

— É a história de uma mãe, heroína, filha de África, que pariu a liberdade dessa nação. É uma honra imensa contar essa história e imaginar esse reencontro de Luísa com Luís Gama. Essa história fala de todos nós. É a nossa identidade construída no tempo — frisou Gonzaga, por ocasião do anúncio do enredo.

Confira a programação completa de aniversário:

  • 11/04 (terça-feira): 8h – Missa no Cristo Redentor para convidados e autoridades
  • 11/04 (terça-feira): 18h - Missa no Portelão
  • 11/04 (terça-feira): 20h – Shows com Velha Guarda da Portela e Grupo-Show da escola, na Praça Paulo da Portela, em frente à Portelinha
  • 15/04 (sábado) 18h: Velha Guarda Show da Portela e convidados especiais
  • 16/04 (domingo): 18h – Desfile comemorativo do centenário da escola, com comunidade e segmentos cantando sambas históricos da Majestade do Samba, na Estrada do Portela. Concentração: Praça Paulo da Portela

Mais recente Próxima No centenário da Portela, mulheres que ajudaram a construir sua história destacam o protagonismo feminino na escola

Inscreva-se na Newsletter: Notícias do Rio

Mais do O Globo

Imane Khelif venceu a húngara Anna Luca Hamori e deixou o ringue muito emocionada

Após polêmicas, argelina avança às semifinais no peso-meio-médio do boxe e já tem medalha garantida

Presidente compareceu a convenção que formalizou Evandro Leitão na disputa com proteção por estar resfriado; petista pertence ao grupo político de Cid desde quando eram filiados ao PDT

Com Lula de máscara no palanque, deputado do PT é oficializado candidato em Fortaleza e agradece a Cid Gomes

Imagem que mostra como genital de Anthony Ammirati o 'prejudicou' viralizou nas redes sociais

Francês do salto atrapalhado pelo próprio órgão genital tem perfil nas redes invadido por piadas: 'Abre um onlyfans'

Modelo e apresentadora está na capital francesa assistindo aos Jogos Olímpicos com a família

Giovanna Ewbank se emociona com Simone Biles e Rebeca Andrade em Paris: 'inspiração pra tantas Títis nesse mundo'

Doença viral é transmitida pelo Culicoides paraensis, conhecido como maruim

Febre oropouche: Ministério da Saúde confirma morte de feto em Pernambuco

A supermodelo, em entrevista ao Wall Street Journal, revelou que acorda às 5h para meditar e que faz exercícios 6 vezes por semana

'Minha vida é um pouco diferente', diz Gisele Bündchen sobre rotina de hábitos saudáveis e conciliação do tempo com filhos

Judoca foi decisiva para medalha de bronze do judô por equipes

Paris-2024: Rafaela Silva diz que torceu para ser sorteada para a luta do desempate: "Fiquei chamando o 57"