O entregador Max Angelo Alves dos Santos compareceu à 15ª DP (Gávea), no início da tarde desta quarta-feira, para prestar depoimento, após ter sido agredido com chicotadas pela ex-jogadora e professora de vôlei Sandra Mathias Correia de Sá, no último domingo, em São Conrado, Zona Sul do Rio. Em uma semana ele esteve na delegacia duas vezes para denunciá-la pelas agressões sofridas verbal e fisicamente. Acompanhado de seu advogado, Joab Gama, e da esposa, Jaqueline dos Santos Lopes, ele chegou à unidade policial por volta das 13h30.
— Vou dar meu depoimento, vou dizer tudo o que aconteceu. É o correto a se fazer. Espero que ela (Sandra) seja punida e que pague pelos atos dela. Ela não está lidando com animal, está lidando com ser humano, que sangra como ela, que, se morrer, vai para o mesmo buraco que ela — afirmou Max, que conta ter sido surpreendido pelas agressões, após Sandra chicoteá-lo quatro vezes usando a guia de uma coleira de cachorro.
— Nunca passou pela minha cabeça que ela fosse tirar a coleira do cachorro para me agredir. Acho que não passou na cabeça de ninguém. Digo pra vocês: nem animal é tratado desse jeito. Qual direito ela tem (de agredir)? Ela paga os impostos dela, eu também. Não é porque moro na comunidade, que não pago, sou trabalhador — desabafou o entregador.
Max, que é morador da Rocinha, presta depoimento no mesmo dia em que Sandra Mathias seria ouvida. No entanto, pela manhã, os advogados da professora de vôlei apresentaram um atestado médico à delegacia, para justificar sua falta. Max lamentou essa situação:
— Sinceramente, eu fico triste (de ela não ter vindo depor), porque é a chance que ela está tendo de esclarecer, de dar a versão dela.
De acordo com o advogado Joab Gama, que defende o entregador, após Max comparecer à delegacia, novos depoimentos podem ajudar a definir se, além de lesão corporal, as investigações serão por injúria ou injúria racial:
— Tem testemunhas que ouviram as ofensas e faltou uma complementação, porque teve um xingamento específico condizente com a cor dele.
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Segundo a delegada titular da 15ª DP (Gávea) Bianca Lima, após apresentar atestado médico, o depoimento da professora Sandra Mathias não tem data marcada, mas pode ocorrer a partir da próxima segunda-feira.
Duas denúncias após agressões
Na unidade policial, inicialmente, na última quarta-feira, Max registrou ocorrência como injúria. No documento, ao qual O GLOBO teve acesso, o entregador narrou ter sido xingado de várias formas, como "vagabundo, marginal", além de ter ouvido um "vou mandar te prender, seu favelado".
Já no domingo de Páscoa, Max retornou à unidade policial e declarou que, após ter tentado "acalmar os ânimos" de Sandra — que teria agredido verbalmente uma outra entregadora —, levou "chicotadas": a professora teria tirado "a correia que estava presa ao cão e começou a agredir" o entregador.
À polícia, Max afirmou estar com "dores nas costas" e que desejava representar criminalmente mais uma vez contra Sandra, dessa vez "em face das lesões corporais". O entregador foi encaminhado à realização de um exame de corpo de delito.
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Max mora na Rocinha com a atual esposa, Jaqueline dos Santos Lopes, autônoma de 39 anos. Pai de três filhos, que moram com a ex-companheira no município de Queimados, na Baixada Fluminense, ele nem sabe como contará para os filhos sobre tudo que aconteceu. Max é o homem no vídeo publicado nas redes sociais em que Sandra aparece agredindo como uma coleira de cachorro.
— Complicado uma criança assistir um vídeo desses, é bem pesado. Acredito que a mãe deles não tenha deixado eles verem, mas que fique de exemplo: com certeza eles levam para vida deles, aprendem a não abaixar a cabeça para ninguém — desabafa Max, que diz que foi ameaçado pela professora, que disse ser parente de agentes da polícia.
O entregador exerce a função há um ano e meio, após perder o emprego de porteiro, no próprio bairro de São Conrado. Na última terça-feira, conta ter sido a primeira vez em que foi alvo de ataques durante o expediente.
— Quando voltei (de uma entrega) às 22h30, na terça-feira, ela tava parada com o cachorro, passei perto dela. Quando fui guardar as coisas na bag, ela veio na minha direção e começou: “você tem que me respeitar. Você tirou um fino de mim”, sendo que eu nem tinha encostado nela. Aí começaram as agressões verbais. Me chamou de marginal, preto, favelado, me mandou tomar em tudo quanto é lugar. Falei: “a senhora acha que tem que ficar sapateando em cima dos outros por causa disso” — relata Max, que, depois da discussão, disse que teve o local de trabalho invadido pela professora e, no dia seguinte, registrou uma ocorrência na 15ª DP. No domingo, o episódio se repetiu:
— Uma menina (Viviane) perguntou porque ela tem tanto ódio da gente, e aí começou a discussão delas. Foi quando ela começou a falar diversas palavras ofensivas, ameaçou a menina, avançou, agarrou a menina, puxou pelas pernas, mordeu. Ela ainda ficou correndo aqui, falou que ia matar a menina. Quando voltou, já voltou me agredindo. Soltou o cachorro e me agrediu. Te juro, nem acreditei, para mim ela ia pegar o cachorro e ir embora. Nunca me passou pela cabeça que ia me agredir com a coleira e me dar chicotada nas costas.
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