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Por Geraldo Ribeiro — Rio de Janeiro

A figura feminina sempre teve um papel de destaque na construção da história da Portela. Foi no quintal de Esther Maria de Jesus, a dona Esther, que muitos dos primeiros portelenses tiveram contato com o samba ao lado de nomes já consagradas da música popular brasileira. Em 1938, foi a primeira escola a permitir a presença de mulheres na bateria, através da pioneira Dagmar. A porta-bandeira Dodô e Tia Vicentina são personagens lendárias. No centenário da Portela, comemorado nesta terça-feira, mulheres que ainda continuam ajudando a construir essa história, como Tia Surica, Vilma Nascimento e Nilce Fran, destacam a importância do protagonismo feminino na azul e branco de Oswaldo Cruz e Madureira. Não por acaso, escolheu para o ano que vem o enredo “Um defeito de cor”, baseado no livro da escritora Ana Maria Gonçalves, que conta a história de Luisa Mahim, a mãe de Luis Gama.

— A Portela sempre teve essa coisa matriarcal muito forte, a começar por dona Esther. Teve também Nega Pelé, Tia Doca, Tia Vicentina, Tia Surica, Tia Eunice, Dodó, Vilma Nascimento e muitos outros nomes. É uma escola que sempre teve a presença feminina muito viva — aponta Nilce Fran, de 57 anos, diretora e coreógrafa da Ala dos Impossíveis, que é uma ala fixa da escola. — A Portela é uma escola matriarcal, de colo. Ali é onde eu faço as festas de aniversário das crianças e as resenhas de domingo. Essa coisa de mulher e de mãe é muito cultuado na escola.

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Filha de Wanderley Francisco da Silva, um grande nome da escola, amigo próximo dos fundadores da azul e branca, Nilce conta que seu carrinho de bebê ficava estacionado na quadra da agremiação, ao lado do palanque, onde hoje está localizada a sala de troféus. Debutou na Avenida aos 10 anos, em 1976, quando a escola desfilou com o enredo “O homem do Pacoval”. Renato Sorriso, o gari que hoje encanta o público da Sapucaí no intervalo dos desfiles, foi seu primeiro mestre-sala. Nunca mais parou. Virou passista. Conheceu mais de 20 países por causa do carnaval, e hoje mantém o projeto “Samba pra sempre”, destinado à formação de novos passistas.

O centenário da escola será comemorado nesta terça-feira com duas missas, uma pela manhã, no Cristo Redentor, e outra no fim da tarde, na quadra da escola, onde na mesma noite haverá um show da Velha Guarda. Os festejos continuam no fim de semana e serão encerrados no domingo com um desfile comemorativo, com comunidade e segmentos da agremiação na Estrada do Portela.

Tia Surica se orgulha de nunca ter desfilado em outra escola do Grupo Especial — Foto: Hermes de Paula
Tia Surica se orgulha de nunca ter desfilado em outra escola do Grupo Especial — Foto: Hermes de Paula

Pastora da Velha Guarda, Tia Surica, de 82 anos, diz que a escola sempre teve tradição de valorizar figuras femininas, como Tia Vicentina, que preparava feijoadas memoráveis e foi imortalizada no samba de Paulinho da Viola “Pagode do Vavá”.

— A mulher é muito importante na história das Portela e sempre teve papel de destaque na escola — afirma a matriarca, que é portelense “desde criancinha” e se orgulha de nunca ter desfilado em outra escola.

Vilma Nascimento fez história como porta-bandeira da Portela — Foto: Roberto Moreyra
Vilma Nascimento fez história como porta-bandeira da Portela — Foto: Roberto Moreyra

Vilma Nascimento, de 84 anos, fez história como porta-bandeira da escola a partir de 1957. A "Cisne da Passarela", como ficou conhecida pela graciosidade de seu bailado, foi casada por quase 50 anos com Mazinho, filho do lendário Natalino José do Nascimento, o Natal da Portela. Foi o patriarca quem a levou para a escola, a qual orgulha de ter ajudado a ganhar importantes campeonatos com as notas 10 que ganhou em seu quesito. Foram quatro títulos, de 1957 a 1960. Também é detentora de quatro troféus Estandarte de Ouro, sendo três pela azul e branco (1977, 1978 e 1979) e um pela Tradição (1989). Continua desfilando, agora como destaque. Sua filha Danielle e a bisneta Clarice deram seguimento à sua linhagem.

— Muitas mulheres contribuíram para que a Portela chegasse a esse centenário. Inclusive eu, que ajudei a escola a conquistar vários campeonatos com as minhas notas dez — orgulha-se a lendária porta-bandeira, que começou na União de Vaz Lobo e foi levada para a azul e branco por Natal.

A presidente da Ala das Baianas, Jane Araújo, de 57 anos, integra uma família que está na quinta geração de mulheres portelenses. A relação com escola foi iniciada por sua avó Hermínia Belchior. Sua mãe, Hilma, aos oito anos encantou o velho Natal e se tornou a primeira passista da escola. O amor à azul e branco passou de mãe para filha ainda na infância. Agora, filha e netas de Jane seguem o mesmo caminho.

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— As mulheres sempre tiveram presença forte na Portela. Ai dos homens se não fossemos nós. A própria história da escola começa com uma mulher — diz, referindo-se à Dona Esther.

A Portela, que no ano do centenário ficou em décimo lugar no carnaval, aposta num enredo forte em 2024 para dar a volta por cima. Maior campeã carioca, é detentora de 22 títulos, o primeiro conquistado em 1935, e o último, em 2017.

Desenvolvido pelos carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga, e baseado na obra homônima da autora Ana Maria Gonçalves, o enredo do ano que vem traz uma outra perspectiva da história, refazendo os caminhos imaginados por Luisa Mahim. Antônio Gonzaga, um dos carnavalescos, disse, por ocasião da divulgação do tema, tratar-se de um projeto dedicado a todas as mães, além de ser uma forma de demonstração de afeto e gratidão por sua chegada à escola, ao lado de André Rodrigues.

— Existe uma falta de conhecimento em geral sobre o protagonismo feminino nas escolas de samba, na construção da identidade cultural dessas agremiações. Mas não necessariamente só na parte matriarcal, das mulheres que cederam os espaços, que fizeram comidas e quitutes. Existe uma série de mulheres que fizeram parte dessa construção de maneira efetiva, seja versando ou batucando — defende o carnavalesco André Rodrigues. — Elas construíram também essa intelectualidade nas escolas de samba tanto quanto os homens. Mas muitas vezes são apagadas ou esquecidas. Isso é também um fator importante para que a gente não coloque essas mulheres só no papel maternal, mas de participação efetiva na construção da intelectualidade da escola de samba.

O carnavalesco explica que o viés escolhido para contar a história de Luisa Mahim é pelo ponto de vista da compreensão de seu filho, o advogado abolicionista Luis Gama, sobre a importância de sua jornada e saga.

— É a história de uma mãe, heroína, filha de África, que pariu a liberdade dessa nação. É uma honra imensa contar essa história e imaginar esse reencontro de Luísa com Luís Gama. Essa história fala de todos nós. É a nossa identidade construída no tempo — frisou Gonzaga, por ocasião do anúncio do enredo.

Confira a programação de aniversário:

  • 11/04 (terça-feira): 8h – Missa no Cristo Redentor para convidados e autoridades
  • 11/04 (terça-feira): 18h - Missa no Portelão
  • 11/04 (terça-feira): 20h – Shows com Velha Guarda da Portela e Grupo-Show da escola, na Praça Paulo da Portela, em frente à Portelinha
  • 15/04 (sábado) 18h: Velha Guarda Show da Portela e convidados especiais
  • 16/04 (domingo): 18h – Desfile comemorativo do centenário da escola, com comunidade e segmentos cantando sambas históricos da Majestade do Samba, na Estrada do Portela. Concentração: Praça Paulo da Portela

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