A professora de vôlei, nutricionista e ex-atleta Sandra Mathias Correia de Sá, investigada por injúria após ter agredido verbal e fisicamente o entregador Max Angelo Alves do Santos, não terá a renovação da licença da escolinha de vôlei que possui na Praia do Leblon. A Secretaria Municipal de Esportes explica que a autorização para a atividade nas areias do posto 12 venceu em dezembro de 2022 e estava em processo de renovação. Após a agressão a entregadores, a prefeitura não concederá a renovação até que todos os fatos sejam esclarecidos pela Justiça.
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Mais cedo, a Secretaria municipal de Ordem Pública informara que a licença estava se mantém ativa por ela não ter cometido nenhum ilícito no exercício da função em sua escolinha. Os comerciantes que dividem a areia com Sandra contam que o convívio não é dos mais fáceis.
Com aulas marcadas sempre no início da manhã, Sandra ocupa três redes da Praia do Leblon, na altura da Rua General Venâncio Flores. Enquanto um vendedor ambulante se limitou a dizer que a professora “é respeitada” nas areias do Posto 12, um barraqueiro que está há 30 anos instalado no local lembra de um episódio marcante.
— No carnaval, tinha que ver o que ela fez: tem uma galera que vem para vender as coisas e estava dormindo (na areia) logo cedo. Ela (Sandra) ligou a mangueira e jogou água em todo mundo, dizendo que “aqui não é albergue, nem favela” — conta o barraqueiro. Segundo ele, Sandra e seus alunos não compareceram ao Leblon para as aulas de vôlei nesta terça-feira. Ao assistir o vídeo em que Sandra agride o entregador Max dos Santos, ele se indigna: — Não pode acontecer, no século XXI. Que coisa é essa de dar chibatada? A escravidão já acabou!
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Com as aulas marcadas sempre no início da manhã, Sandra tem a escolinha "há quase 10 anos", lembra outra barraqueira:
— Ela é bem antiga aqui e, aparentemente, é uma pessoa bacana. Mas, de perto, destrata todo mundo — diz.
A Secretaria de Ordem Pública confirmou que a professora tem licença ativa para sua escolinha, mas que irá acompanhar as investigações. O órgão informou que a princípio ela não cometeu nenhum ilícito durante o exercício de sua função ligada à licença e, por isso, não cabe nenhuma medida administrativa contra ela.
O Conselho Regional de Nutricionistas (CRN4) divulgou nota de repúdio e se posicionou "de forma veemente contra os atos que envolvem a nutricionista Sandra Mathias Correia de Sá". O conselho informou ainda que "irá instaurar processo administrativo para apuração dos fatos e adoção das medidas cabíveis".
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Presente de Páscoa
Enquanto falava com a imprensa e tentava fazer as primeiras entregas do dia, Max dos Santos recebeu uma sacola de presente de uma vizinha de Sandra, moradora de São Conrado. Segundo Jaqueline dos Santos Lopes, esposa de Max, dentro da bolsa havia uma colomba pascal (tipo de pão ou bolo doce comumente comercializado na época da Páscoa). Além desse gesto, o entregador recebeu a solidariedade e os cumprimentos de pessoas que passavam por ele— de carro, moto ou a pé — e o reconheciam pelas ruas de São Conrado.
O caso do morador da Rocinha é acompanhado pela Comissão Especial de Combate ao Racismo, da Câmara Municipal do Rio, presidida pela vereadora Monica Cunha (Psol). A parlamentar — que marcou um encontro na próxima quinta-feira com Max e a também entregadora Viviane Maria Souza, que disse ter sido mordida pela professora — informa que fez uma representação junto ao Ministério Público para a apuração de eventual ato de racismo na conduta da Sandra Mathias.
Nas redes sociais, as atletas de vôlei de praia Maria Clara Salgado e Carol Solberg — filhas da multicampeã Isabel Salgado — publicaram textos com críticas à postura da ex-atleta e solidariedade aos entregadores agredidos.
— Toda minha solidariedade aos entregadores que foram violentados e atacados pela Sandra Mathias. Racismo é CRIME! Vergonha de ver mais uma ex-atleta cometendo um crime nojento e covarde demais. Nessas horas, penso ainda mais na importância de atletas se posicionarem e usarem suas vozes e plataformas. Da urgência de entendermos que o esporte JAMAIS deveria ou poderia andar distante da política. Que enfiemos todo o ódio gerado pelo último presidente e todos esses, que ao longo dos últimos quatro anos, se alimentaram dos discursos dele, que se sentiram no direito de fazer o mesmo, propagando raiva e violência, ao lugar que merecem: a cadeia — escreveu Maria Clara.
O tom foi parecido com o adotado por sua irmã.
— É tanta covardia que a gente vê. Me gera tanta revolta. Fica impossível evitar compartilhar esses casos. Essa mulher é ex-jogadora de vôlei, tem uma escolinha para crianças e adolescentes no Leblon e é a racista e agressora dos entregadores que vimos ontem. Uma mulher como essa não deveria poder transmitir nenhum tipo de ensinamentos a outra pessoa, muito menos a uma criança. Cada vez mais eu tenho certeza da importância de usarmos o esporte para falar muito além do que acontece em campo. Sigo firme que essa também é nossa obrigação. É isso que transforma a sociedade. O esporte e os ensinamentos positivos de dentro e fora das quadras. Combater o racismo é um compromisso de qualquer pessoa. Principalmente de nós, brancos. Racismo mata, de várias formas. — postou Carol Solberg.
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