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Por e — Rio de Janeiro

Há seis anos a estudante Thayane Teshima, de 26 anos, toma remédios diariamente para conter os sintomas de náusea, fadiga, espasmos musculares e inchaços no corpo. Em novembro de 2017, ela foi diagnosticada com insuficiência renal crônica. A notícia caiu como uma bomba para a jovem, que não tinha condições de pagar por um tratamento particular.

Os primeiros exames foram feitos no Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, onde permaneceu 51 dias internada. Sem avanço no tratamento, foi transferida no ano seguinte para o Hospital Federal de Bonsucesso — onde se trata até hoje — com a promessa de que a unidade teria estrutura para cuidar do seu caso, o que não vem acontecendo.

À espera de cirurgia

No mesmo período, sua mãe, Daniele Menezes Moreira, recebeu diagnóstico semelhante e faz hemodiálise. Elas aguardam na fila do SUS para procedimentos cirúrgicos de alta complexidade há mais de um ano. A estudante, por um transplante de rim, já que seu caso é mais grave. A mãe, para retirada de pedras na vesícula.

— Eu também tenho lúpus — conta Thayane. —Quando fui diagnosticada com a doença, fui retirada da fila de espera. Alegaram que eu precisaria fazer o tratamento do lúpus antes de operar. O problema é que não fui reinserida no sistema. Minha mãe também está sofrendo. Precisamos de cirurgia e não temos ideia de quando seremos chamadas. Até lá, seguimos no tratamento paliativo, torcendo para estarmos vivas até chegar a nossa vez.

O drama de Thayane e Daniele não é caso isolado. Relatório elaborado por uma comissão técnica criada na atual gestão do Ministério da Saúde, fruto de vistorias nos seis hospitais federais do Rio, reforça o estado de calamidade na rede. Com andares inteiros fechados, incluindo setores como emergência pediátrica, unidade coronariana e CTI, os hospitais tinham, no fim do mês passado, 252 leitos fechados para atendimento de alta complexidade, segundo o censo hospitalar (de acordo com o relatório, já foram 500).

O documento, a que O GLOBO teve acesso com exclusividade após reunião da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa (Alerj) com representantes do Departamento Geral de Hospitais (do Ministério da Saúde), mostra que os piores cenários foram encontrados nos hospitais de Bonsucesso (HFB), do Andaraí (HFA) e dos Servidores do Estado (HFSE), que totalizam 27 setores fechados por falta de manutenção, obras ou devido a equipamentos deteriorados. O debate na Alerj ocorreu no dia 29 de março, quando parlamentares cobraram soluções para a rede federal.

O diagnóstico revela ainda que os seis hospitais não passam por obras e avaliações há pelo menos sete anos, e que a falta de gestão hospitalar é a principal causa do abandono. Outro agravante é a ausência de troca dos equipamentos deteriorados. Segundo o relatório, as administrações esperavam que eles quebrassem para solicitar a substituição.

O relatório sobre a precaridade dos hospitais

Hospital do Andaraí

O hospital, localizado na Zona Norte do Rio, está com obras do setor de emergência paradas há pelo menos cinco anos. A unidade coronariana não funciona. O décimo andar, onde ficava a antiga maternidade, está interditado por obras que não foram concluídas. Já a expansão do Centro de Tratamento de Queimados funciona de forma parcial, por conta das obras abandonadas.

Por falta de mão de obra e equipamentos, foram interditados oito leitos do Centro de Tratamento Intensivo (CTI) no oitavo andar, seis leitos de enfermaria, quatro leitos de recuperação pós-anestésica, três salas de pequenas cirurgias e a emergência pediátrica.

Para os próximos meses, duas inaugurações estão previstas no Hospital do Andaraí: a abertura do setor de oncologia e o primeiro centro de radioterapia da rede federal.

  • Hospital de Bonsucesso

A unidade, na Zona Norte do Rio, teve vários setores fechados, como ala de pós-operatório, diálise peritoneal, cardiologia — todos por falta de equipamento e pessoal —, além de quatro salas de cirurgia, 18 leitos leitos de enfermaria e 140 da expansão pediátrica.

Segundo o relatório, 80% dos equipamentos disponíveis (desfibrilador, oxímetro, estetoscópio, eletrocardiógrafo, maca hospitalar e mesa auxiliar, entre outros) estão obsoletos.

  • Hospital Cardoso Fontes

A situação de penúria se repete na unidade federal localizada em Jacarepaguá. O hospital fechou a expansão da cirurgia pediátrica e o espaço físico da antiga urologia, utilizado como enfermaria da clínica médica. O centro cirúrgico ambulatorial tem 44 leitos impedidos. Além disso, 18 leitos de enfermaria, três de pneumologia e o centro cirúrgico ambulatorial de pequenos procedimentos seguem interditados para atendimento.

  • Hospital de Ipanema

Na Zona Sul, o Hospital Federal de Ipanema está com dez leitos do setor de pós-operatório fechados. A unidade teve dez salas de atendimento, seis leitos de centro cirúrgico e três salas de cirurgia interditados.

  • Hospital da Lagoa

No hospital, localizado também na Zona Sul do Rio, não funcionam as unidades coronariana, de pós-operatório e a ala semi-intensiva do sétimo andar. Além disso, quatro salas de cirurgia e 34 leitos de enfermaria foram fechados por falta de equipamentos.

  • Hospital dos Servidores

Localizado na Zona Portuária, o Hospital dos Servidores, que atende pacientes de todo o estado, apresenta situação ainda mais grave. A unidade não está realizando exames de cateterismo por falta de equipamento. Quatro leitos do Centro de Tratamento Intensivo (CTI) no 11° andar, 76 leitos de enfermaria, 15 leitos de cirurgia geral e seis salas de cirurgia geral estão fechados por falta de mesa cirúrgica, macas e equipamentos básicos.

Dois leitos da unidade coronariana, três de otorrino, quatro de urologia, quatro de pediatria, além das alas de neurocirurgia, bucomaxilo e cirurgia, não estão funcionando por falta de médicos especializados e equipamentos específicos, aponta o relatório.

Equipamentos obsoletos

No Hospital de Bonsucesso, 80% dos equipamentos estão obsoletos. A unidade é a que mais tinha leitos impedidos na época das visitas: 140 (no fim de março eram 120, segundo o censo hospitalar). Recentemente, oito leitos de clínica médica e seis da unidade coronariana foram reabertos.

Durante a vistoria em Bonsucesso, técnicos encontraram as alas de pós-operatório, diálise peritoneal e cardiologia fechadas, além de 18 leitos de pediatria impedidos e quatro salas de cirurgia interditadas. Atualmente, o hospital está funcionando com 15 leitos de pediatria, todos ocupados.

Segundo o censo hospitalar, as UTIs para atendimento de alta complexidade também funcionam com baixa capacidade. Dos 171 leitos oferecidos na rede federal do Rio, 88 estão impedidos — sem condições de uso por falta de equipamentos — e 64 desocupados (não há pessoal para ativá-los).erca de 8 mil pessoas estão na fila de espera por procedimentos cirúrgicos de alta complexidade em todo o estado, segundo afirmou na Alerj a superintendente de regulação da Secretaria estadual de Saúde (SES), Kitty Crawford. De acordo com ela, 900 pessoas entram por mês no Sistema de Regulação (Sisreg). No entanto, a oferta total de vagas pelo SUS é de 700. Ainda segundo a SES, seriam necessários mais 255 atendimentos por mês para não sobrecarregar o sistema.

De volta ao fim da fila

Teoricamente, segundo a SES, os pacientes que aguardam cirurgias já passaram pela regulação estadual, sendo cadastrados no sistema e encaminhados para algum hospital federal. A partir dessa primeira consulta, o paciente passa a ser um compromisso da unidade que o acolheu. Mas, pela falta de estrutura, ele acaba retornando ao fim da fila.

Outro ponto levantado nas discussões foi o remanejamento de profissionais entre as seis unidades federais. Hoje os hospitais não possuem um setor de recursos humanos, o que dificulta a contratação de médicos e enfermeiros para a rede, agravando os problemas de atendimento.

Em relação às ações que estão sendo tomadas, o Ministério da Saúde informou que no mês que vem o Hospital do Andaraí terá uma nova ala de oncologia. E que as obras do primeiro Centro de Radioterapia da rede federal estão em andamento na mesma unidade, com previsão de inauguração em setembro.

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