Rio
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Por Luiz Ernesto Magalhães e Roberta de Souza — Rio de Janeiro

Usada intensamente por estudantes universitários, profissionais de saúde e pacientes, a passarela de acesso entre a Linha Vermelha e o Hospital Clementino Fraga Filho, na Ilha do Fundão, está degradada por falhas na manutenção e pode sofrer “risco de ruptura” total.

Na mesma situação se encontram mais oito passarelas da Avenida Brasil e ao longo da Linha 2 do Metrô. A conclusão é de um relatório do Tribunal de Contas do Município (TCM), aprovado semana passada, que avaliou, por amostragem, as condições de conservação na Zona Norte — na linguagem técnica, viadutos, passarelas e pontes são chamados de “obras de artes especiais”. Os auditores, que estavam acompanhados por técnicos da prefeitura do Rio nas visitas, apontaram a necessidade de aprofundar a análise dos riscos e a recuperação das estruturas.

No relatório final, os técnicos apontaram que são falhos os programas de manutenção de responsabilidade da prefeitura. Eles observaram sinais de infiltração — no caso de estruturas de concreto — ou de corrosão — quando as construções eram em estruturas metálicas — em 28 das 41 inspecionadas (riscos alto e médio). Isso confirma que a manutenção é deficiente, segundo o TCM.

As visitas ocorreram em outubro do ano passado e o relatório foi concluído em novembro. Apesar da identificação de problemas graves, o tribunal levou quatro meses para discutir a matéria em plenário. Por nota, o TCM justificou a demora na aprovação do documento:

“A classificação como em “situação de risco potencial estrutural total ou parcial” não implica que estejam em perigo iminente de ruptura ou que irão colapsar, mas apenas que apresentam sinais compatíveis com esse risco e que determinam a necessidade imediata de uma avaliação mais detalhada dessas condições por pessoal especializado”.

Medo e insegurança

O motorista Ediney Oliveira, de 47 anos, esteve no hospital do Fundão na última quinta-feira e contou que não se sente seguro atravessando a passarela, que definiu como “precária”.

— Falta manutenção para conservar a estrutura. Tem época que ela fica com vários buracos no piso e ninguém aparece para arrumar. Está abandonada, no quesito físico e de segurança — relata o motorista.

Emerson de Melo, de 29 anos, é morador da Penha, bairro da Zona Norte, e sente na pele a insegurança da travessia. Por precaução, ele prefere percorrer uma distância maior até outra passarela do que atravessar a Avenida Brasil pela passarela 15, que fica mais próximo de sua casa.

— Tem cerca de um mês que decidi não passar mais nessa passarela. A última vez que passei, ela balançou tanto que me deixou com medo. Além disso, a estrutura toda enferrujada não passa segurança nenhuma — conta Melo.

A maior parte dos viadutos e passarelas foi construída nos anos 1970, mas há construções e instalações mais antigas. Entre os pontos com alto risco estrutural (mas sem risco de desabamento) encontra-se um viaduto que liga a Ilha do Fundão à Avenida Brasil. Concluído em 1968, ele nunca teve reparos nas estruturas de sustentação da pista, segundo o relatório.

Relator do documento de inspeção, o conselheiro David Carlos Pereira Neto determinou à prefeitura a criação, em até 90 dias, de um programa de fiscalizações anuais e vistorias minuciosas a cada cinco anos.

“O Município tem o dever de zelar pelo seu patrimônio e estão envolvidos potenciais riscos para os transeuntes e veículos, situação que, na hipótese de ocorrência de acidente, pode acarretar a responsabilização dos agentes públicos que tenham incorrido em omissão’’, escreveu David Carlos em seu voto.

— Recuperar viadutos e passarelas sai mais caro do que mantê-los. Uma possível solução seria a prefeitura criar um programa específico para preservação dessas estruturas, com recursos carimbados, ou seja, com uso exclusivo para esse fim— explica o engenheiro especializado em corrosão de estruturas e professor aposentado da Coppe UFRJ Eduardo Batista de Miranda.

A pensionista Cleusa Rangel, de 62 anos, diz que a passarela 25 da Avenida Brasil, na altura de Irajá, representa um risco para os pedestres, especialmente os idosos que não têm onde se apoiar. Com a ferrugem dominando toda a estrutura, eles ficam impossibilitados de utilizar o corrimão.

— Corremos risco aqui diariamente. Além da estrutura precária, a ferrugem é tanta que não conseguimos nem segurar no corrimão com risco de machucar a mão. Para pessoas idosas é ainda mais perigoso, já que ficamos mais vulneráveis com a idade — desabafa Cleusa.

A história da cidade mostra que esse é um problema recorrente. Em 2012, ainda na Coppe, Eduardo Batista de Miranda comandou uma equipe que apontou a necessidade de reforço estrutural para o Elevado do Joá, para evitar riscos de a estrutura desabar. Logo depois, uma série de intervenções, que duraram quase dois anos, foram realizadas.

Em 2018, um especialista acompanhou o GLOBO em uma reportagem sobre a conservação da cidade. Na época, foram feitas inspeções visuais em 18 estruturas. Dessas, 72,2% apresentavam alguma falha na manutenção. A partir de então, o TCM criou um programa que faz inspeções periódicas nas chamadas obras de arte na cidade do Rio.

— É o mesmo problema de sempre. A decisão de onde investir sempre é política. Uma passarela ou viaduto não chega a esses níveis de degradação de um dia para outro— critica o engenheiro e consultor de perícias judiciais Salvador José Bailuni, que acompanhou a equipe.

Infiltrações em viaduto

Na Zona Norte do Rio, região escolhida para a inspeção do Tribunal de Contas do Município, há 296 passarelas, viadutos e pontes, e a amostragem foi em 14% do total —preferencialmente entre aqueles que não passaram por vistorias ou obras recentes.

Em um viaduto de acesso à Avenida Rio de Janeiro, principal eixo de ligação com o Aeroporto Internacional do Rio, na Ilha, os técnicos identificaram, entre outras falhas, danos provocados por fogo ateado aos pilares. Além disso, havia mato crescendo, sinal da presença de infiltrações que podem acelerar a corrosão de estruturas metálicas.

O TCM informou que engenheiros da Coordenadoria Geral de Projetos (CGP) e da Secretaria Municipal de Infraestrutura (SMI) acompanharam as visitas para se informar sobre o estado das estruturas. Procurada na quarta-feira, no entanto, a Secretaria municipal de Infraestrutura informou que só teve acesso ao relatório naquele mesmo dia e preferia estudá-lo antes de se manifestar.

Confira abaixo a lista das passarelas e dos viadutos que tiveram problemas apontados pelo TCM

Alto Risco com possibilidade de desabamento

1 - Passarela 15 da Avenida Brasil (Penha) — Vários pontos de infiltração, principalmente nas vigas de apoio. Um dos pilares está trincado e parte do revestimento em aço se rompeu, inclusive nas escadas de acesso. A passarela também está parcialmente torta, o que pode indicar desgaste das estruturas de apoio. Tal desaprumo pode induzir esforços torcionais aos quais a estrutura não foi dimensionada para suportar’’. l

2 - Passarela 25 da Avenida Brasil (Irajá) — Vários pontos de infiltração e corrosão ao longo de toda a passarela. Partes das estruturas em aço estão muito deterioradas inclusive nas escadas. ’Foi possível verificar que um dos pilares centrais de sustentação está comprometido, com parte de sua seção transversal reduzida por quebra do concreto’’. .

3 - Passarela de pedestres em frente ao Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (Fundão) — O concreto se rompeu deixado exposta a armadura metálica em praticamente todos os pilares da estrutura, Foram detectados diversos pontos de corrosão na estrutura metálica da passarela, além de ausência de guarda-corpo em alguns pontos ‘’colocando em risco a vida dos pedestres’, segundo o TCM.

4 - Passarela sobre via férrea - Ligando as Ruas Leopoldina Rêgo e Vassalo Caruso (Ramos) — Foram identificados pilares com grau avançado de deterioração do concreto e exposição da armadura de ferro. Também foi detectada ‘’oxidação do guarda-corpo na passarela, com destaque para trincas que podem ocasionar desplacamento de concreto, além de pontos de drenagem deficientes.’’

5 - Passarela sobre via férrea - Ligando as Ruas Leopoldina Rêgo e Ibiapina (Penha) — As grades de proteção foram substituídas por materiais improvisados. Boa parte da estrutura está corroída. Foram encontradas trincas de grande porte em alguns pilares H[a risco de ‘’desplacamento1 (queda) de concreto na base do guarda-corpo em alguns pontos da passarela.

6 - Passarela sobre via metroviária (L2) e Avenida Pastor Martin Luther King Jr. em frente à Rua Marlk Sutton (Inhaúma) — Oxidação no guarda-corpo, rachadura no piso e desplacamento de parte da base de concreto do guarda-corpo. Observou-se segregação

7 - Passarela sobre via metroviária (L2) e Avenida Pastor Martin Luther King Jr em frente à Travessa Buquira (Tomás Coelho) — Várias estruturas metálicas estão corroídas inclusive a base de apoio entre o pilar e a pista.

8 - Passarela Nº 07 sobre via metroviária (L2) e Avenida Pastor Marthin Luther King — Diversos pilares da passarela estão corroídos e há sinal de infiltração. Sinais de oxidação e infiltração foram detectados na estrutura metálica da passarela, bem como no guarda-corpo

9 - Passarela na Avenida Brigadeiro Trompowski, nº 52 (Caju) — Elevado grau de degradação nos degraus da escada de acesso da passarela, com diversos deles apresentando desplacamento de concreto.

Alto risco

1-Viaduto Engenheiro Edno Machado (acesso à Avenida Brigadeiro Trompowski) — Inaugurado em 1968, nunca substituiu as estruturas de apoio que sustentam a pista, formada por chapas de aço e um tipo de borracha chamada elastômetro. ‘’Tais pontos expõem a armadura à corrosão, acelerando significativamente a sua deterioração, além de permitir que pedaços de concreto soltos venham a cair sobre veículos’’.

2- Passarela 13 da Avenida Brasil (Ramos) — A estrutura tem vários pontos de infiltração e de queda de concreto junto às rampas de acesso e os pontos de apoio das vigas metálicas. ‘’O crescimento de vegetação denota a deficiência na manutenção e expõem os aparelhos de apoio a uma maior degradação. Os pilares também apresentam elevado grau de deterioração

3— Passarela 30-A da Avenida Brasil (Guadalupe) — O concreto se rompeu em vários pontos, deixando estruturas metálicas expostas. Por isso, há ‘’possibilidade de queda de pedaços sobre os transeuntes, motivo pelo qual a estrutura foi enquadrada como alto grau de deterioração’’.

4 — Passarela 31 da Avenida Brasil (Guadalupe) — Pontos de corrosão na estrutura metálica, principalmente nos degraus de acesso à passarela. ‘’Há sinais de corrosão acentuada dos elementos metálicos que constituem o sistema de apoio sobre os pilares de concreto armado, inclusive com indícios de infiltração.

5 - Passarela nº 20 sobre a Av. Brasil ((Parada de Lucas) — A estrutura metálica tem diversos pontos de corrosão por toda sua extensão, em particular na parte inferior

6 - Passarela nº 33 sobre a Av. Brasil (Guadalupe) — Diversos pontos de corrosão na estrutura metálica, inclusive vigas e degraus das escadas de acesso, bem como das próprias chapas metálicas do piso.

Médio risco estrutural (materiais podem se desprender)

1 a 4 - Quatro viadutos sobre a via férrea e as Ruas Bulhões Marcial e Lyrio Maurício da Fonseca (Parada de Lucas)

5 - Viaduto de acesso a Coelho Neto

6- Deodoro - Passarela 34 da Avenida Brasil

7 -Passarela 35 da Avenida Brasil (Camboatá)

8 - Viaduto sobre a Estrada do Camboatá com Avenida Brasil

9 - Passarela da linha férrea sobre as ruas Leopoldina Rêgo e Vassalo Caruso—(Olaria) - Pilares em grau avançado de deterioração do concreto e exposição dos revestimentos metálicos.

10 - Passarela sobre via férrea - Ligando as Ruas Uranos e Rua Dona Isabel

11-Viaduto Castro Alves - Sobre via férrea, Avenida Amaro Cavalcante e Rua Arquias Cordeiro (Méier)

12- Viaduto Washington Luís (Viaduto de Cascadura)

13 -Passarela sobre a Rua Carolina Machado - Acesso á estação ferroviária - Adjacente ao Viaduto Prefeito Negrão de Lima (Madureira)

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