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Por Luiz Ernesto Magalhães — Rio de Janeiro

Mais do que uma casa de espetáculos, o novo Canecão, previsto para abrir as portas na Praia Vermelha em 2025, será uma espécie de tributo ao espaço original, que marcou gerações com shows dos principais nomes da MPB e da música internacional entre 1967 e 2010 (quando fechou as portas). Os empresários Luiz Oscar Niemeyer e Kleber Leite, que venceram a concorrência organizada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para recriar o espaço, pretendem fazer uma “caça ao tesouro’’ em busca de imagens em vídeo, fotos e objetos para compor uma espécie de museu temático. O plano é que o novo espaço funcione ao longo de todo o ano, mesmo quando não tiver shows, como atração turística e restaurante.

Novo Canecão terá espaço para reverenciar memória da antiga casa de espetáculos

Novo Canecão terá espaço para reverenciar memória da antiga casa de espetáculos

— O Canecão tem toda uma memória afetiva e uma atmosfera que queremos recuperar — diz Niemeyer.

Kleber acrescenta que detalhes da nova casa serão discutidos com os arquitetos que vão desenvolver o projeto, que ainda serão escolhidos. Isso porque o desenho que serviu de referência para a licitação foi conceitual.

— O local não será apenas dedicado a shows. Ir ao novo Canecão será uma experiência sensorial. Pode ser que parte da decoração remeta ao espaço original. O turista e o carioca poderão visitá-lo para almoçar, tomar café — afirma Kleber.

Tesouro guardado

Nessa inspiradora viagem ao passado, os empresários deverão ter menos dificuldade do que imaginam. O arquivo fotográfico de 43 anos da casa, entre outros documentos, como cópias de contratos com artistas e papelada da contabilidade, está guardado há 13 anos a menos de cinco quilômetros do campus da Praia Vermelha, no Instituto Ricardo Cravo Albin, na Urca. No material, há ainda alguns CDs gravados no Canecão nos dez últimos anos da casa de espetáculo.

O acervo é rico em detalhes. Há fotos de 1967, quando o espaço foi inaugurado, inicialmente como uma cervejaria. Em outro flagrante, dos anos 1970, um jovem Chico Buarque de Holanda “rege’’ a orquestra de Isaac Karabtchevsky enquanto o maestro observa ao fundo. Não faltam registros de Bibi Ferreira (1922-2019), que foi a primeira e a última artista a se apresentar no palco original. Há ainda cópias de fotos autografadas da cantora portuguesa Amália Rodrigues (1920-1999), que em temporadas no Rio só exibia seus talentos para o fado no Canecão. Em slides, também é possível ver a performance do astro americano James Brown (1933-2006) em uma temporada de 1973.

O tesouro eclético guardado por Cravo Albin reúne flagrantes de montagens diversas, como espetáculos de circo, o musical “My Fair Lady” e as bailarinas francesas do Moulin Rouge, que faziam topless. Na época, o prédio da casa de shows foi “envelopado’’ para se parecer com a casa parisiense. Seios nus também aparecem em fotos de bailes de carnaval.

— O Canecão ia fechar e Mário Priolli (fundador da casa, que morreu em 2018) me procurou perguntando se eu ficaria com o acervo, que estava num depósito, e que, por falta de recursos, não podia manter. Ou incorporava ao Instituto ou corria o risco de tudo ir para o lixo. Literalmente, trouxe todo o material nas costas —conta Ricardo Albin. —Esse acervo é a história de um dos maiores espaços da cultura do país. Todas as grandes estrelas e os eventos com temporada no país passaram pelo Canecão.

A experiência de mergulhar na história de espaços culturais tradicionais é comum em equipamentos culturais em todo o mundo. Em Nova York, por exemplo, é possível fazer um tour completo pelos bastidores e camarins do Madison Square Garden, arena multiuso para shows e competições esportivas contemporânea do velho Canecão (1968).

Testemunhas da história

Para ajudar no resgate da história, ainda podem ser ouvidos alguns ex-funcionários que atuaram na casa em 1967. É o caso de Arthur Priolli, primo de Mário, que trabalhou como produtor desde a abertura da casa:

— Tem muita história. A mais curiosa é que o Canecão deveria ter sido a maior pista de boliche da América do Sul. Por isso, o prédio nem tinha pilastras. Mas, quando ficou pronto, a moda do boliche tinha passado. A opção foi abrir uma cervejaria alemã, uma febre da época.

Arthur lembra que o Canecão abriu antes da construção de vizinhos como o condomínio da Rua Lauro Mulller, de 1972, e o Shopping Rio Sul, aberto em 1980.

Segundo ele, liberdades dadas por Priolli às atrações da casa seriam inconcebíveis nos dias de hoje:

— Para grandes temporadas, como as de Roberto Carlos, o Canecão chegava a ficar fechado por três meses para ensaios .

Ele lembra também de curiosidades sobre o perfeccionismo de vários artistas:

— Tim Maia era rigoroso. Eu gravava em fita cassete os ensaios porque Tim vivia reclamando da qualidade do som. Só se convencia quando reproduzia a fita para ele — lembra. — Em uma temporada, o palco precisou de um novo revestimento porque o Roberto Carlos reclamava que o som vibrava, prejudicando sua performance. Resolvi na véspera da estreia redirecionando as caixas de som para a barriga dele.

A grande decepção ficou por conta de João Gilberto. Em 1979, depois de meses de ensaio, o pai da bossa nova cancelou a apresentação reclamando da acústica.

Ex-integrante da primeira formação do quarteto residente que tocava bossa nova no Canecão (1967), o percussionista Robertinho Silva, de 82 anos, espera que o projeto vingue:

— As novas gerações merecem um espaço assim. Trabalhei dois anos na banda e tenho esperanças de voltar a tocar lá.

Outro que lembra com carinho de sua passagem pelo velho Canecão é Elymar Santos que, com mais de 120 apresentações, diz ter sido o artista que mais subiu ao palco da casa. Elymar, que começou cantando na noite, literalmente pagou para ver. Ganhou fama e notoriedade em 1985 ao alugar e lotar o espaço:

— Quando o Canecão fechou eu estava lá, acompanhando o show da Bibi Ferreira. Tinha uma magia que, só de lembrar dele, dá um frio na barriga. Se for convidado, claro que vou querer cantar na nova casa— disse.

Elymar lembra que, em 2015, quando fez 30 anos da sua primeira apresentação, pediu à reitoria da UFRJ para realizar uma missa em Ação de Graças no espaço desativado, mas não havia condições porque o espaço estava muito deteriorado: a missa aconteceu do lado de fora.

A volta da casa

A contagem regressiva para a volta do Canecão, que será erguido num ponto diferente da Praia Vermelha, próximo ao endereço original da casa de shows, foi dada em 16 de março, quando a UFRJ homologou o resultado da concorrência. Em contrapartida pela exploração do novo Canecão por 30 anos, Kleber e Luiz Oscar Niemeyer terão também que construir cerca de 70 salas de aula, um restaurante universitário, sala para exposições científicas e um parque público. O painel de Ziraldo que decorava o velho Canecão será restaurado com apoio dos alunos da Escola de Belas Artes da UFRJ.

— Nós estamos reunindo a documentação para criar a empresa que vai administrar o Canecão. A próxima etapa será assinar o contrato de concessão. Ainda não definimos qualquer atração — informa Luiz Niemeyer.

O investimento total será de R$ 184,3 milhões, incluindo a manutenção da área e a construção dos novos prédios para a UFRJ.

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