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Por Vittoria Alves — Rio de Janeiro

Eram 19h30 daquele domingo, 31 de maio de 2009, quando o voo 447 da Air France decolou do Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio, com destino ao Aeroporto Charles de Gaulles, em Paris, na França. Dentro do Airbus A330-203, havia 228 pessoas: 126 homens, 82 mulheres, sete crianças e um bebê, além de 12 tripulantes. Cerca de quatro horas depois, a aeronave caiu no mar, a 820km do arquipélago de Fernando de Noronha.

Às 23h14m28, após uma conjunção de fatores que incluem tempo adverso, falha em equipamento e decisões equivocadas, o voo AF 447 caiu no meio do oceano Atlântico. Ninguém sobreviveu. Aquele era o terceiro acidente aéreo grave que abalava o país em três anos, após as tragédias da Gol, em 2006, com 154 mortos, e da TAM, em 2007, com 199 vítimas.

No voo 447, os pilotos decidiram encarar uma tempestade que outros aviões que faziam a mesma rota desviaram, próximo da linha do equador. Os tubos de pitot — que ficam na dianteira do avião e medem a velocidade da aeronave de acordo com o vento que passa por seus sensores — congelaram e acarretaram perda das informações de velocidade, fazendo com que o piloto automático desligasse.

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No modo manual, um dos pilotos resolveu erguer o nariz do avião. A aeronave perdeu sustentação e velocidade até que, quatro minutos depois, caiu no meio do oceano. Num primeiro julgamento, a Justiça não identificou culpa da Air France ou da AirBus na tragédia. Posteriormente, a Procuradoria-Geral fez uma denúncia afirmando que a Air France não forneceu treinamento adequado à tripulação e a Airbus não atuou de maneira suficiente para corrigir as falhas.

O acidente mudou práticas no treinamento dos pilotos e na certificação de aeronaves. Na época, por exemplo, não havia capacitação dos profissionais para situações de perda de controle das aeronaves em altas altitudes, em voo de cruzeiro, apenas em pousos e decolagens, o que foi implementado depois.

— O automatismo exagerado pode, sim, acabar resultando em uma complexidade excessiva e redução da segurança. Naquele tempo, os pilotos praticamente passaram a acompanhar os voos automáticos no lugar de pilotarem os aviões. Com isso, principalmente os profissionais mais novos, têm dificuldade quando precisam pilotar. Porém, isso acontece justamente nas grandes emergências, quando o próprio computador da aeronave reconhece a dificuldade de gerenciamento e transfere o controle para os pilotos — afirma Gerardo Portela, especialista em gerenciamento de risco.

Depois da tragédia, em junho de 2009, todos os tubos de pitot foram substituídos. Os equipamentos foram trocados por uma versão que utiliza tecnologia capaz de fazer com que eles resistam às altas temperaturas. Dentre as outras mudanças adotadas, estão: aumento do tempo que o localizador das caixas pretas emite o sinal, implementação de planos de salvamento e resgate entre Brasil e Senegal, transmissão simultânea da geolocalização do avião e obrigatoriedade de CPDLC (Controller Pilot Data Link Communications) — tecnologia de comunicação aeronáutica que permite o envio de mensagens de texto pré-formatadas — sobre o Oceano Atlântico.

Para Gerardo Portela, apesar da decisão da Justiça francesa, que absolveu a Air France e a Airbus nessa segunda-feira, as empresas têm responsabilidade no acidente. O especialista compara o caso do voo 447 ao incidente vivido pelo piloto Sully em 15 de janeiro de 2009. Ele pilotava o voo 1549 da US Airways, que teve seus dois motores avariados pouco depois de decolar de Nova York, após se chocar com um pássaro. No entanto, Sully conseguiu pousar em segurança no rio Hudson, e todos os 155 passageiros e tripulantes a bordo sobreviveram.

— No caso do Rio Hudison, em New York, o piloto Sully sobreviveu com todos os passageiros e pôde se defender e provar que foram fatores de engenharia que o induziram ao erro. Já no caso do Air France 447, todos morreram, e os pilotos não têm como se defender e mostrar as evidências de que fatores do avião e da gestão de treinamento, responsabilidade da Airbus e Air France, os prejudicaram. Afinal, eles não queriam morrer e lutaram até o fim para tentar salvar todos naquele voo — defende Portela.

Imprudência ou negligência

A Justiça francesa absolveu, nesta segunda-feira, a Air France e a Airbus pelo acidente com o voo 447. A companhia aérea e a fabricante da aeronave enfrentavam a acusação de homicídio culposo, quando não há intenção de matar.

Quase 14 anos depois da tragédia, o tribunal considerou que, apesar de cometerem "falhas", não se "pôde demostrar (...) nenhuma relação de causalidade segura" com o acidente. Foram nove semanas de audiências, encerradas em 7 de dezembro do ano passado. O tribunal adiou a questão da avaliação dos danos e prejuízos para uma audiência em 4 de setembro.

Para a Justiça francesa, a Airbus cometeu "quatro imprudências ou negligências", em particular por não ter substituído os modelos de sondas pitot chamadas "AA", que pareciam congelar com maior frequência, nos aviões A330 e A340, e por "reter informações".

A Air France cometeu “imprudência culposa”, relacionada com os métodos de distribuição de uma nota informativa dirigida aos seus pilotos sobre a falha das sondas.

Na esfera criminal, no entanto, segundo o tribunal, "uma relação de causalidade provável não é suficiente para tipificar um crime. Neste caso, como se trata de falhas, não foi possível demonstrar nenhum nexo de causalidade com o acidente".

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