Ao longo de cinco anos, X. economizou R$ 10 mil como mecânico e montador de aparelhagens de som para comprar um carro. O veículo seria usado nas entregas das encomendas. Viu um anúncio de um Pálio, já usado, nas redes sociais, ligou para o suposto proprietário e foi ao seu encontro. Era uma cilada. Em vez da suposta proprietária do carro, ele encontrou cinco homens que renderam ele e a mulher. De pronto, um dos bandidos ordenou: "Se não der dinheiro, a gente vai estuprar tua mulher".
Apesar de o encontro ter sido marcado numa movimentada rua de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, o casal foi levado para um beco e obrigado a entrar no carro dos bandidos. O caso aconteceu no dia 4 de agosto do ano passado, mas a cena continua na memória das vítimas. Nesta quarta-feira, quando 28 das 54 pessoas acusadas de integrar a organização criminosa pela prática de extorsão mediante sequestro foram presas numa operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio (MPRJ), X. contou que irá dormir mais tranquilo.
— Pensei que fôssemos morrer. Quando eles me empurraram para o carro deles com a minha mulher, me senti sufocado. Os bandidos batiam na gente. Aí, um deles disse: "Se não der dinheiro, a gente vai estuprar tua mulher. Todo mundo aqui vai pegar ela". Foi o pior momento! Não tinha como não obedecer. Eram cinco contra nós dois, ainda armados — conta a vítima.
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X. relata ainda que outro momento tenso foi quando levaram sua mulher para fazer os saques nos caixas eletrônicos. Segundo ele, embora tenha feito transferências por Pix, eles queriam mais e mais dinheiro.
— Conseguiram até desbloquear um empréstimo consignado de R$ 1 mil. Eu nunca tinha conseguido isso. Eles sabiam o que estavam fazendo, sabiam como conseguir as coisas. Com o meu celular nas mãos, tinham acesso a todos os aplicativos de banco. Aí pediam senhas e ameaçavam o tempo todo. Foi tortura psicológica e física — detalha X.
Segundo a vítima, eles ligaram para a cunhada e o irmão dele. Este último, achou que era o golpe do falso sequestro.
O delegado da 58ª DP (Posse), José Mário Salomão de Omena, responsável pela investigação da organização criminosa que atraía compradores de veículos para extorquir dinheiro, contou que vítimas eram submetidas a uma "grande pressão psicológica".
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