Quem se habilitar a comprar a cobertura do edifício Tucumã, anunciada como a maior do país, na Praia do Flamengo 284, Zona Sul do Rio, tem que preparar o bolso para uma despesa extra: a dívida acumulada de IPTU do imóvel desde 2019. Consulta a informações sobre o pagamento do imposto, disponíveis no site da prefeitura, mostra que a fatia de 2.551 metros quadrados do triplex — o imóvel teria 3.900 m2, como publicado na internet por uma corretora — tem débitos de R$ 674.896,11 inscritos na Dívida Ativa da Procuradoria-Geral do Município (PGM). Mas há ainda, em cobrança administrativa, R$ 121.567,59, do carnê de 2022, e R$ 66.092,49 até junho deste ano, já vencidos e não pagos, com incidência de juros e correção. Uma soma que ultrapassa R$ 862 mil.
Os dados constam da Certidão de Situação Fiscal e Enfitêutica (conjunta da Secretaria municipal de Fazenda e da PGM), emitida na segunda-feira, do apartamento 702 do Tucumã, em nome viúva do empresário José Carlos Fragoso Pires, que comprou a cobertura da família Guinle na década de 1990. É da mesma proprietária, Ângela Maria Silvares, o apartamento 801, com 414 metros quadrados, que tem não tem débito de IPTU.
Maior cobertura do Brasil tem queda no preço e é anunciada a R$ 59 milhões
Mesmo em relação aos valores inscritos em Dívida Ativa, a cobrança ainda é amigável. A certidão informa ainda que existem processos, possivelmente questionando os valores fixados, mas não fornece o número deles. Fala em "exigibilidade suspensa", significando que, embora a dívida exista, sua cobrança está suspensa,
Procurada pelo GLOBO, a proprietária disse desconhecer a dívida de IPTU de sua cobertura.
— O pagamento de IPTU não fica sob minha responsabilidade. Não sou eu que pago — afirma ela, acrescentando que quer vender a cobertura por ser grande demais para ela.
Também procurado, o enteado de Ângela, José Carlos Fragoso Pires Filho, não foi encontrado. Segundo a proprietária da cobertura, ele daria explicações sobre o débito de IPTU do imóvel. Na noite desta terça-feira, o advogado Luiz Felipe Conde afirmou que a dívida é uma questão de cunho pessoal, que diz respeito à intimidade da família.
Os valores devidos de IPTU da cobertura não são nada salgados se considerarmos o preço de venda do apartamento, com vista deslumbrante para a Baía de Guanabara e o Aterro. Em 2021, o imóvel estava sendo oferecido por R$ 65 milhões. Como não houve interessados, está sendo dado abatimento de R$ 6 milhões. Agora, a cobertura pode ser adquirida por R$ 59 milhões.
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Dados do lançamento do carnê de IPTU de 2023 revelam que o chamado valor venal (sobre o qual incidem os fatores para o cálculo do imposto) da cobertura é de R$ 9,86 milhões. O IPTU calculado para o atual exercício é de R$ 98.692.
Em fase de registro no Guiness Book, o livro de recordes, a generosa cobertura tem pé-direito de 5,20 metros e muita história. Com elevador e 12 vagas de garagem privativa, lá aconteceram frequentes festas black-tie, onde foram recebidas celebridades nacionais e estrangeiras. Tem cinco quartos, amplas salas de jantar, de estar e de jogos, além de piscina, duas saunas, jardim suspenso com árvores frutíferas, bar e adega. Os andares do apartamento são interligados por uma escada em forma de caracol, de mármore trazido da Europa, assim como o revestimento travertino (um tipo de mármore) das colunas na portaria do edifício.
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Para a corretora Adriana Socci Barbosa, da ASB Soluções Imobiliárias — imobiliária digital, que trabalha com imóveis de alto padrão — mesmo com o desconto de R$ 6 milhões, o preço pedido pela cobertura gigante está fora do preço de mercado. Ela projeta o valor de R$ 31,6 milhões para o apartamento, levando em conta o valor do metro quadrado para a Praia do Flamengo.
— A cobertura teria que ser na Praia do Leblon ou de Ipanema para valer R$ 59 milhões — diz ela.
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