Em delação à Polícia Federal, o ex-PM Élcio Queiroz esmiuçou os passos que ele e o ex-Bope Ronnie Lessa deram na noite da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018. A parlamentar começou a ser monitorada meses antes do assassinato e houve outras tentativas frustradas na mesma região do Estácio — bairro mapeado por Lessa como ideal para cometer o crime. Abaixo, a dinâmica.
RÉVEILLON DE 2017 PARA 2018
Élcio passa o Réveillon com sua a família e a de Ronnie no Vivendas da Barra, onde o atirador morava. Ronnie confidencia que estava chateado pois estava num trabalho há algum tempo com o Maxwell, o Suel, e Macalé. Desabafa que tentou matar o alvo no Estácio que estava num táxi. Ao tentar emparelhar com o carro, o veículo deu problema. Mas o atirador achou que Maxwell ficou com medo.
MONITORAMENTO DE MARIELLE FRANCO
Foi feito durante meses. Ronnie tinha mapeado que a região do Estácio era “mais propício” para cometer o crime. A vigilância foi feita "buscando uma janela de oportunidade". Segundo Élcio, o grupo estava sempre preparado e "a pronto emprego".
DIA DO ASSASSINATO EM 14 DE MARÇO DE 2018
Troca de carro na Barra
Meio-dia: Ronnie Lessa manda mensagem para Élcio Queiroz pelo aplicativo Confide, sistema de mensagem instantânea autodestrutiva: "Vai pra casa e eu vou te chamar no momento que for".
16h e pouco: Ronnie pede a Élcio para ir para o Vivendas da Barra, casa do atirador.
17h: Élcio chega em seu Logan Prata ao Vivendas da Barra. Lessa autorizou sua entrada. Eles trocam de carro e saem do condomínio numa Evoque com Ronnie ao volante. Lessa tinha posto uma bolsa de viagem dentro do carro e estava de calça.
1- Ida do Vivendas da Barra até a balsa: Seguem para a balsa de travessia da Avenida das Américas onde estava parado o Cobalt prata. Ronnie pede a Élcio para desligar o celular. Élcio desliga o aparelho, põe no módulo avião e coloca no console do Evoque. Os dois descem do carro.
2- Saída da balsa em direção ao Alto da Boa Vista: Élcio assume a direção do Cobalt com Ronnie no banco do carona. Ronnie pede a Élcio para ir em direção ao Centro. Élcio e Ronnie pegam a Avenida Lúcio Costa.
- Preso em operação: saiba quem é Maxwell Simões, o Suel, preso durante operação do MP e da PF
Trajeto até o Centro e revelação sobre o alvo
1- Saída da Barra pela Itanhangá: No caminho, Élcio indaga quem é o alvo. Ronnie responde que era a vereadora, disse o nome de Marielle Franco e foi orientando-o sobre a ação. Seguiram pelo Itanhangá e subiram o Alto da Boa Vista e foram em direção à Praça Saens Peña.
2- Alto da Boa Vista, Tijuca e a Casa das Pretas, no Centro: Élcio alerta que o local da ação seria ao lado do antigo Instituto de Criminalística Carlos Éboli. Segundo Élcio, Ronnie já sabia do local. Élcio descobre que seria na Casa das Pretas, na Rua do Inválidos.
Na frente da Casa das Pretas
1- Élcio e Ronnie vêm da Tijuca: Passam pela Rua da Relação e não encontram vaga.
2- Volta para encontrar vaga: Os dois dão uma volta para conseguir estacionar. Pensam que estão atrasados por já estar escurecendo, já eram 19h. Ronnie revela preocupação com a possibilidade de ter perdido o evento. Élcio tem dificuldade em parar em um ponto da Rua dos Inválidos com poucas câmeras e encontra um vaga.
Param o carro, e Ronnie abaixa o banco, deixando-o totalmente na horizontal. Com a ajuda de Élcio, Ronnie passa para o banco de trás. O carro fica desligado e totalmente fechado.
Ronnie se prepara para atirar no alvo: Ele coloca o casaco, tira a metralhadora MP5 (gráfico abaixo) da bolsa e coloca um silenciador. Depois pega um binóculo.
Quando Marielle aparece, Ronnie diz: “tô pensando em pegar aqui mesmo”. Referindo-se a matar a vereadora na Rua dos Inválidos. Élcio adverte para as câmeras no local. Ronnie responde que não vai fazer nenhuma loucura.
Anderson, motorista de Marielle, está em pé olhando o celular. Marielle se despede de uma senhora e entra no carro. Segundo Élcio, Ronnie usa o celular para ver onde há operação da Polícia em razão da fuga após o crime.
A execução
Quando Marielle entra no carro, Élcio pergunta: "E agora, é essa senhora?". Ele acha que Ronnie iria abortar a missão. Ronnie responde: "É ela", ao reconhecer Marielle.
O carro, um Agile, sai com Marielle, Anderson e a assessora. Ronnie sabia quem eram as pessoas com a vereadora.
1- Perseguição: Ronnie e Élcio vão atrás do carro com Marielle no Cobalt. No trajeto, um carro preto, com rodas e vidros pretos, emparelha com o Cobalt. Élcio e Ronnie pensaram que poderia ser um carro da polícia disfarçado. Élcio acha que haveria confronto. O suposto carro de policiais para no Largo do Estácio e os ocupantes descem. O carro de Marielle se distancia, mas Ronnie diz para Élcio "ficar tranquilo".
2- Execução: Ronnie diz: "É agora e emparelha... Emparelha, no caso, a minha janela, emparelha a minha janela com a de trás do lado direito. Ronnie já estava de touca de ninja.
O Agile de Marielle para e aguarda para virar da Rua Joaquim Palhares para a Avenida Paulo de Frontim. Élcio emparrelha o Cobalt com a janela do motorista com a janela do carona.
A janela de trás com Ronnie está abaixada e ele ouve a rajada da metralhadora. As cápsulas vazias caem sobre a cabeça e pescoço de Élcio. No momento seguinte Ronnie diz: “Vão bora”.
A fuga
Na fuga, Ronnie troca o carregador da metralhadora, tira o carregador vazio, põe um cheio e tira o silenciador. Diz a ele que, caso alguém venha, Élcio deveria fazer barulho. Rastejando, ele passa para a frente do carro. Durante a fuga, Ronnie tira o casaco.
1- Fuga em direção a Avenida Brasil: Ronnie pede para fuga ser pela Rua Vinte e Quatro de Maio. Élcio retruca e pede para ir pela Avenida Brasil por medo de operação policial na via. Ronnie responde: “faz o teu caminho, aí”. Aconselha Élcio para ficar tranquilo.
2- Destino Méier: Seguem para a Avenida Brasil e pegam a Linha Amerela sentido Barra da Tijuca. No meio do trajeto, Ronnie pede para ir para a casa da mãe, no Méier. Descem na altura da Rua Borja Reis, param o carro próximo à 26ªDP, ao lado de uma casa de festas. Chegam entre 30 e 40 minutos, segundo Élcio, pelo pouco trânsito.
Ronnie chega ao conjunto habitacional que a mãe mora e interfona para o irmão, Denis. Pede para ele arrumar um táxi para irem para a Barra da Tijuca. Conversa com o irmão e diz que estava tudo bem. Em seguida, pede a Élcio para pegar uma bolsa no carro. Denis Lessa desce, diz que o táxi está vindo e sobe para guardar a bolsa que Élcio havia pegado.
Do Méier para a Barra da Tijuca
1- Pegam o carro de Élcio: De lá seguem com o táxi para a Barra da Tijuca pela Linha Amarela. O táxo segue para o ponto da balsa onde deixaram o Evoque, de Ronnie. O táxi para atrás do Evoque
2- Seguem para o Bar Resenha: Élcio pega o celular e liga. De lá, seguem para o Resenha, um bar na própria Barra da Tijuca. Lá arrumam vaga com um guardador de carro conhecido de Ronnie.
No bar Resenha
No resenha encontram Maxwell, esposa dele, um bombeiro de nome Assis e um outro bombeiro colega de farda de Assis. Maxwell se aproxima e diz qeu, ”eu sabia que vocês que fizeram isso". Referindo-se ao assassinato de Marielle.
Depois falam de operações que fizeram juntos quando os dois eram adidos. Um garçom se aproxima.
A notícia da morte passava em uma TV sem som e Élcio pergunta ao garçom o que estava havendo. O garçom reponde que morreram duas pessoas e Élcio lamenta e descobre que Anderson havia morrido também
A mulher de Maxwell vai embora num Mitsubishi sedan. Maxwell pede desculpas a Élcio por não ter conseguido matar a Marielle em 2017, na época o carro falhou. Élcio se embedada e chega a vomitar. Ronnie pergunta: “Qual foi Élcio”? Por Élcio ir atrás do carro vomitar.
A mulher de Maxwell volta, discuti com o bombeiro e os dois vão embora. Ronnie e Élcio vão em seguida para o Vivendas da Barra
Volta para o Vivendas
No condomínio Élcio foi pegar o carro dele e Ronnie diz: “Cara, tu tá duro?”. Élcio responde; "Tô... mas qual foi, o que é?. Ronnie fala: “vou te dar isso aqui cara, segura isso aqui...mas não é por causa disso não hein...não tem nada a ver com o crime não”,. E dá R$ 1mil para Élcio que liga para esposa e diz que vai para casa.
15 DE MARÇO DE 2018
Desfazendo do carro
De manhã: Ronnie e Maxwell vão a casa de Élcio. Ronnie troca mensagem pelo aplicativo Confide, para não ser rastreado.
Da casa de Élcio seguem para a rua da mãe de Ronnie buscar o Cobalt. De lá, seguem para a casa de Élcio com os dois carros. Param na garagem da casa de Élcio que fica nos fundos e tem na frente a casa da sua mãe que passava por obras. Élcio e Maxwell trocam as placas, da frente e de trás, do Cobalt, vasculharam e retiraram as cápsulas do interior. As placas foram obtidas por Maxwell.
Vão para a casa da mãe de Élcio que fica para picaram as duas placas retiradas do Cobalt, na sala. Usam a casa pela facilidade de terem as ferramentas, por causa da obra.
Ronnie, Élcio e Maxwell voltam para a casa dos pais de Ronnie nos dois carros. Param o Colbalt, numa rua atrás, próximo ao condomínio. Maxweel aplica no vidro traseiro do Cobalt um adesivo da maçã da Apple, para disfarçar. O Colbalt fica no local.
Seguem no Evoque de Ronnie em direção ao Engenho de Dentro, mas o destino é Rocha Miranda, casa da mãe de Maxwell. Em Piedade, na altura da antiga Universidade Gama Filha, se desfazendo das placas picadas e das cápsulas também picadas, jogando os restos pela janela.
Chegam na casa da mãe de Maxwell, em Rocha Miranda. Maxwell iria ficar na casa para conversar com o Edmílson, chamado de Orelha, que iria se desfazer do carro. Ronnie diz para Maxwell que o carro tinha de sumir, não poderia aparecer, não poderia vender peça.
Relembre caso Marielle Franco em imagens
16 DE MARÇO DE 2018
De manhã: Ronnie pega Élcio na casa do amigo, no Méier. Seguem para onde o Cobalt estava estacionado, também no Méier. Élcio e Ronnie seguem com os carros para Rocha Miranda, Élcio no Cobalt e Ronnie no Evoque. Élcio usa o Waze para ver o trânsito por estar preocupado com a possibilidade de haver alguma operação policial.
Chegam em Rocha Miranda e param os carros em uma praça próxima da Avenida do Italianos. Contactam orelha por mensagem que estava em uma padaria perto.
Orelha se aproxima, entra no carro de Ronnie. Segundo Élcio, Ronnie diz para o Orelha: “pô cara, isso aí é pra fazer um favor pra mim, porque esse carro tá saindo muito na mídia e não tem nada a ver comigo, é um carro parecido”. Justificando que o carro não tinha haver com o crime. No local entregam a chave para o orelha que foi daria o destino final ao carro.
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