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Por Jéssica Marques, O Globo — Rio de Janeiro

O jovem Wendel Eduardo de Almeida, de 17 anos, voltava de uma festa com os amigos no alto da comunidade do Dendê, na Ilha do Governador, na manhã deste sábado, quando foi surpreendido por uma viatura da Polícia Militar. Segundo o tio do adolescente, Manuelito Marlon, o rapaz costumava frequentar eventos na comunidade aos finais de semana. Ainda de acordo com parentes, Wendel teria pago um mototáxi para levá-lo até a residência da avó, que ficava a cerca de 50 metros do local da festa. No caminho, foi abordado por policiais militares que dispararam contra o adolescente e o mototáxi, que morreu no local.

— O Dendê não é uma comunidade violenta. Os meninos estavam numa festa no alto da comunidade. Ele pegou um mototáxi até a casa da avó dele. Quando os meninos desceram de moto, a polícia falou "perdeu", ele levantou a mão e ouviu os disparos. O tiro pegou na mão e no peito dele. Não tinha arma nenhuma. Meu sobrinho não estava armado. Minha família mora no morro há muito anos. Minha mãe tem 80 anos e sempre morou aqui na comunidade. Não é por isso que a polícia vai chegar aqui e dizer que a gente é bandido. Minha mãe está em estado de choque — afirmou o tio do jovem.

Wendel era o caçula de mais dois irmãos, de 28 e 21 anos. O adolescente completaria 18 anos na próxima segunda-feira. A família conta que os preparativos da festa já estavam em andamento, iriam fazer um grande churrasco em comemoração a data. No entanto, o sonho de ver o jovem alcançar a maior idade foi interrompido pela violência do estado.

— Ele ia fazer aniversário segunda-feira. Minha família comprou tudo para fazer a festa de aniversário. A gente ia fazer um churrasco na rua. Quem criou o Wendel foi minha mãe e minha irmã e eu como tio. Estamos arrasados a perda. A ficha ainda não caiu. Mataram meu sobrinho e por isso os moradores foram protestar. Ele era um inocente. A criança também era inocente. O erro da polícia matou dois inocentes. É uma covardia enquadrar um moleque de 17 anos e ainda dizer que ele é bandido — desabafou o tio.

A lembrança do jovem apaixonado por motos, torcedor do flamengo que adorava curtir com os amigos, ficará para sempre na mente dos familiares de Wendel. Revoltados com a morte precoce e violenta do adolescente, moradores da comunidade protestaram e a família clama por justiça.

— Wendel estudava e estava no primeiro ano do ensino. Eu trabalho com obra e toda vez que precisava de ajuda ele ia me ajudar. Gostava de trabalhar e de estar com os amigos. Ele pedia para eu levá-lo para o trabalho. Ele era flamenguista. Meu sentimento é de ódio. A polícia acha que todo mundo na comunidade é bandido.

Versões conflitantes

Em nota, a Polícia Militar informou que teria trocado tiros na Rua Paranapuã, no bairro Tauá, com dois jovens em uma moto. E afirmou ainda que com um deles havia uma pistola. Versão contestada pela família do adolescente. Após ser baleado, Wendel foi encaminhado para o Hospital Municipal Evandro Freire (HMEF), onde já chegou sem vida, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde.

Segundo o secretário da Polícia Militar, Luiz Henrique Pires, os agentes envolvidos na ação deste sábado serão afastados até que as investigações sejam concluídas. Em razão do ocorrido, populares iniciaram um protesto na Rua Paranapuã e fecharam a via de acesso ao Morro do Dendê. Um ônibus foi incendiado na Estrada da Cacuia, altura do número 1360. Uma equipe dos bombeiros foi enviada ao local.

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