Rio
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Por Luiz Ernesto Magalhães

Contar a história de um ícone da cidade que chega aos cem anos é muito mais que descrever se algo mudou na arquitetura ou na qualidade do atendimento do Hotel Copacabana Palace depois de tantas décadas. A história do hotel se mistura com acontecimentos importantes no país e no mundo. Fatos como a ditadura Vargas (1930-1945) e a Segunda Guerra Mundial, bem como mudanças na economia e no comportamento da sociedade produziram bons e tristes momentos em um dos cartões-postais do Rio. Confira abaixo:

Qualquer semelhança não é mera coincidência. O Copacabana Palace foi inspirado em dois hotéis franceses: o Carlton (à esquerda), em Cannes, que abriu em 1911; e o Negresco (à direita), em Nice, inaugurado em 1913.

Nos anos 1980, com o Golden Room arrendado por Ricardo Amaral, o salão abrigou as primeiras edições do concurso Baile das Panteras, cujas vencedoras ganhavam convites para posar para revistas masculinas. Em 1981, na primeira edição, venceu Xuxa Meneghel, em início de carreira como modelo.

Hoje, o Copa é declaradamente pet-friendly, mas nem sempre foi assim. Octávio Guinle vetou a presença de animais depois que os cães do rei destituído Carol II da Romênia destruíram todos os estofados e cortinas da suíte que ocupava na década de 1940. O veto só acabaria em 1997 para alojar o cão do então presidente americano Bill Clinton. O cachorro também era treinado para farejar explosivos.

Em um ‘’incidente diplomático’’, Mariazinha Guinle (foto) se recusou a receber no hotel o rei Juan Carlos e a rainha Sofia, em 1982. Por motivo de segurança, as autoridades espanholas queriam esvaziar o andar. Isso exigiria que a víúva também deixasse seu quarto, onde morava desde 1953. O casal só conseguiu se hospedar no local em 2000.

Em 1998, em uma temporada dos Rolling Stones no Brasil, Mick Jagger conheceu a modelo Luciana Gimenez em uma festa em Santa Teresa, e os dois teriam dividido uma suíte do Copa. Luciana engravidou e teve Lucas Jagger. Por isso, o cantor se separou da modelo Jerry Hall.

Em 1949, o hotel passou a contar também com o Teatro Copacabana. A primeira peça foi "A mulher do próximo", que marcou a estreia de Paulo Autran (foto) como ator profissional. Outros atores e atrizes iniciaram sua carreira também ali, entre os quais Tônia Carreiro (foto) e Fernanda Montenegro. Ainda em 1953, um incêndio provocou seu fechamento até 1955. Em 1994, o teatro fechou mais uma vez e só foi reaberto em 2021.

Se hoje o acesso à piscina do hotel é restrito, em 1942 a história era diferente. O hotel recebia crianças para aprender a nadar com uma atleta olímpica, no que era considerado a primeira escolinha do gênero no Brasil. Maria Lenk, a primeira brasileira a bater um recorde mundial de natação, manteve a escolinha por mais de 20 anos.

Janis Joplin (foto), que nadou nua na piscina do hotel em fevereiro de 1970, não foi a única celebridade a ser expulsa do Copacabana Palace. Em 1977, Mariazinha Guinle pôs para fora o britânico Rod Stewart e integrantes da banda. Os músicos jogaram futebol na suíte, deixando muita sujeira e um quadro quebrado. Em 1985, de volta à cidade para o Rock in Rio, Rod Stewart tentou ficar no hotel, mas a direção alegou que não havia vaga.

O hotel já foi cenário de intrigas políticas. A mais importante foi em 1955. O presidente interino Carlos Luz, que substituía Café Filho, licenciado com problemas cardíacos, tramava um golpe para impedir a posse de Juscelino Kubstcheck (foto). O deputado Víctor Issler, que morava no anexo, reuniu aliados e redigiu uma moção para declarar o impeachment de Luz, aprovada pelo Congresso Nacional em 24 horas.

O próprio Jô Soares (foto) morou no Copacabana Palace na infância, e tinha como passatempo assustar os hóspedes. Várias vezes subia no topo do anexo de 11 andares e ameaçava se jogar na piscina. E sempre recuava dizendo que havia sido a pedidos e remarcaria a façanha.

Em 1920, Octávio Guinle (1886-1968) começou a construir o Copacabana Palace. De uma das famílias mais ricas do país, ele atendeu a um pedido do presidente Epitácio Pessoa (1865-1942) que queria que a capital do país tivesse um hotel moderno para as comemorações do centenário da Independência (1922). Mármores e outros materiais vindos da Europa chegaram com atraso, entre outros imprevistos. O hotel só abriu 11 meses depois, em agosto de 1923.

Octávio Guinle durante entrevista no Copacabana Palace — Foto: Arquivo / Agência O Globo
Octávio Guinle durante entrevista no Copacabana Palace — Foto: Arquivo / Agência O Globo

Para bancar os custos da obra, Octávio Guinle pediu que o presidente Epitácio Pessoa liberasse os jogos de azar no país. Guinle foi atendido. Mas em 1924, o presidente Arthur Bernardes (1875-1955) proibiu a jogatina, Em 1934, os cassinos voltaram a ser permitidos.

O arquiteto francês Joseph Gire (1872-1933) foi o responsável por tirar o projeto do papel. Anos depois, ele construiria, no Centro do Rio, o edifício A Noite (1930), primeiro arranha-céu da América Latina.

Terceiro hotel mais antigo

É o terceiro hotel da cidade mais antigo em atividade. Os primeiros são: Riazor (antiga Pensão Schray) inaugurado em 1870 no Catete; e o Hotel Regina (Flamengo) de 1922. O Regina conseguiu o que o Copa tentou, mas não conseguiu. Foi aberto em 2 de setembro de 1922, a tempo das comemorações do centenário da Independência.

O baile de abertura do Copa foi marcado por uma confusão envolvendo a maior vedete francesa do início do século XX. Em temporada no Rio, Jeanne Bourgeois, conhecida como Mistinguetti (1875-1956) foi convidada a se apresentar como principal atração, mas não foi liberada pelos empresários. Octávio Guinle ofereceu reembolso do ingresso, mas ninguém quis.

Apesar de o baile de inauguração ter atraído a elite, o hotel iniciou suas operações com diárias no valor de menos de US$ 10 (cerca de R$ 50), com pensão completa e transporte gratuito até o Centro do Rio. Mesmo assim, atraía pouca gente. Nos dias considerados de maior sucesso, a média era de seis quartos ocupados. A estrutura era de 230 quartos e mil funcionários.

Primeiro baile de carnaval em 1924

Danuza Leão com Pelé e Xuxa no baile de carnaval do Copacabana Palace em 1981 — Foto: Alcyr Cavalcante/Agência O GLOBO
Danuza Leão com Pelé e Xuxa no baile de carnaval do Copacabana Palace em 1981 — Foto: Alcyr Cavalcante/Agência O GLOBO

Em fevereiro de 1924, foi realizado o primeiro baile de carnaval do Copacabana Palace, que contava também com um concorrido concurso de fantasias. A tradição, interrompida em 1973, só seria retomada a partir de 1993. Em 1964, uma das juradas do concurso foi a atriz francesa Brigitte Bardot.

O cientista Albert Einstein no Rio de Janeiro, em 1925 — Foto: Reprodução
O cientista Albert Einstein no Rio de Janeiro, em 1925 — Foto: Reprodução

Embora tenha ficado no Hotel Glória, a primeira celebridade internacional a visitar o Copacabana Palace foi o físico alemão Albert Einstein (1879-1955) em 1925 , para conhecer instituições científicas. Na época, já havia desenvolvido a Teoria da Relatividade (1915) e ganhado o prêmio Nobel de Física (1921). Em sua passagem no Rio, experimentou e gostou da cachaça e incluiu goiabada no café da manhã. Mas se recusou a comer feijoada já que não comia carne de porco.

Em 1928, Santos Dumont (1873-1942), em um estado de tristeza profunda, ficou quase um mês hospedado no hotel, praticamente sem sair do quarto. Um avião batizado com seu nome, uma espécie de comitê de boas-vindas, explodiu no ar quando sobrevoava o navio que o trazia ao Brasil. Dumont assistiu a tudo do convés e acompanhou o resgate dos corpos.

O então presidente Washington Luis (1869-1957) teve que ser submetido a uma cirurgia de emergência, por uma suposta apendicite, em 1928. A verdadeira história: ele havia sido baleado no abdômen por uma amante em um dos quartos. No episódio, sobrou para um funcionário da recepção, demitido porque permitiu a entrada da moça...

Outro incidente ''presidencial'' envolveu Benjamin Vargas (1897-1973), irmão mais novo de Getúlio Vargas, em 1944. Bejo costumava andar armado nas boates e cassinos. Durante uma discussão na boate Meia-Noite, atirou e acertou a perna de uma mulher. Foi condenado a cinco meses de prisão, mas recorreu seguidas vezes e nunca cumpriu pena.

Tragédia na passagem de Orson Welles

Uma tragédia marcou a passagem do cineasta americano Orson Welles (1915-1985) pelo hotel. No Brasil para produzir um filme simpático à ditadura Vargas, Welles queria incluir a saga de quatro jangadeiros cearenses que navegaram 4 mil quilômetros de barco até o Rio, para fazer reivindicações trabalhistas ao presidente. Durante as gravações, na Barra, um dos jangadeiros morreu afogado depois de uma manobra repentina da lancha que transportava os produtores. Welles não terminou o filme.

Welles também era conhecido no Copa Palace por suas extravagâncias. Em uma noite, jogou móveis pela janela do apartamento depois de brigar por telefone com a namorada mexicana Dolores del Rio (1904-1983), que ficara nos EUA. Um dia, houve falta d’água no hotel e ele acabou terminando o banho com garrafas de água mineral.

O cartaz do filme "Flying down do Rio" — Foto: Reprodução
O cartaz do filme "Flying down do Rio" — Foto: Reprodução

Em 1933, o Copacabana Palace aparece pela primeira vez em um filme de Hollywood: "Flying down to Rio", com Fred Astaire (1899—1987) e Ginger Rogers (1911-1995). Só que os salões em que dupla aparece dançando são fake. Todas as tomadas, inclusive do prédio, foram feitas em estúdio. E a praia que aparece nas imagens não era Copacabana, mas Malibu (Califórnia).

Em 1938, o Copa inaugurou o Golden Room, que hoje é usado para eventos. O salão foi uma das maiores casas de shows do país nas três décadas seguintes, apesar da capacidade reduzida para 400 pessoas. Passaram por lá nomes como: Maurice Chavalier (1888-1972), Ray Charles (1930-2004), Edith Piaf (1915-1963), Tony Bennett (1926-2023), Sammy Davies Júnior (1925-1990) e Nat King Cole (1919-1965). Na década de 1980, chegou a ser arrendado para eventos por Ricardo Amaral.

O músico Ray Charles em entrevista no Copacabana Palace em 16/09/963 — Foto: Arquivo / Agência O Globo
O músico Ray Charles em entrevista no Copacabana Palace em 16/09/963 — Foto: Arquivo / Agência O Globo

Tony Bennett, por sinal, fez em 1963, no Golden Room, um show para uma de suas menores plateias da história da casa noturna. Apenas 16 pessoas compareceram, contando o empresário do artista.

Um dos primeiros sucessos do teatro de revista do Golden Room foi ‘’Em busca da beleza’’ que marcou em 1943 a estreia nos palcos da gaúcha Maria Della Costa (1926-2015). Aos 17 anos, ela se apresentava com uma blusa transparente que deixava os seios visíveis. Apesar de ser menor, pôde contracenar com a vestimenta porque já era casada. O marido era o português Fernando de Barros, que dirigia o show.

Em 1943, o hotel inaugurou a Meia-Noite, considerada a primeira boate da cidade. A casa abria exatamente à meia-noite e, como o ambiente era fechado, não era possível saber se o dia já amanhecera sem dar uma olhada no relógio. Até os anos 1950, parte da programação da boate era transmitida ao vivo pela Rádio Nacional no programa Ritmos do Copacabana Palace, depois rebatizado de Ritmos da Panair.

A cantora Doris Monteiro, em 1956, quando foi eleita Rainha do Rádio — Foto: Arquivo
A cantora Doris Monteiro, em 1956, quando foi eleita Rainha do Rádio — Foto: Arquivo

Dezenas de artistas que fizeram sucesso a partir dos anos 1940 iniciaram carreira como crooners no Golden Room e na boate Meia-Noite. A lista inclui Marlene (1922-2014), Ivon Cury (1928-1995), Nora Ney (1922-2003) e Doris Monteiro (1934-2023).

Em passagem pelo Brasil para divulgar o filme "A condessa descalça", Ava Gardner (1922-1990) teve dificuldades de sair do aeroporto porque uma multidão invadiu a pista. Ela não gostou do Hotel Glória, onde ficaria hospedada e, segundo algumas versões, teria depredado uma suíte. Acabou no Copacabana Palace.

A atriz Ava Gardner na chegada ao Brasil em 07/09/1954 — Foto: Arquivo / Agência O Globo
A atriz Ava Gardner na chegada ao Brasil em 07/09/1954 — Foto: Arquivo / Agência O Globo

O jornalista Adolpho Cruz (1923-2010), que se hospedara no hotel, contou que Ava não quis sair com Anselmo Duarte (1920-2009), mas se interessou por Nelson Gonçalves (1919- 1998), que não correspondeu. No fim da noite, Ava teria convidado o cantor Carlos Augusto (1931-1968), crooner da boate Meia-Noite a ir até seu quarto. Segundo Cruz, Ava teria expulsado o cantor aos berros, jogando as roupas dele pela janela.

Em 1955, Norma Bengell (1935-2013) estrou como atriz aos 17 anos no Golden Room no musical Fantasia & Fantasias, em meio a uma batalha judicial no entorno dela para que estivesse em cena. Na época, uma lei proibia que menores de 21 anos participassem ou frequentassem espetáculos noturnos.

Ao longo dos anos, os astros que passaram pelo Copacabana Palace fizeram exigências curiosas. Em 1959, em uma apresentação no Golden Room, a atriz Marlene Dietrich (1901-1992) pediu um balde de gelo com areia pouco antes de subir ao palco. Motivo: precisava ter o balde a mão porque não teria tempo de chegar a um banheiro em caso de necessidade. Ela se atrapalhava com o vestido usado na produção.

As personalidades que se hospedam deixam sua assinatura no Livro de Ouro’. O primeiro volume é guardado num local conhecido por poucos funcionários. Entre elas, estão: a princesa Diana, Frank Sinatra, Nelson Mandela, Walt Disney, Catherine Zeta Jones e Santos Dumont. Algumas mensagens foram divulgadas pela imprensa. O escritor peruano Mario Vargas Llosa, por exemplo, deixou a frase: "Se estas paredes (tetos, cadeiras, camas) falassem, quantas coisas maravilhosas e terríveis contariam’.

Walt Disney na chegada ao Rio de Janeiro em 17/08/1941 — Foto: Arquivo / Agência O Globo
Walt Disney na chegada ao Rio de Janeiro em 17/08/1941 — Foto: Arquivo / Agência O Globo

Em 1941, Walt Disney (1901-1966) se instalou no Copa. Ali, teria nascido o personagem Zé Carioca, esboçado em um guardanapo de papel em uma história com muitas versões. Antes de optar por um papagaio, Disney teria pensado em desenhá-lo como um tatu-bola. Outra diz que a inspiração foi um desenho que o cartunista J.Carlos (1884-1950) presentou o americano. Nele, uma ave aparecia ao lado do Pato Donald. Há ainda uma história que Disney se inspirou na figura de Paulo da Portela (1901-1949), ao visitar a escola de Madureira.

Em 1946, os jogos de azar foram definitivamente proibidos no país por decreto do presidente Eurico Gaspar Dutra (1883-1974). A última aposta ocorreu às 23h de 30 de abril. Coube ao então diretor do cassino, José Caribé da Rocha, girar a roleta final. Emocionado, anunciou: ‘’‘Senhoras e senhores, façam suas apostas para a última rodada de roleta no Brasil!’’ No sorteio, deu ‘’preto 21’’, anunciou Caribé.

Em 1946, com garçons recrutados no Hotel Savoy, de Londres, o Copacabana Palace abriu seu primeiro restaurante. Foi o primeiro estabelecimento voltado à elite a servir feijoada com cachaça. Até o seu fechamento em 1993, ele era mais conhecido como Bife de Ouro’. O apelido foi dado pelo fundador dos Diários Associados, Assis Chateaubriand (1892-1968) que reclamava do preço dos pratos.

O cantor Charles Aznavour dá autógrafos no Copacabana Palace em 08/10/1959 — Foto: Arquivo / Agência O Globo
O cantor Charles Aznavour dá autógrafos no Copacabana Palace em 08/10/1959 — Foto: Arquivo / Agência O Globo

Foragido da Segunda Guerra Mundial, o judeu de nacionalidade alema Oscar Ornestein (1911-1990), ex-fotógrafo do Cassino da Urca, assumiu a direção do Golden Room, em 1946. Sob seu comando por mais de 20 anos , o salão recebeu as maiores atrações da época, incluindo Amália Rodrigues (1920-1999), Ellla Fitzgerald (1917-1996) e Charles Aznavour (1924-2018). Fora do Copa, participou da contratação de Frank Sinatra (1915-1998) para cantar no Maracanã em 1980.

Vinícius de Moraes e Tom Jobim — Foto: Reprodução
Vinícius de Moraes e Tom Jobim — Foto: Reprodução

Oscar Ornestein (1911-1990) também teve um papel fundamental na história da composição de "Garota de Ipanema" (1962), por Tom Jobim (1927-1994) e Vinicius de Moraes (1913-1980), uma das músicas brasileiras mais executadas de todos os tempos. Originalmente, a melodia havia sido encomendada por Oscar Ornestein para integrar a trilha sonora do musical "Dirigível", que jamais estreou.

O hotel teve papel também na história da criação da canção "Samba do avião". Tom Jobim a compôs para o filme italiano "Copacabana Palace" (1962). Ao contrário de "Flying back to Rio", foi filmado na cidade. Na trama, três histórias se misturam: assaltantes brasileiros tentam roubar as joias do cofre do Copa; aeromoças se hospedam no hotel para conhecer cantores; e um príncipe tenta confirmar que a esposa era infiel. João Gilberto e Tom Jobim estavam no elenco.

Incêndio destruiu teatro

Em 10 de agosto de 1953, um curto-circuito numa lâmpada causou um incêndio que destruiu o teatro, o Golden Room, a boate Meia-Noite, entre outras instalações. Os hidrantes estavam secos e, por isso, os bombeiros tiveram que usar água da piscina para controlar as chamas. Tudo só reabriu no fim de 1955.

A cantora Carmen Miranda em 1939 — Foto: Arquivo - Agência O Globo
A cantora Carmen Miranda em 1939 — Foto: Arquivo - Agência O Globo

De volta ao Brasil, em dezembro de 1954, depois de 14 anos atuando nos Estados Unidos e com problemas conjugais, Carmen Miranda (1909-1955) ficou quatro meses hospedada no Copa com diagnóstico de depressão, em sua última visita ao país. Retornou para Los Angeles onde morreria de um ataque cardíaco, em agosto de 1955.

Jô Soares (1938-2022) morou com os pais por quase uma década no Copa. Em considerava que o hotel teve um papel fundamental na carreira. Ele costumava contar piadas para os hóspedes, geralmente pessoas influentes. Com isso, seu nome começou a circular o meio artístico. ''Descobri que todos poderiam amar um home gordo'', contou o humorista em suas memórias.

Estátua para Ibrahim Sued

Jorge Guinle (à esquerda) e Ibrahim Sued em 12/04/1956 — Foto: Arquivo / Agência O Globo
Jorge Guinle (à esquerda) e Ibrahim Sued em 12/04/1956 — Foto: Arquivo / Agência O Globo

O Copacabana Palace era um dos locais prediletos do colunista social Ibrahim Sued (1924-1995) em suas peregrinações pela noite em busca de notas exclusivas. Ele foi um dos percursores do colunismo social que tratava de assuntos políticos e econômicos e não apenas de festas da alta sociedade. Ibrahim trabalhou no GLOBO entre 1954 e 1995. Em 2003, foi homenageado com uma estátua de bronze na Avenida Atlântica, em frente ao hotel.

A morte de Octávio Guinle, em 1968, colocou em evidência os gastos excessivos para manter a estrutura do hotel. A viúva Mariazinha Guinle (1911-1993) passou a tesoura sem dó. Demitiu metade dos 1,4 mil funcionários e fechou serviços considerados desnecessários, facilmente terceirizados. Na época, o Copacabana Palace tinha barbearia, estofadores e até um aviário.

O roqueiro Alice Cooper em 31/03/1974 — Foto: Marcio Arruda / Agência O Globo
O roqueiro Alice Cooper em 31/03/1974 — Foto: Marcio Arruda / Agência O Globo

Outro astro que aprontou por lá foi o roqueiro americano Alice Cooper, em sua primeira temporada pela América do Sul. Em 1974, após um show no Maracanãzinho, os músicos depredaram as quatro suítes que ocupavam. Muita coisa foi parar na piscina, que ficou interditada por dois dias.

Papel importante na queima de fogos da virada do ano

O hotel também teve papel importante na iniciativa de promover queima de fogos réveillon, que hoje reúne milhões de pessoas na praia de Copacabana. Um ano após o antigo hotel Le Méridien organizar uma cascata de fogos na fachada, no réveillon de 1981 fez o primeiro show pirotécnico ainda na areia. Nos anos seguintes, o espetáculo ganhou corpo, com adesões de outros hotéis. Após graves acidentes, a queima de fogos passou para balsas no mar no réveillon de 2001.

O cantor Jon Bon Jovi em 2002 no Rio — Foto: Camilla Maia / Agência O Globo
O cantor Jon Bon Jovi em 2002 no Rio — Foto: Camilla Maia / Agência O Globo

Quem também não conseguiu se hospedar no hotel foi o cantor americano Jon Bon Jovi, em 2002. A direção considerou absurda uma exigência de Bon Jovi de que nenhum funcionário tentasse falar com ele.

Mesmo com os cortes feitos por Mariazinha Guinle, o hotel enfrentava problemas financeiros a ponto de se pensar em simplesmente derrubá-lo. Em 1973, os filhos da matriarca chegaram a encomendar um projeto que previa a construção de três prédios. O assunto voltou a ser tratado em 1980 quando o arquiteto Paulo Casé (1931-2018) sugeriu a construção de cinco prédios . A novela terminaria com o tombamento do hotel pelo Iphan em 1986.

Venda do hotel nos anos 1989

Em 1989, Mariazinha Guinle cedeu à pressão dos filhos e finalmente vendeu o hotel por US$ 23 milhões a James Blair Sherwood (1933-2020), da rede Orient Express, posteriormente Belmond. A transação demorou três anos porque a matriarca resistia a fechar o negócio.

Em 1994, foi inaugurado o restaurante Cipriani, especializado em comida italiana. A casa, que tem uma estrela no Guia Michelin, substituiu o antigo Bife de Ouro.

Cena de "Você já foi à Bahia?", com Zé Carioca — Foto: Reprodução
Cena de "Você já foi à Bahia?", com Zé Carioca — Foto: Reprodução

Jorginho Guinle (1916-2004) tinha fama de conquistador. Afirma ter namorado ou ficado com Marilyn Monroe (1926-1962), Rita Hayworth (1918-1987) e Jayne Mansfield (1933-1967). Também contava ter salvado Walt Disney (1901-1966) de um erro grotesco no lançamento do personagem Zé Carioca no filme "Você já foi à Bahia?" (1944). Percebeu, na pós-produção, que o Pão de Açúcar havia sido identificado como a Cordilheira dos Andes.

Já sob o comando dos novos proprietários, o cantor canadense Justin Bieber entrou para a lista das celebridades expulsas do Copa, em 2013. Além de quebrar objetos do hotel, o astro tentou entrar no quarto com garotas de programa. Depois de ter a estadia recusada no Fasano, acabou alugando uma mansão em São Conrado.

Policiais do Batalhão de Choque na frente do Copacabana Palace durante casamento da família de Jacob Barata em 14/07/2013 — Foto: Hudson Pontes / Agência O Globo
Policiais do Batalhão de Choque na frente do Copacabana Palace durante casamento da família de Jacob Barata em 14/07/2013 — Foto: Hudson Pontes / Agência O Globo

O hotel não escapou de protagonizar um incidente durante os protestos de 2013. Em 13 de julho, manifestantes foram para a porta do hotel onde era celebrada a festa de casamento para mais de mil convidados de uma filha de Jacob Barata Filho, maior empresário de ônibus do Rio. Eles bateram panelas e hostilizaram os convidados. Em resposta, pessoas que estavam no Copa jogaram aviões de dinheiro e até um cinzeiro. O episódio ficou conhecido como ''O casamento da dona Baratinha''.

'Nome é patrimônio da cidade'

Em 2014, rede que controla o hotel mudou o nome para Belmond Copacabana Palace, causando polêmica. O empresário Omar Catito Peres chegou a entrar na Justiça para tentar impedir a mudança, alegando que o nome original era um patrimônio da cidade. Catito só conseguiu impedir a alteração do letreiro original.

O Copa ganhou um restaurante asiático em 2014. O Mee (uma estrela no Guia Michelin) só aceita 12 clientes por noite para o menu degustação, a partir de R$ 415 por pessoa.

Novos ombrelones e espreguiçadeira à beira da piscina do Copacabana Palace — Foto: Custodio Coimbra / Agência O Globo
Novos ombrelones e espreguiçadeira à beira da piscina do Copacabana Palace — Foto: Custodio Coimbra / Agência O Globo

A última grande reforma da piscina da pérgula ocorreu em 2017. Na reformulação, o espaço ganhou borda infinita entre outras melhorias, inclusive novas espreguiçadeiras, substituídas agora para o centenário. O paisagismo no entorno foi reformulado pelo escritório de Roberto Burle Max. As intervenções custaram R$ 2 milhões.

Venda para grupo de luxo

No fim de 2018, a rede Belmond foi vendida para o grupo francês LVMH Moët Hennessy, que controla marcas de alto luxo, como Louis Vuitton, Veuve Clicquot, Moët & Chandon e Fendi, em uma transação de US$ 3,2 bilhões. É o atual controlador do Copa.

O cantor Jorge Ben Jor — Foto: Leo Aversa / Agência O Globo
O cantor Jorge Ben Jor — Foto: Leo Aversa / Agência O Globo

Em abril de 2020, o Copacabana Palace fechou as portas pela primeira vez, por causa da pandemia da Covid-19. Durante 132 dias, apenas duas pessoas ocuparam suítes no hotel. O cantor Jorge Ben Jor, que havia se mudado para reformar a casa anos antes e jamais deixou o local; e a então diretora-geral Andréa Natal, que deixaria o cargo no fim daquele ano.

Em 14 de maio de 2021, ainda em meio às restrições impostas pela pandemia, o bicheiro Adilson Oliveira Coutinho, o Adilsinho, comemorou seu aniversário reunindo 500 convidados nos salões do Copa. Entre os que apareceram estavam: Gusttavo Lima, Alexandre Pires e Mumuzinho. A prefeitura multou o hotel em R$ 15,4 mil por desrespeitar a proibição de aglomerações.

Adilson Coutinho Oliveira Filho, o bicheiro Adilsinho — Foto: Reprodução
Adilson Coutinho Oliveira Filho, o bicheiro Adilsinho — Foto: Reprodução

Início das celebrações no réveillon

No réveillon 2023, começaram as comemorações do centenário do hotel com o tema ‘‘White and gold’’, uma homenagem ao hábito do brasileiro de se vestir de branco. Já o tema do baile de carnaval foi Túnel do tempo, numa referência a história do hotel. A fachada também foi restaurada para a pintura ser a mais próxima possível de 1923.

Em 2023 hotel ganhou também nova iluminação e a galeria de celebridades com fotos de pessoas que se hospedaram foi ampliada, as personalidades identificadas por QR Code e mudou de ligar. E a festa prossegue com várias agendas até o próximo dia 26 quando o DJ Alok vai tocar em um palco em forma de pirâmide na praia. O público esperado é de 1 milhão de pessoas.

  • Fontes: Ricardo Boechat— Copacabana Palace. Um hotel e sua história; Ruy Castro— A Noite do Meu Bem; e Carmem Miranda, uma Biografia; Jô Soares— O Livro do Jô; acervo dos jornais O GLOBO, Folha de São Paulo, revistas Veja e Piauí; Biblioteca Nacional Digital; Instituto Moreira Salles; redes sociais do Copacabana Palace; e entrevistados.

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