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Por João Vitor Costa — Rio de Janeiro

Um grupo de cerca de 20 alunos dos cursos de Enfermagem e Medicina da UFRJ reuniram-se na Praça Mauá para oferecer treinamento às pessoas que passavam pelo Boulevard Olímpico, de como proceder caso alguém tenha uma parada cardiorrespiratória, no último sábado. O que não esperavam era que eles colocariam em prática os próprios ensinamentos naquela manhã: a aposentada Glória de Jesus Araújo dos Santos, de 66 anos, caiu na calçada ao lado dos estudantes, que assumiram o atendimento, realizaram as compressões em seu peito e até conseguiram um desfibrilador portátil, para salvar a vida da mulher.

Ao todo, foram 19 minutos em parada cardiorrespiratória, e os alunos se revezaram nas compressões, a cada 2 minutos, com o auxílio de uma pessoa que passava na hora e passou a marcar o tempo para eles, enquanto uma ambulância era acionada.

— Como foi meu primeiro caso de atender a uma parada (cardiorrespiratória), senti de verdade o que é uma vida estar nas suas mãos. Senti, pela primeira vez, que o coração dela estava na minha mão — conta Mariana Von Held, de 22 anos, estudante do 7° período de Enfermagem da UFRJ. — A gente se abraçou e deu até uma choradinha no final.

Alunos de Enfermagem e Medicina salvam idosa em parada cardiorrespiratória no Rio

Alunos de Enfermagem e Medicina salvam idosa em parada cardiorrespiratória no Rio

Segundo o Corpo de Bombeiros, equipes do Quartel Central da corporação foram acionados às 11h37 daquele dia, para "eventos clínicos" — quando alguém está passando mal — e encaminharam a vítima para a Coordenação de Emergência Regional (CER) Centro, no complexo do Hospital Souza Aguiar.

Mariana, que também ocupa o cargo de presidente da Liga Acadêmica de Trauma, Emergência e Simulação (LATES / UFRJ), decidiu relatar a história no TikTok e logo recebeu mensagens de agradecimento de parentes e amigos da idosa, que entraram em contato e até mandaram fotos dela internada no hospital, para mostrar que ela estava bem.

O evento realizado no sábado era uma ação comemorativa ao Dia Nacional da Reanimação Cardiopulmonar, organizado pela Liga Acadêmica do Trauma e Emergência da Universidade Federal do Maranhão, em parceria com as ligas locais. Na Praça Mauá, os estudantes da UFRJ montaram a tenda, inicialmente, em frente ao Museu do Amanhã, mas precisaram se deslocar devido aos ventos fortes que atingiram a capital fluminense naquela manhã e quebraram a tenda que montaram para fornecer sombra.

O jeito foi caminhar até a estátua de Barão de Mauá, em frente ao Museu de Arte do Rio (MAR), para se abrigarem em árvores.

— Não deu 10 minutos (da troca de lugar) e a senhora caiu do nosso lado. Se a gente tivesse permanecido em frente ao Museu do Amanhã, talvez não tivesse visto — completa Mariana, que viu os colegas da liga acadêmica, Vinícius Gomes e Patrick Simões, estudantes de Medicina, correndo para socorrê-la. — Quando viram, ela no chão, porque ela tava salivando muito, para não engasgar com a saliva. Quando aparentemente acabou de convulsionar, (populares) colocaram ela de barriga para cima, mas os diretores (da LATES) constataram que não tinha pulso.

O trabalho em equipe dos alunos começou, e, além dos que se revezaram nas massagens no peito da vítima, uma das estudantes correu no MAR e pediu o desfibrilador portátil do local, que foi cedido e usado para dar quatro choques na mulher, que voltou a ter pulsação no pulso, conforme os alunos constataram, e viram a vítima ser levada pela ambulância.

— Fiquei observando a distância e fui quando percebi que a paciente tinha liberado o esfincter, na hora eu pensei em chamar alguém mais graduado para ajudar, mas lembrei que não tinha mais ninguém — conta Patrick Simões, no último período de Medicina, que respirou aliviado ao ver que conseguiram reverter a parada. — Peguei meu estetoscópio e fui em direção ao local. Depois de 4 choques e muita comoção, os bombeiros chegaram, assumindo o atendimento. Fiquei agradecido pela rapidez com a chegada dos socorristas, pois comecei a ficar preocupado com o tempo de parada.

Estudantes da Liga Acadêmica de Trauma, Emergência e Simulação (LATES / UFRJ) que salvaram a vida de dona Glória, na Praça Mauá, no sábado — Foto: Divulgação / Monte Fotografia
Estudantes da Liga Acadêmica de Trauma, Emergência e Simulação (LATES / UFRJ) que salvaram a vida de dona Glória, na Praça Mauá, no sábado — Foto: Divulgação / Monte Fotografia

Dois aniversários no ano

A publicação de Mariana no TikTok teve mais de 15 mil visualizações e chegou até os parentes e amigos de dona Glória, que entraram em contato para agradecer aos "enviados por Deus", conforme definiu o padre Bruno Loura, da igreja que a idosa frequenta.

Já pelo WhatsApp, além de fotos da aposentada no hospital e mensagens que tentam marcar uma visita ao hospital, uma outra surpresa aos alunos: Glória fez aniversário dois dias depois e, segundo seus filhos, ela agora irá comemorar as duas datas de agosto, 19 e 21.

— Ela até brincou que "o negócio foi feio", e se queixou do peito queimando (por conta dos choques). Quando ela já podia receber visita, falou para mim: "Estou com almoço pronto, segunda-feira é meu aniversário e eu quero ir embora", mas tive que falar "agora é estaca zero" — conta Vinícius Araújo dos Santos, de 40 anos, filho mais velho de Glória, que lembra do nervosismo ao receber as notícias. — Minha prima estava com ela, iriam visitar o museu e a roda gigante, e me ligou avisando do desmaio. Depois retornou: "O negócio é sério, estão reanimando ela", peguei o carro e fui correndo.

Segundo o filho da aposentada, ela foi transferida na noite de domingo para o Hospital Estadual Anchieta, no Caju, já saiu do CTI e aguarda para realizar o procedimento de cateterismo, marcado para o próximo dia 30, para poder voltar à rotina. Vinícius relata que a mãe não tem sequelas e seu quadro surpreende até os médicos. De acordo com a Secretaria estadual de Saúde, seu quadro é estável.

A foto tirada no hospital, ao lado da mãe, foi a forma do filho mais velho comemorar os 66 anos da mãe, com ela viva, na última segunda. Vinícius conta que já mostrou o vídeo do TikTok à mãe, que já está até "rindo da situação toda" e quer encontrar os jovens que a salvaram.

Uma delas foi a estudante do 10° período de Medicina, Thais Vieira, responsável por ir em busca de um desfibrilador, que descreve que "dá um arrepio" só de lembrar daquele momento.

— Conseguir o equipamento (desfibrilador) e saber que foi essencial para o desfecho do caso, é muito gratificante. Foi uma das melhores sensações ao ouvir que o pulso tinha voltado. Hoje, saber que ela está melhor e se recuperando, é uma sensação indescritível — observa.

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