A família do adolescente Kaio de Sousa Santos, de 15 anos, morto após ser baleado durante um confronto entre facções rivais no Morro do Juramento, na Zona Norte do Rio, chegou ao Instituto Médico-Legal, no Centro, na manhã desta sexta-feira. Em silêncio e muito abalado, o pai do jovem, Leonardo Reis dos Santos, pediu Justiça pela morte do filho e afirmou que o garoto "foi morto cruelmente" enquanto brincava de caçar passarinhos em uma região de mata, perto de casa onde morava, no alto do morro.
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— Quero Justiça porque mataram uma criança inocente. Tive que ver o corpo do meu filho, que nem cachorro, jogado lá no chão. Ele só estava pegando passarinho e foi morto cruelmente. Ele gostava de lá (da comunidade) por causa dos amigos. Ele treinava futebol. Todo mundo gostava dele. Antes dele morrer disse que queria fazer um churrasco — lamentou o pai.
Leonardo afirmou que não morava na comunidade, mas frequentemente visitava o filho. Segundo ele, o local é conhecido por ser uma área de frequente disputa dos criminosos. Com tiroteios constantes.
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O tio e a madrinha do adolescente, Jorge Luiz Souza e Isabel Souza, seguravam uma foto antiga de Kaio, de quando tinha cinco anos. A lembrança da infância feliz foi recordada por eles.
— Sempre foi um menino feliz, com muito amor no coração — lembrou o tio.
Segundo Jorge, por volta de 13h, Kaio saiu de casa avisando que iria caçar passarinhos na mata. Na manhã de ontem, a escola do adolescente, ainda de acordo com a família, divulgou comunicado aos pais dos alunos, minutos antes do confronto acontecer, avisando que aulas seriam suspensas por conta de um "possível tiroteio".
— Diariamente ele caçava passarinho na mata. Foi uma fatalidade. O pai e a mãe acharam o corpo dele na mata. Ele foi baleado durante a invasão. Quando foram socorrê-lo, ele já estava falecido. Kaio era uma criança brincalhona. Ele estava na minha casa quarta-feira. Hoje, se não estivesse morto, eu ia buscá-lo para ficar comigo — afirmou o tio.
A mãe do adolescente, Viviane Souza, não conseguiu ir ao IML e está a base de remédios. Jorge disse ainda que o adolescente era muito querido na comunidade e que sua morte pegou a todos de surpresa. O tio do rapaz também fez um apelo às autoridades:
— Ele passou a infância na comunidade. O irmão dele de cinco anos está muito abalado. Sempre teve tiroteio. Uma criança que sai para brincar, não vê as coisas. A infância dele era isso. Peço às autoridades que tomem providência. Mais um que morreu. Ele era muito estudioso. Não faltava aula. A mãe dele chegou a pedir para ele não ir para escola. Para ele tomar cuidado porque a favela estava perigosa — lamentou.
Aonde a gente vai parar com essa violência toda?
Madrinha de rapaz morto no Morro do Juramento se emociona ao lembrar do afilhado
Revoltada a tia e madrinha de Kaio, Isabel de Souza, reforçou o apelo aos governantes e lamentou a violência constante na região:
— Está difícil para mim. Ele estava domingo com a minha mãe. Ele era uma criança, gente. Aonde a gente vai parar com essa violência toda? — questionou.
Segundo ela, Kaio sonhava em ser veterinário. O adolescente, segundo a família, era apaixonado pela natureza e pelos bichinhos.
— O sonho do Kaio era ser veterinário. Toda hora a gente anuncia uma criança sendo baleada. Onde vamos parar com isso? Cadê a polícia? Cadê as autoridades que não toma conta? É uma criança. É uma vida — disse.
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