Foi-se o tempo em que brechós eram vistos com preconceito. Seja pelo preço, consumo consciente ou busca por peças vintage, a tendência entre os jovens no Rio de Janeiro é reaproveitar. Se antigamente esse mercado era alvo de críticas por vender produtos “velhos”, ou “com energia ruim”, hoje é sinônimo de moda acessível e sustentável. Araras e prateleiras com produtos usados oferecem a possibilidade de economizar dinheiro na hora de comprar roupas, ao mesmo tempo em que ajudam a aumentar a vida útil de boas peças, diminuindo o impacto do lixo no meio ambiente.
De acordo com levantamento feito pelo Sebrae, o estado é o terceiro com o maior número de brechós no Brasil. Ao todo, são 113 estabelecimentos formais nesse segmento registrados como microempreendedores individuais. Segundo a analista do Sebrae Rio Ana Carolina Damasio, desde a pandemia houve um crescimento de 50% nesse mercado. O público-alvo, em sua maioria, passou a ser composto por jovens de até 29 anos.
— A pandemia transformou as pessoas e a forma delas consumirem. Tivemos que nos adaptar e passamos a comprar muita coisa local. Isso influenciou nos brechós. Todo mundo passou a tomar decisões mais conscientes e a valorizar o que havia de bom na própria região. Os jovens são mais engajados nas causas sociais e, hoje, buscam marcas com esse propósito — explica Ana Carolina.
‘Individualidade’
Além das questões de meio ambiente, a jornalista, empresária e consultora de moda Gloria Kalil ressalta o interesse dos jovens por roupas exclusivas e a procura por uma “expressão de individualidade”.
— Há muito tempo, as pessoas identificavam o brechó como local de roupa velha ou de quem não podia comprar algo melhor. Acontece que a moda deixou de ser uma expressão de classe e se tornou uma expressão de individualidade. O brechó oferece uma escolha muito particular para cada pessoa, e é isso que o jovem busca — conta Gloria.
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Com o objetivo de atrair esse público de até 29 anos, o Brechó Reinventar, no Grajaú, na Zona Norte do Rio, passou a contar com o “BARchó”, em funcionamento a partir das 19h, durante os fins de semana.
— A gente oferece bebidas e petiscos. Contamos também com música ao vivo. Tivemos essa ideia porque buscamos trazer uma clientela maior, principalmente os mais jovens. Queremos promover um espaço agradável e divertido — explica Vera Souza, sócia do brechó.
A Feira de Antiguidades da Praça Quinze, no Centro, que acontece aos sábados, virou point de amigos que gostam de garimpar juntos. É o caso de Rafaela Travasso, de 25 anos, e Eryck Kennedy, de 24. Os dois, que já têm o costume de frequentar o local, contam que começaram a fazer compras em brechós na igreja.
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— A minha mãe sempre foi de garimpar nas igrejas, e eu acabei pegando esse hábito dela. Gosto muito de roupas antigas, especialmente as que seguem o estilo dos anos 90. Então, escolho os brechós — diz Rafaela.
No entanto, apesar de conseguirem economizar bastante, Rafaela e Eryck contam que, com a popularização desse mercado nas redes sociais, os preços aumentaram.
— A popularidade no Rio, impulsionada pelo TikTok, facilitou muito a busca por brechós. Porém, é importante mencionar que esse aumento de interesse também resultou em uma elevação de preços e na escassez de peças de qualidade. Gosto de avaliar os tecidos e ver o que posso customizar — afirma Eryck Kennedy.
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