Preso na última terça-feira o miliciano Taillon de Alcântara Pereira Barbosa — alvo dos traficantes que executaram, por engano, o médico Perseu Ribeiro de Almeida, com outros dois colegas, em um quiosque, na Barra da Tijuca, no início de outubro — levava uma vida de luxo e ostentação. Um vídeo obtido com exclusividade pelo "Fantástico", da TV Globo, mostra Taillon dançando a bordo de uma lancha de R$ 1 milhão em Angra dos Reis, onde sua família tem uma casa de praia avaliada em R$ 2 milhões, além de apartamentos de luxo no Rio.
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Segundo a Polícia, a vida confortável é resultado de um esquema em família. Taillon e o pai, Dalmir Pereira Barbosa, que era terceiro sargento da Polícia Militar, e também foi detido, são apontados pelo Ministério Público e pela Polícia Federal como chefes de uma das milícias mais antigas do Rio, a de Rio das Pedras, na Zona Oeste.
As milícias no Rio:
- As milícias são grupos paramilitares, que disputam com os traficantes espaço na subjugação de comunidades carentes e bairros na capital e em outros municípios fluminenses. Em 2005, reportagem do GLOBO revelou que essas quadrilhas formadas por policiais e ex-policiais tinham assumido o controle de 42 favelas na Zona Oeste do Rio.
- Após uma década de expansão e fortalecimento, os grupos milicianos dominam e exploram regiões que se espalham por dezenas de bairros do Rio e no entorno da capital, brigam por novos territórios com um arsenal militar. Corrompem, matam e se infiltram nas instituições. Quase sempre sem punição.
- Em meio a uma crise interna, a maior milícia do Rio deu, no dia 23 de outubro de 2023, uma demonstração de força e parou a capital do estado em represália à morte de um dos integrantes de sua cúpula. Após Matheus da Silva Rezende, o Faustão, apontado como número 2 da hierarquia da milícia chefiada por seu tio, Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, ser morto a tiros pela polícia, seus comparsas incendiaram 35 ônibus e um trem e impactaram o transporte público em uma dezena de bairros da Zona Oeste.
- O miliciano Zinho, chefe da maior milícia do Rio, foi preso na véspera do Natal de 2023 após se entregar na delegacia localizada na Superintendência da Polícia Federal no Rio. Segundo a PF, a prisão ocorreu após "tratativas entre os patronos" de Zinho, a corporação e a recém recriada Secretaria de Segurança Pública. O criminoso, que estava foragido, segue preso após passar por audência de custódia.
A investigação que resultou na operação e na prisão de Taillon e do pai na semana passada reuniu muitas provas que mostram em detalhe como funciona a milícia de Rio das Pedras. Uma delas mostra a brutalidade do grupo. Quem fica devendo ou desrespeita a milícia, pode ser torturado ou morto. Na reportagem, o Fantástico exibiu vídeos que mostram homens torturados e imagens feitas após a execução enviadas como comprovação para os chefes da milícia, com a seguinte mensagem: "Serviço feito. Acabou o problema".
Áudios de um morador que não foi indicado revelam o que acontece na comunidade de Rio das Pedras: "Foi uma coisa muito pesada, não dava para continuar. Foi uma morte violenta e sem necessidade. Agora a vida não tem valor. Os moradores são obrigados a pagar para morar. Independente de ter dinheiro ou não, tem que pagar".
As taxas cobradas pela milícia variam de R$ 50 a R$ 12 mil, as mais altas, cobradas para alguns comerciantes. Outros áudios revelados na reportagem do Fantástico mostram a conversa entre dois milicianos: "Você tem 90 moradores no condomínio, 53 pagam. Você tem que fazer um trabalho pra aumentar três, quatro, cinco, 10 por mês. Para diminuir, não tem como. Ou paga, ou paga, filho. Quem não tá pagando, tem que começar a pagar".
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