Rio
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Com a onda de calor que atinge o país, o Rio 40 graus está num novo — e mais alto — patamar. Nesta segunda-feira, às 8h30, quando muitos cariocas ainda seguiam para o trabalho e a escola, a sensação térmica já batia os 52,7 graus em Guaratiba, na Zona Oeste. E depois de o calorão do fim de semana ter feito a alegria da multidão nas praias lotadas, agora castiga o dia a dia da população, que padece nas ruas, em hospitais com ar-condicionado quebrado ou dentro de ônibus e salas de aula sem refrigeração. Mesmo assim, os governos ainda não têm um plano de contingência para enfrentar as altas temperaturas que as mudanças climáticas tornam cada vez mais frequentes.

— No Rio, o calor nem sempre foi visto como algo ruim por estar associado a praia, lazer e turismo. Sempre foi bom para a economia fluminense. Só agora as pessoas estão entendendo o perigo dele para a saúde pública. O calor mata as pessoas. A curto prazo, é muito importante criar postos de acolhimento em escolas, hospitais ou igrejas, para prover água potável para pessoas em situação de vulnerabilidade ou para aqueles que estão trabalhando na rua. É importante que os moradores encontrem locais para se refrescar na cidade — explica a coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Geografia do Clima (GeoClima) da UFRJ e do Observatório do Calor, Núbia Beray.

No Rio, o calor nem sempre foi visto como algo ruim por estar associado a praia, lazer e turismo. Sempre foi bom para a economia fluminense. Só agora as pessoas estão entendendo o perigo dele para a saúde pública. O calor mata as pessoas
— Núbia Beray, coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Geografia do Clima (GeoClima) da UFRJ e do Observatório do Calor

Enquanto isso, o sufoco continua. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta, válido até sexta-feira, que coloca todo o Estado do Rio em uma área de “grande perigo” por causa da onda de calor. O Rio pode chegar a 41 graus hoje. Por isso, a Cedae adiou para a próxima semana a manutenção preventiva do sistema Guandu, que seria feita na quinta-feira. O reparo deixaria dez milhões de pessoas na capital e na Baixada Fluminense sem abastecimento de água.

Saúde impactada

Mas as consequências das temperaturas elevadas não param por aí. No fim de semana, as unidades de emergência da prefeitura do Rio atenderam 22 pessoas com problemas de saúde provocados pelo calor extremo. Quatro sofreram queimaduras de segundo grau pelo uso de bronzeadores. Nesse cenário, nesta segunda-feira o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde do governo estadual enviou um aviso de risco grave aos 92 municípios do Rio. Entre as recomendações está oferecer abrigos temporários para acolhimento de população potencialmente em risco, como idosos e crianças.

O taxista Antonio Carlos de Andrade, de 69 anos, foi parar na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Tijuca, na Zona Norte, na manhã de ontem:

— Dentro do carro, o ar-condicionado não estava dando vazão de tão quente. Eu não aguentei. Tive um pico de pressão. Eu não tenho problemas de coração, mas fiquei preocupado.

Para enfrentar os efeitos de temperaturas elevadas, a prefeitura do Rio tem um Plano de Desenvolvimento Sustentável e Ação Climática. Nele, é estabelecido, no entanto, o prazo até 2029 para que se cumpra a meta de desenvolver e implementar ações de mitigação do calor extremo. Além disso, a Secretaria municipal de Meio Ambiente e Clima informou que aumentou as áreas verdes na cidade com mutirões de reflorestamento e novos parques para enfrentar o aquecimento global.

Sem acesso a áreas climatizadas e a água com facilidade, a população em situação de rua sente ainda mais os efeitos da fornalha. O cozinheiro Afonso Walter, de 49 anos, que organiza as doações que chegam à Praça da Cruz Vermelha, no Centro, disse que pelo menos dez pessoas passaram mal no fim de semana, a maioria idosos. A Secretaria municipal de Assistência Social informou que oferece água, lanche e banho para quem precisa nos Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas).

— É insuportável. Quando chegam doações a gente dá graças a Deus. É um alívio. Dá muita sede. Às vezes, a fome é de água. Anteontem veio muita comida, mas pouca água. Faz falta — conta Afonso.

Quem trabalha nas ruas também sofre com o calor que não dá trégua. Nas obras do Terminal Gentileza, na Região Portuária, operários estão recebendo óculos escuros e protetor solar fator 70, além de ter água, uma máquina de gelo e até isotônicos à disposição.

— O jeito é tomar muita água e buscar uma sombra, quando dá — diz o ajudante de pedreiro Gustavo Ferreira, de 29 anos, que leva de casa soro natural para ajudar na hidratação.

Problemas crônicos

A agonia começa para muitos antes mesmo de chegar ao trabalho. Velho vilão do carioca, o calor nos ônibus permanece afligindo os passageiros. Segundo a Secretaria municipal de Transportes, ainda há 708 coletivos sem ar-condicionado na cidade — sem contabilizar aqueles que estão com aparelhos desligados ou quebrados. A promessa de climatizar todos os coletivos se arrasta desde 2014. Até os ônibus de BRT, comprados com o sistema, viraram quentões.

Passageiros de BRT seguem de portas abertas, enfrentando o calor sem ar-condicionado na Zona Oeste do Rio — Foto: Ana Branco / Agencia O Globo
Passageiros de BRT seguem de portas abertas, enfrentando o calor sem ar-condicionado na Zona Oeste do Rio — Foto: Ana Branco / Agencia O Globo

— A gente sai do ônibus passando mal, uma coisa terrível. Circulando sem ar-condicionado, lotado e com as portas abertas. Está muito difícil, é um perrengue para entrar e outro para sair. O braço que faço tratamento até voltou a doer — lamentou Jorgina Pinto da Silva, de 68 anos, que enfrentou ontem o Transoeste.

Questionada sobre os BRTs sem ar-condicionado, a Mobi Rio — empresa da prefeitura que opera o sistema — informou que há 80 veículos sem o equipamento, mas que eles serão substituídos por novos até dezembro.

Sufoco no Souza Aguiar

Outros serviços essenciais também sofrem com a falta de estrutura. Dados do Censo Escolar do governo federal revelam que quase a metade das salas de aula das redes públicas — cerca de 33 mil espaços — em todo o Estado do Rio não têm climatização. Procurado o Ministério da Educação não respondeu. A Secretaria municipal de Educação informou que tem investido na ampliação da climatização e chegou a 90% de suas escolas climatizadas, de um total de 1.550 unidades. Além disso, mais de mil aparelhos de ar-condicionado foram adquiridos e estão sendo entregues. "Todas as unidades inauguradas nessa gestão foram entregues climatizadas", garantiu.

O governo estadual disse que equipou 983 unidades e comprou 24 mil aparelhos de ar condicionado, além de ter projeto para universalizar a climatização. Já na rede de saúde, o Hospital municipal Souza Aguiar deixou pacientes e acompanhantes no calorão no fim de semana devido à “sobrecarga do sistema” e ontem ainda fazia reparos.

Para enfrentar essas ondas de calor, o professor do Departamento de Geografia Física da Uerj Antônio Carlos Oscar Júnior diz que o poder público precisa criar espaços para que a população se refresque e reforçar o atendimento de saúde da população vulnerável:

— Precisamos instalar estruturas para levar água para quem está na rua. Antigamente Bangu tinha aqueles ventiladores que lançavam água. Essa já é uma forma, mesmo que artificial, de levar a água de volta ao ambiente, auxiliando no processo de regulação térmica.

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