Imagens a que o GLOBO teve acesso flagraram a perseguição a um homem, agredido por um grupo de justiceiros em Copacabana. As câmeras de segurança da empresa de segurança Gabriel mostram que a ação durou cerca de 30 minutos: ele foi perseguido por 350 metros até ser alcançado e sofrer a agressão de um grupo de ao menos seis pessoas.
- Quadrilátero do perigo e avenida 'preocupante': Mapa revela 19 pontos com mais crimes em Copacabana; vídeos
- Segurança em Copacabana: Nova delegacia, novo batalhão e cabines da PM na orla; veja promessas que não saíram do papel
Por volta de 0h30 de quarta-feira, o homem é visto próximo à Praça Sarah Kubitschek, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Ele desce a Rua Almirante Gonçalves em direção à Praia de Copacabana. Dois minutos depois, câmeras gravam-no correndo na Avenida Nossa Senhora de Copacabana em direção ao Leme.
Vítima de justiceiros foi perseguido por 350 metros em ruas de Copacabana
Uma mulher aparece logo depois correndo pela Rua Almirante Gonçalves. Ela volta da Avenida Atlântica aparentando correr atrás dele. Quem estava na rua percebe a movimentação e também vai atrás do homem, que entra na Rua Djalma Ulrich e depois na Travessa Cristiano Lacorte. A perseguição dura cerca de dois minutos.
O grupo então alcança o homem, que, preso pela gola da camisa, é levado novamente para a Rua Djalma Ulrich. Um vídeo que circula nas redes sociais mostra a agressão. Um homem segura a vítima, que leva chutes e socos. Um dos agressores chega a pegar o rodo de uma pessoa que olhava a situação para bater nele, que grita "socorro" e continua apanhando mesmo caído no chão. Outro agressor ainda pisa no pescoço da vítima, que diz não estar com uma faca.
A polícia recebeu os vídeos e tenta identificar os agressores. A vítima prestou depoimento nesta quarta-feira e disse ser morador de Cabo Frio, na Região dos Lagos, que foi preso por roubo e solto do presídio José Federico Marques na quarta-feira. Ele foi encaminhado para fazer exame de corpo de delito. Os agentes ainda buscam encontrar a mulher filmada correndo atrás do homem para esclarecer se ela foi vítima de algum crime.
Em nota, a Polícia Militar salienta que agressões diante de casos criminosos não devem ocorrer. "Tendo em vista as imagens que estão circulando nas redes sociais, convocações para agressões ou perturbação de ordem pública não são maneiras adequadas de resolver ações criminosas que vêm ocorrendo em Copacabana. É importante que a sociedade apoie, confie e colabore com as ações realizadas pelos órgãos de segurança pública, bem como de outros atores envolvidos", diz trecho do comunicado da corporação.
Secretário compara justiceiros a milicianos
O episódio aconteceu horas depois de lutadores de jiu-jítsu convocarem a população nas redes sociais para atacar suspeitos de cometerem crimes na Zona Sul. O secretário de Segurança do Rio, Victor Santos, que assumiu a pasta há pouco mais de uma semana, afirmou que os grupos de "justiceiros" que prometeram atuar contra a ação de assaltantes em Copacabana também são criminosos. Em entrevista ao Estúdio I, da GloboNews, ele comparou os grupos a milícias e grupos de extermínio:
" É um grupo que se acha acima do bem e do mal que se acha no direito de fazer justiça com as próprias mãos. Praticam crimes com o objetivo de evitar crimes. Na verdade, são todos eles criminosos. O justiceiro é criminoso", classificou Santos.
Na noite de terça-feira, começaram a circular mensagens, em redes sociais, sobre a ação dessas pessoas. A motivação foi a agressão sofrida pelo empresário Marcelo Rubim Benchimol em Copacabana, na noite do último sábado, ao tentar ajudar uma mulher que estava sendo assaltada. A Polícia Civil do Rio investiga a atuação desses grupos.
Vitor Santos disse que vai se reunir com os secretários de Polícia Civil e Militar para definir novas diretrizes, mas disse que o efetivo policial em Copacabana não será aumentado.
— Não temos essa previsão. A tecnologia é que vai funcionar para que a gente possa fazer o melhor uso do recurso humano que já existe — disse.
- Violência em Copacabana: quem é o suspeito acusado de nocautear empresário na calçada
O secretário afirmou ainda que a tecnologia, tanto nas câmeras de segurança ou com vídeos gravados pela população, é fundamental:
"Por isso a gente fica tocando nessa tecla. A maioria das câmeras que a gente assistiu são de câmeras de segurança ou de pessoas que estão filmando e fazendo sua gravação. Isso dá uma celeridade muito maior", avaliou.
Segundo o secretário, o monitoramento da ação dos grupos que atuam na região é "ativo e reativo":
"A Polícia Militar pode fazer uma abordagem de proximidade. Isso também é prevenção", disse Victor Santos.
Sobre abordagens em ônibus vindos de outras regiões da cidade, o secretário descartou a medida como já foi feita em 2015.
"A praia é um lazer democrático. Achar que temos que fazer uma ação de repressão, sem nenhuma técnica, nenhum dado, pode parecer preconceituoso. Segurança Pública é para todos", disse.
Sobre o uso de câmeras corporais pela Polícia Militar, Santos disse em entrevista à CBN que a meta é instalar o equipamento, inclusive, nos batalhões especiais.
"A tecnologia tem que andar junto com a política de segurança pública. Sem tecnologia, a gente não consegue andar muito rápido.
Diligências para identificar grupos
Sobre os grupos, a Polícia Civil informou que "diligências estão em andamento para identificar os envolvidos e esclarecer os fatos". Já a Polícia Militar afirmou que equipes da corporação atuam nas ruas da Zona Sul e prenderão em flagrante qualquer envolvido em crimes e será realizada uma reunião com moradores, nesta quarta-feira, para desarticular "possíveis ações que fujam da legalidade".
As mensagens que circulam nas redes afirmam que uma das ações dos grupos ocorreu em Botafogo. Dezenas de pessoas teriam se concentrado em frente a um shopping. Em vídeos compartilhados, é possível ver o grupo, com todos vestidos de preto, andando num canteiro divisor de pistas. Os integrantes tapam os rostos para não serem identificados.
Há relatos, ainda, de ações semelhantes em Copacabana. A PM informou que policiais do 19º BPM (Copacabana) viram, nesta terça-feira, um grupo seguindo para o bairro que, de acordo com dados de inteligência, atacaria suspeitos de cometerem crimes na região. Com a aproximação das equipes, as pessoas se dispersaram.
Vítima de assalto leva soco e cai desacordada em Copacabana
A Polícia Militar afirmou, ainda, que "vem aplicando esforços para reduzir os índices criminais, incluindo o furto a estabelecimentos comerciais e pessoas". A corporação destacou que Copacabana recebe policiamento do batalhão da área, das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), do Bairro Presente e de agentes do programa Segurança Presente. De acordo com a corporação, a região também recebe apoio no policiamento da Operação Verão com unidades do Comando de Operações Especiais (COE) e do Comando de Policiamento Especializado (CPE).
A PM informou ainda que o comando do 19º BPM também trabalha com a Polícia Civil com o objetivo de identificar os envolvidos em tais ações. Somente no bairro de Copacabana, nos últimos dez dias, o batalhão encaminhou quase 150 pessoas para a delegacia da região e 58 foram conduzidas para abrigos municipais.
- 'Horror no Brasil': imprensa argentina repercute assassinato de compatriota em Búzios, no Rio
Quatro pessoas foram presas e seis menores, apreendidos. Onze facas foram encontradas com suspeitos.
Nesta quarta-feira, a uma nova estratégia foi traçada para a Operação Verão em Copacabana, a ser implementada a partir do final da tarde. Segundo a PM, as equipes formarão um corredor de segurança. Nesta nova abordagem, serão distribuídas viaturas baseadas ao longo da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, das 18h às 23h. "Em seguida, o corredor será reposicionado ao longo da Avenida Atlântica para melhorar a segurança de moradores e turistas que frequentam o calçadão e quiosques", diz trecho da nota.
A reunião realizada ontem, para o pacote de ações conjuntas, teve a participação de representantes de unidades operacionais da Polícia Militar do Centro e Zona Sul com integrantes da Secretaria de Governo do Estado e da Secretaria de Ordem Pública da Prefeitura do Rio.
Agressão em Copacabana
Benchimol havia saído de cada no início da noite do último sábado para ir à academia. Enquanto caminhava pela calçada na Avenida Nossa Senhora de Copacabana viu uma mulher sendo abordada por um grupo de criminosos e decidiu ajudá-la.
Agredido em Copacabana: 'a gente sempre fica com muita raiva, muita revolta'
— Pensei: “Ou eu fujo ou eu ajudo ela”. Optei por ajudar. E aí começou a pancadaria, até me desvencilhei, mas depois, por último, veio um rapaz e me deu um soco por trás. Eu estava de óculos, e os óculos enterraram no meu olho, e desmaiei. Só fui acordar na UPA, graças a dois bons policiais que me ajudaram — contou ele.
- Cannabis medicinal: entenda regras do fornecimento gratuito no SUS do Rio, agora previsto em lei
A agressão contra Benchimol foi flagrada por câmeras. As imagens mostram a vítima sendo agredida com um soco e caindo desacordada. É possível ver quando a mulher é cercada na calçada por um grupo de suspeitos e o homem intervém. Além do soco, ele levou chute e empurrões.
Ação em 2015
Em setembro de 2015, uma equipe do GLOBO flagrou uma ação de um grupo que se reuniu na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Pelo menos dez pessoas, que seriam moradores da região, cercaram um ônibus que estava voltando da praia e quebraram a socos os vidros do coletivo. O objetivo era agredir jovens que estavam no veículo. Na ocasião, houve tumulto e correria. Policiais foram acionados para o local, dispersam a confusão e evitaram um linchamento. A cena ocorreu num domingo após um sábado em que foram registrados arrastões em ruas da Zona Sul.
O ônibus cercado era da linha 474 (Jacaré-Jardim de Alah), que estava lotado. Algumas pessoas que estavam no coletivo saltaram por uma janela quebrada. Na época, a Polícia Civil abriu uma investigação sobre o grupo cercou o veículo, mas ninguém foi preso.
Inscreva-se na Newsletter: Notícias do Rio