Rio
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Por — Rio de Janeiro

Até este ano, o turismo do Rio de Janeiro era divulgado no exterior em feiras que mostravam, sobretudo, as belezas naturais da cidade: Corcovado, Pão de Açúcar, praias… As imagens das paisagens que estampam cartões-postais eram as apostas para atrair quem vive lá fora. A partir de 2024, uma nova iniciativa passa a compor as estratégias da prefeitura: usar a arte como propulsora da cultura da região e, assim, conquistar o público estrangeiro. Com esse intuito, em janeiro, será lançado o livro “Rio Carnaval”, com fotos assinadas por Vik Muniz, curadoria e design de Gringo Cardia e textos de Luiz Antônio Simas.

O projeto nasceu de uma odisseia na Sapucaí nos desfiles das escolas de samba do Grupo Especial, em 2022. Em dois grandes estúdios montados na dispersão do Sambódromo, o fotógrafo e seus assistentes viraram as duas madrugadas clicando quem saía dos desfiles na Passarela do Samba. Foram aproximadamente 860 pessoas fotografadas. Integrantes de comissões de frente, baianas, ritmistas, musas, rainhas de bateria: todos compõem as páginas do livro fotográfico, que vai projetar a cidade. A ideia era mostrar as expressões esfuziantes pós-desfile dos foliões daquele carnaval de abril, mês que pôs fim à sede de folia de quem sofria com uma abstinência de dois anos.

— O carnaval é a expressão máxima da nossa cultura, sem dúvida. Ele tem tentáculos, vai desde as artes plásticas à cenografia, tem a iluminação, a música, a poesia. Ele tem uma dimensão galáctica. E faz parte da vida, do cotidiano das pessoas, o ano inteiro, independentemente de raça, de fatores econômicos — diz Vik Muniz.

Festa e sofisticação

O nome do artista plástico, que tem uma proeminente carreira internacional, à frente do projeto é intencional: atrair as atenções do público estrangeiro. O paulista foi indicado ao Oscar em 2011 com o filme “Lixo extraordinário”, em que transformou sucatas do lixão de Jardim Gramacho em arte, e tem na carreira exposições nos mais renomados museus do mundo, entre eles o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa) e o Whitney Museum of American Art, ambos nos Estados Unidos.

Para o fotógrafo, é importante mostrar que a festa popular tem sofisticação:

— Eu trabalho geralmente isolado numa espécie de elite intelectual, cultural e econômica, de pessoas que vão a museus, compram obras de arte para botar em casa. Sempre tento furar essa bolha porque não venho desse mundo. Venho da periferia de São Paulo — diz ele, cujo pai, Vicente Muniz, era garçom, e a mãe, Maria Celeste, telefonista. — Quando vejo a Apoteose, consigo conciliar uma realidade brasileira que é sonhadora, maravilhosa, com a capacidade de fazer. A realização do carnaval é algo fabuloso.

Entre as mais de 13 mil imagens geradas nos dias de foto, uma se destacou e foi eleita por Vik Muniz capa de “Rio Carnaval”: a da atriz Dandara Mariana, que está na série “Encantado’s”, do Globoplay. A foto foi refeita artisticamente com uma conhecida técnica de Muniz, em que centenas de microimagens formam uma fotografia maior. Neste caso, o rosto de Dandara é recomposto por outras fotos do livro impressas em papel e agregadas em mosaico.

— Essa técnica eu não inventei e não se resume simplesmente à união das peças. Quando uma foto é feita, a imagem cria uma dimensão que é rasa. Temos explorado esse trabalho em papel com a ideia de que ele foi desaparecendo do contexto de informação, de mídia. É um tipo de reconstrução, quase uma análise sintática da imagem — explica o artista.

Erudito e popular

Dandara, no dia em que posou para as fotos, usava uma fantasia intitulada Consciência e Luta. Por 82 minutos antes de entrar no estúdio, tinha sambado no posto de musa do Salgueiro naquele carnaval após dois anos sem festa. Ao saber que seu rosto projetará a imagem do Rio mundo afora, ela chorou:

— Eu me emociono porque sou apaixonada por fotografia. É o instante em que o tempo para. A gente olha para a foto e revive aquele momento. É de alguma maneira um jeito de congelar o instante. E ser escolhida por esses artistas é grandioso.

Curador e designer, Gringo Cardia foi o regente da orquestra que transformou o projeto de “Rio Carnaval” em realidade. Depois de ouvir o convite da secretária de turismo, Daniela Maia, quando ela ainda era presidente da Riotur, ele chamou Muniz e Luiz Antônio Simas.

— O Rio precisa demais elevar o status do carnaval, uma das principais artes brasileiras. Quando você vai a um barracão de escola de samba, vê que é a nossa grande escola de belas artes do Brasil. É o maior espetáculo da Terra, junta o trabalho erudito e a linguagem popular.

Simas enfatiza que a festa outrora importada da Europa nos anos de colonização ganhou outros significados no período pós-abolição:

— As referências da cultura europeia foram devoradas pelas africanidades que formam o Rio. Se o carnaval é uma data de origem europeia, as escolas de samba são criadas pela comunidade negra do pós-abolição. Esse encontro entre a tradição europeia do carnaval e as africanidades que moldaram a cultura do Rio é que dá essa intensidade toda.

A prefeitura gastará R$ 1,8 milhão para publicar três mil exemplares do livro. A Secretaria de Turismo da cidade conversa com o Itamaraty sobre o calendário de divulgação do Rio no exterior em 2024. Num primeiro momento, é estimado que a ação com o livro chegue a países da Europa e da América do Sul. Mas, antes de viajar, “Rio Carnaval” virará exposição no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, no Centro, em fevereiro do ano que vem.

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