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Por , , e — Rio de Janeiro

Com o intuito de fazer extorsões para sustentar a maior milícia do Rio, o grupo armado liderado por Luis Antonio da Silva Braga, o Zinho, não mede esforços, muito menos age de forma amadora. Segundo denúncia do Ministério Público do Rio — que culminou na Operação Dinastia, deflagrada nesta terça-feira — a organização criminosa controla as cobranças a empreiteiras e construtoras de empreendimentos da Zona Oeste por meio de tabelas, que descrevem os valores arrecadados. Como um "estado paralelo", como define o documento, os milicianos chegam a decidir pelo embargo da obra, em caso de atraso no pagamento da taxa.

Através de diálogos interceptados entre os comparsas de Zinho, o MPRJ detalha que a operação de extorsão conta com uma organização. Em conversa entre o denunciado Jhonatas Rodrigues Medeiros, conhecido como Pardal ou Pássaro, e outro integrante da organização, Vitor Eduardo Cordeiro Duarte, o Tabinha, a investigação encontrou fotos de tabelas.

Nelas, estavam detalhados os valores exigidos das empreiteiras, apontando o nome da empresa extorquida, assim como o local em que o empreendimento está instalado, a data dos pagamentos, além das cifras recebidas.

Para o Ministério Público, toda a operação — diagramada em tabelas feitas em computador — demonstra "profissionalismo no controle financeiro por parte dos integrantes da súcia, que se revela verdadeira organização criminosa do tipo milícia".

Diálogos 'estarrecedores' da milícia. Obras da prefeitura também foram extorquidas

Outra conversa entre os milicianos que é reproduzida pela denúncia do MPRJ descreve a atuação do grupo armado. Nela, os denunciados Jhonatas Rodrigues Medeiros, o Pardal, e William Pereira de Souza, o Bolinho, "arquitetam embargar as obras que não estão em dia com o pagamento das taxas". Pardal é apontado como o "CEO" da organização criminosa, enquanto Bolinho, preso nesta terça-feira, seria o "executor" das cobranças.

Os diálogos são definidos pelo Ministério Público como "estarrecedores", numa ação que se equipara à de "verdadeiros fiscais de um Estado paralelo", completa o trecho.

Nem mesmo obras da prefeitura do Rio conseguiram escapar das cobranças. Em bairros da Zona Oeste, como Campo Grande, Santa Cruz, Nova Sepetiba e Ilha de Guaratiba, o termo "obras pref" também constavam na tabela com os pagamentos recebidos pela milícia.

No documento que trouxe a denúncia aos 14 integrantes do grupo de Zinho, o MP conclui que "o Estado Formal é apontado como devedor do Estado Paralelo".

Em nota, o município informou ter ciência das "intimidações feitas tanto pelo tráfico quanto pela milícia", e que sempre orienta as empresas a denunciarem. Como providência diante das extorsões, a prefeitura informa ter retirado o valor investido de placas instaladas nos canteiros de obras.

Ainda no posicionamento, o município lembra que, em agosto, funcionários de uma empresa que atuava nas obras do Bairro Maravilha Sandá, em Bangu, foram agredidos por criminosos e que o caso foi registrado na delegacia.

As milícias no Rio:

Cobrança durante obras e depois de prontas

Entre os empreendimentos que precisam pagar quantias de milhares de reais aos criminosos, o MP detalhou que, nos canteiros de obras, as cobranças são feitas em cima de cada "pedaço": o responsável pela topografia é cobrado separadamente de quem faz edificação dos muros, transporte de concreto ou serviços de pintura, por exemplo.

Mas quando a obra encerra e o empreendimento é erguido, a extorsão não deixa de ser feita. Segundo o Ministério Público, os condomínios são obrigados a pagar por "taxas de portaria", com custos repassados aos seus moradores.

As empresas que constam como extorquidas enviaram posicionamentos ao GLOBO.

A MRV informa que "não realizou o pagamento mencionado e afirma que todos os seus contratos são estabelecidos estritamente com empresas legalmente formalizadas, seguindo um processo rigoroso de Compliance e de acordo com as normas previstas pela legislação". A construtora completa a nota reiterando "veementemente seu compromisso com integridade, transparência e responsabilidade corporativa".

Já a Tenda diz desconhecer os "fatos narrados na reportagem e salienta que não foi intimada em qualquer investigação". Destacando a conduta pela ética, integridade e observância às leis, a empresa diz estar à disposição das autoridades e "refuta qualquer tipo de ligação com quaisquer atividades criminosas".

Também citada, a Direcional ressalta que "não compactua com quaisquer práticas ilícitas", além de que "possui procedimentos rigorosos, código de conduta para suas atividades e atua dentro dos parâmetros legais". A empresa diz que tomou conhecimento da denúncia por meio do noticiário e informa que está à disposição das autoridades.

Operação Dinastia

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) e a Polícia Federal deflagraram, na manhã desta terça-feira, a segunda fase da Operação Dinastia. O objetivo é cumprir 12 mandados de prisão preventiva e 17 mandados de busca e apreensão contra integrantes da milícia comandada por Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, que atua em bairros da Zona Oeste carioca. Um dos mandados de prisão é contra ele, que é considerado o bandido mais procurado do estado. Cinco pessoas foram presas e houve apreensão de armas e documentos.

Um agente da PF carrega material apreendido durante a Operação Dinastia II — Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo
Um agente da PF carrega material apreendido durante a Operação Dinastia II — Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo

Esta segunda fase da investigação é um desdobramento da operação deflagrada em 25 de agosto de 2022, que também resultou na deflagração da Operação Batismo, realizada nesta segunda-feira, contra o núcleo político da organização — que teve como alvo a deputada estadual Lucinha (PSD). A ação desta terça-feira visa a desmantelar o núcleo financeiro do grupo paramilitar, identificando a estrutura de imposição de taxas ilegais a grandes empresas e pequenos comerciantes locais, assim como as contas correntes beneficiárias dessas cobranças.

Os presos nesta terça-feira são: Alessandro Calderaro, o Noque; Delson Xavier de Oliveira, o Delsinho; Jaaziel de Paula Ferreira, conhecido como Papel ou Jeitoso; Renato de Paula da Silva, o RT; e William Pereira de Souza, o Bolinho.

Os presos e o material apreendido serão encaminhados para Superintendência Regional da Polícia Federal no Rio.

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