Chuva no Rio: conheça as histórias dos 12 mortos durante as enchentes

• Entenda: por que choveu tanto no Rio e na Baixada Fluminense
• Chuva no RJ: mulher deu à luz após chegar a hospital num bote, enquanto outra continua desaparecida, arrastada por um rio

Em uma cena que se repete ano após ano, o sentimento de impotência de quem chora a perda de um familiar e de quem precisa mais uma vez recomeçar dão a medida da tragédia. “A gente batalha, recupera tudo e vem tudo de novo”, lamentou Elias José, de 23 anos, que mora em Pilar, um dos bairros mais afetados pelas chuvas em Caxias, onde houve duas mortes.

O município, aliás, foi um dos mais atingidos e, ainda ontem vários bairros continuavam completamente alagados. Em Campos Elyseos — cerca de 7 km de distância de Pilar —, Marcos Aurélio Aguiar Cotias, de 53 anos, foi uma das 12 vítimas fatais, que inclui idosos, pessoas afogadas, soterradas e atingidas por descarga elétrica.

— Eu não sei se ele tentou tirar a extensão da tomada, ou se foi sem querer. Mas quando chegamos no quarto, ele já estava caído. O Rômulo quase morreu junto porque já estava agachado para ajudar o pai — lembra Tatiana, contando que o namorado (filho de Marcos) não quer mais voltar para casa. — Ele está em estado de choque, se culpando por tudo que aconteceu e por não conseguir salvar o pai. Mas não tinha nada que pudéssemos fazer. Foi uma tragédia.

• Mortes em cinco cidades e consultas adiadas em hospital alagado: veja as principais consequências do temporal no Rio

Paulo César Oliveira Fernandes, de 59 anos, também foi vítima de descarga elétrica, mas no bairro São Bento. Segundo o irmão Luiz Antônio, ele sofreu o choque ao abrir a geladeira e encostar em um fio. Antes, havia salvo a mãe com Alzheimer, que estava em casa quando a água começou a invadir o cômodo em que estava.

Em Nova Iguaçu, três pessoas morreram, todas por afogamento. No bairro Comendador Soares, a tragédia foi registrada pelas câmeras de segurança, que flagrou o momento em que um vizinho de Vanderlei Rodrigues Alves, de 53 anos, estende a mão para tentar salvá-lo. Ele consegue segurar, mas acaba perdendo o equilíbrio e escorrega, sendo arrastado pela água. Ontem, sua família esteve no Instituto Médico-Legal para fazer o reconhecimento e a liberação do corpo.

Para quem ainda está à procura de um familiar, a angústia aumenta a cada dia. Durante todo o dia de ontem, parentes de Elaine Cristina Souza Gomes, de 46 anos, fizeram plantão à beira do Rio Botas, em Belford Roxo, na Baixada, à espera de notícias da cabeleireira. Ela e Anderson Genovez, de 43 anos, estavam voltando para casa, na noite do dia 13, depois de Anderson trabalhar como DJ na festa de um amigo, quando o carro em que estavam foi arrastado pela enxurrada na altura da linha de trem do bairro Caioaba, na divisa de Belford Roxo e Nova Iguaçu.

— A esperança é a última que morre. Ela pode estar com vida, machucada, em algum lugar. Mas eles já desceram o rio, os bombeiros já estão nas águas de outro município. Queremos o corpo para fazer um enterro digno, para acalmar o coração da minha mãe (a aposentada Sueli Souza Gomes, de 80 anos) — disse o segurança Raul Gomes, de 51 anos, irmão da vítima.

• Chuva no Rio: Por que choveu tanto na capital e na Baixada?

De acordo com Raul, o cunhado tentou resgatar Elaine, mas não conseguiu:

— Meu cunhado chegou a tentar segurar. Ele soltou ela do cinto de segurança, mas não conseguiu puxar junto com ele. Se para a gente já é muito forte, imagina tentar dar a mão a ela e não conseguir.

Na Zona Norte, três pessoas morreram no temporal. E pelo menos um homem, Ricardo Augusto Carvalho da Silva, de 32 anos, morador de Anchieta, está desaparecido. Esquizofrênico, ele, segundo vizinhos, saiu desnorteado de casa, só com a roupa de baixo, quando sua casa começou a inundar.

Ele foi uma das 12 vítimas das chuvas que atingiram o Rio de Janeiro entre a noite de sábado e a madrugada de domingo. Ele estava em casa, no bairro Campos Elyseos, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, com a família, quando a casa começou a encher. Ele prendeu o seu cachorro e deitou ao seu lado, tentando ignorar a água que já chegava na canela. No quarto ao lado, o filho, Rômulo Rodrigues, descansava ao lado da namorada, Tatiana Araujo, de 40 anos, e da filha dela, de 10 anos. A Tatiana fechou os olhos por 5 minutos e foi acordada com o grito de Marcos, que sofreu uma descarga elétrica de uma extensão que ficava em frente a sua cama.

— Eu não sei se ele tentou tirar a extensão da tomada, ou se foi sem querer. Mas quando chegamos no quarto, ele já estava caído. O Rômulo quase morreu junto porque já estava agachado para ajudar o pai. Eu tive que gritar para ele não encostar nele, foi horrível — conta Tatiana. Ela diz que o Corpo de Bombeiros demorou cerca de uma hora para chegar porque as ruas estavam alagadas. O corpo de Cotias ficou na casa até às 15h do domingo.

Vanderlei tinha 53 anos e morava no bairro Jardim Canaã. Ele morreu afogado durante o temporal, nas proximidades da passarela que atravessa a Rua Coronel Bernardino de Melo, no bairro Comendador Soares, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Uma câmera de segurança flagrou o momento que um vizinho tenta ajudá-lo. Ele estende a mão para Vanderlei, que consegue segurar, mas acaba perdendo o equilíbrio. Quando ele cai no chão, acaba sendo arrastado pela água.

A história de Paulo César foi marcada por um ato heróico. Durante o temporal, ele salvou a mãe, que sofre de Alzheimer, antes de morrer eletrocutado, em casa, na Rua Dona Alice Viterbo, no bairro São Bento, em Duque de Caxias. Segundo o irmão Luiz Antônio disse à TV Globo, ele sofreu o choque ao abrir a geladeira e encostar em um fio. A vizinha encontrou o homem já desacordado no chão.

A dona Terezinha teve a casa destruída após um desabamento no Morro da Pedreira, na Zona Norte do Rio. Ela foi vítima de soterramento, segundo o Corpo de Bombeiros, na Estrada de Botafogo, em Costa Barros. O sobrinho, Paulo Leonardo, contou ao RJTV que soube do desabamento por parentes, mas quando chegou ao local não encontrou a casa de Terezinha. A própria família que cavou o local em procura do corpo. Ela morava na região há um ano.

Marcus Aurelio morreu afogado na Rua Patrícia Cristina, no bairro Vila São Luís, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

1. André Cardoso de Aguiar, de 52 anos: a vítima das chuvas morreu na Rua Parecis, em Andrade de Araújo, bairro de Belford Roxo, na Baixada. Ainda não há informação sobre a causa da morte.
2. Antonio Caetano Cordeiro, de 64 anos: o idoso foi vítima de uma descarga elétrica. A ocorrência aconteceu na Rua Neuza, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense.
3. Geraldo, de 59 anos: o homem, que ainda não teve o sobrenome identificado, morreu soterrado na Rua Moraes Pinheiro, em Ricardo de Albuquerque, na Zona Norte do Rio.
4. Marli Zeferino Alves, de 77 anos: a idosa foi vítima de afogamento durante a enchente, segundo o Corpo de Bombeiros, na Rua Maturá, em Acari, na Zona Norte do Rio. A ocorrência foi atendida pelo quartel de Irajá.
5. Michelle Mericiana Ferreira, de 39 anos: a mulher morreu de afogamento em Saracuruna, Duque de Caxias. O corpo já foi removido para o IML.
6. Sérgio Carlos Monteiro da Silva, de 57 anos: vítima de afogamento. A ocorrência aconteceu na Rua Pinto Duarte, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense.
7. Mulher não identificada.

Segundo a Secretaria de Estado de Defesa Civil (Sedec-RJ) e o Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ), há duas pessoas desaparecidas, um homem e uma mulher.

A vítima feminina adulta teria submergido após a queda de um veículo no Rio Botas, no bairro Andrade Araújo, em Belford Roxo, e uma vítima masculina adulta que teria sido arrastada pela correnteza no Chapadão.

Elaine Cristina Souza Gomes, de 46 anos, sumiu após o veículo em que a cabeleireira estava ser arrastado pela enxurrada na altura da linha de trem do bairro Caioaba, na divisa de Belford Roxo e Nova Iguaçu. Jackson Pinheiro da Silva, de 49 anos, desapareceu na comunidade do Chapadão, na Zona Norte.

Outras duas pessoas que não constam nas listas oficiais são Ricardo Augusto Carvalho da Silva, de 32 anos, e José Pedro Silva de Oliveira, de 63 anos.

Ricardo é morador de Anchieta, na Zona Norte do Rio. Amigos e vizinhos contaram ao GLOBO sobre seu desaparecimento, registrado na 31ª DP (Ricardo de Albuquerque). A casa dele fica próximo à praça Nazaré e ao Rio Pavuna, e ficou inundada com a enchente. Segundo vizinhos, ele é esquizofrênico e, no momento da tempestade, ele saiu desnorteado de casa, vestindo apenas roupa íntima. Ricardo não aparece na listagem dos Bombeiros.