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Por e — Rio de Janeiro

Encontrado morto em seu sobrado no Jardim Botânico, Brent Sikkema, de 75 anos, era sócio proprietário de uma famosa galeria de arte em Nova York. O americano era coproprietário da Sikkema Jenkins & Co, no Chelsea. Sikkema foi morto com perfurações de arma branca (perfurocortantes, como tesouras, estiletes e chaves de fenda). O galerista foi definido como “uma pessoa maravilhosa, muito bondoso, generoso, defensor das questões sociais” pela amiga e advogada. Ele deixa um marido e um filho.

Brent morava em um sobrado na Chácara do Algodão, no Horto. Na região, ficam os ateliês de artistas como Beatriz Milhazes, Adriana Varejão e Gabriela Machado. O americano vinha ao Rio no máximo três vezes ao ano e ficava no imóvel. Ele devia ter a residência havia pouco mais de 10 anos.

A advogada do galerista, Simone Nunes, cuidava do sobrado quando ele não estava no Brasil. Sikkema mal falava português, então não tinha muito contato com os vizinhos, que só o conheciam de vista.

Quando estava no Rio, ele costuma passar o dia fora, voltando apenas para dormir. Uma pessoa que trabalha na região explicou que a rua é muito tranquila e que todos vão para suas casas cedo.

A ex-primeira-dama dos Estados Unidos Michelle Obama e Brent Sikkema — Foto: Reprodução
A ex-primeira-dama dos Estados Unidos Michelle Obama e Brent Sikkema — Foto: Reprodução

Em seu perfil nas redes sociais, Brent compartilhava os momentos de algumas de suas viagens pelo mundo. Não escondia ter como preferências de destino Brasil e Cuba. Das idas à ilha na América Central, mostrava aos cerca de 1 mil seguidores cenas do cotidiano, como o pôr do sol na capital Havana, um buquê de flor borboleta-branca, um símbolo nacional. O americano falou dos dois países numa publicação de uma paisagem de Zurique, na Suíça, quando escreveu:

"Zurique esta noite. Geralmente sou um cara caótico — você conhece meu tipo de lugar — onde a luta é real todos os dias — Cuba e Brasil — mas tenho que admitir que uma visita ocasional à Suíça é uma espécie de alívio!"

Brent foi definido pela advogada e amiga Simone Nunes como uma pessoa gentil e que falava muito sobre bondade. Casado e com um filho de 12 anos, o americano usava as redes sociais para expor alguns de seus sentimentos e de como via o mundo. Sempre se mostrou próximo à família e gostava de contar, mesmo que de forma breve, como acompanhava o crescimento do filho, de viagens a pequenos detalhes do dia a dia, como um desenho feito com tinta.

"O 11 de setembro é o que meu filho e eu chamamos de “um dia de bondade”. Nunca entenderemos o mal que encontramos naquele dia, mas podemos honrar aquelas almas que foram perdidas apenas por sermos pessoas mais gentis e empáticas. Eu sei que é difícil agarrar-se a isso todos os dias, mas é mais fácil do que acordar todos os dias com um buraco no coração cheio de sonhos desfeitos e aspirações por um marido, esposa ou filho que você trouxe ao mundo e perdeu. A bondade é natural e vem facilmente. Precisamos disso cada vez mais a cada dia", escreveu, num post em referência aos atentados às Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, em 2001.

Em junho de 2021, após um hiato de postagens em seu perfil do Instagram, Brent falou brevemente sobre a pandemia de Covid-19, mas destacou Darnella Frazier que, na época com 17 anos, filmou com o celular a ação policial que resultou na morte de George Floyd, em Minneapolis.

"Estou afastado do Instagram há 14 meses enquanto tento lidar com a dor diária de ver as desigualdades do mundo serem totalmente expostas pela Covid. Eu queria voltar, mas esperei algo positivo para postar. O prêmio Pulitzer de hoje para Darnella Frazier por suas filmagens do assassinato policial de George Floyd. Que prêmio maravilhoso para Darnella e um lembrete para todos nós de que nos cabe permanecer vigilantes e determinados na proteção de nossas liberdades civis. Não se engane sobre isso. Nossa democracia está realmente sob ataque."

O viúvo de Brent não deve vir ao Brasil para os trâmites de traslado do corpo. Quem está cuidando disso é a advogada, com ajuda do Consulado americano. Brent iria embora do Brasil nesta terça-feira, após vir ao país para passar o Natal no Rio.

'Amava o Brasil'

O artista plástico brasileiro Vik Muniz conhecia Brent há mais de 30 anos e, além da relação de trabalho, se tornaram amigos.

“Brent foi meu galerista durante três décadas e um amigo por mais tempo que isso. Eu devo uma lealdade incrível ao profissional que ele foi por ser uma das primeiras galerias a ter um contingente de artistas que era metade branco, metade negro, metade mulher, metade homem”, destacou Muniz, em vídeo enviado à TV Globo.

O artista destacou a proximidade do galerista com a arte brasileira e contou que, ao longo deste tempo, se aproximaram. A casa onde Brent vivia já tinha pertencido a Muniz, escolhida para viver no país, o qual visitava anualmente:

"Para mim, ele foi o melhor galerista que eu podia ter, porque era uma galeria que eu tinha um diálogo com o dono da galeria, e a gente criou muitas coisas juntos. Era um amigo. Eu ainda estou chocado por eu ter fomentado um pouco esse amor que ele tinha pelo Brasil. Era uma casa que foi minha, eu que estive com ele aqui as primeiras vezes, e ele amava, amava o Brasil. Não sei o que pensar nisso. Eu ainda estou digerindo essa informação. É muito triste o que aconteceu com ele. Não merecia isso. Era um cara absolutamente formidável", disse o artista plástico.

Contato com as artes

Brent Sikkema começou seu trabalho em galeria em 1971 como diretor de exposições no Visual Studies Workshop em Rochester, Nova York. Sikkema abriu sua primeira galeria em 1976 em Boston, Massachusetts.

Sikkema fundou a galeria em 1991, com o nome de Wooster Gardens, em homenagem à sua localização original, na Wooster Street, segundo o portal especializado Artnet. A galeria “apresenta grandes nomes como Kara Walker e Sheila Hicks, bem como fotógrafos em crescimento, incluindo Nikki S. Lee e Deana Lawson”, de acordo com a publicação.

O outro sócio da galeria, Michael Jenkins, trabalhou em vários projetos com a galeria desde a inauguração em 1991. Em janeiro de 1996, ingressou na galeria como diretor. Tornou-se sócio em 2003.

A instituição exibe obras em várias mídias, como pintura, desenho, instalação, fotografia e escultura. Em sua programação inclui importantes artistas consagrados como Jeffrey Gibson, Arturo Herrera e Vik Muniz, além de talentos emergentes. A galeria também colabora diretamente em exposições e projetos com outros artistas.

IImóvel no Jardim Botânico onde Brent morava — Foto: Reprodução
IImóvel no Jardim Botânico onde Brent morava — Foto: Reprodução

Encontrado morto

A advogada de Brent, Simone Nunes, contou a polícia que não conseguia contato telefônico com o galerista desde sábado. Os dois teriam uma reunião de trabalho na segunda-feira. Com o seu sumiço, ela estranhou e foi à casa dele. Como tinha a chave, ela abriu a porta e entrou no imóvel. No local, ela encontrou a vítima já morta.

Ela então ligou para o Samu. Os socorristas constataram a morte de Brent. Ele estava deitado na cama no interior da residência. Eles chamaram a Polícia Militar.

Em nota, a Polícia Civil informou que a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) investiga o crime. A perícia foi feita no apartamento onde o corpo da vítima foi localizado. Os agentes vão ouvir testemunhas, estão em busca de mais informações e realizam diligências para esclarecer o caso.

"O Consulado dos EUA no Rio de Janeiro confirma a morte de um cidadão americano. Oferecemos nossas mais sinceras condolências à família, a quem estamos prestando toda a assistência necessária. Por motivos de privacidade, não temos comentários adicionais nesse momento", diz nota divulgada na manhã desta terça-feira.

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