Rio
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Por e — Rio de Janeiro

Nos primeiros 46 dias do ano, a cidade do Rio já registrou mais casos de dengue que em todo o ano passado: foram 24.564 diagnósticos da doença. Os números divulgados ontem revelam ainda que as regiões carentes são as mais impactadas. Na Zona Sul, por exemplo, um quarto dos 1.581 pacientes atendidos é da Rocinha, enquanto o vizinho de São Conrado teve 22 notificações (1,4%). Na Zona Norte, o Complexo do Alemão é o bairro com mais ocorrências. A capital decretou epidemia em 2 de fevereiro.

— Tem uma associação das áreas de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) com os números da doença. São locais que têm uma maior dificuldade de abastecimento, e as pessoas são obrigadas a estocar água em caixas d’água. Além disso, há lugares com questões de segurança que os agentes de vigilância da prefeitura nem sempre conseguem acessar com facilidade — explicou o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz.

Dados do Observatório Epidemiológico do Rio (EpiRio) mostram que bairros da Zona Oeste são os com maior quantidade de diagnósticos desde o início do ano: Campo Grande (2.465) e Santa Cruz (1.485). Na mesma região, na terceira posição com 1.073 casos, Guaratiba vai participar de um estudo sobre a eficácia da vacinação contra a doença. Moradores começaram a ser imunizados ontem. Já a Barra da Tijuca, também na Zona Oeste, teve 125 registros da doença.

Quatro mortes suspeitas

Mas o avanço da doença atinge todas as regiões da cidade. Na Zona Sul, por exemplo, o número de casos é 2,3 vezes maior que a média anual de 2014 a 2023. Duas mortes por dengue já foram confirmadas na capital, e outras quatro estão sob investigação: uma mulher de 67 anos, do Complexo da Maré, duas mulheres, de 29 e 51 anos, de Campo Grande, e um homem de 55 anos em Paciência, também na Zona Oeste. Ontem, havia 58 pessoas internadas com dengue e chicungunha (também transmitida pelo Aedes), sendo 22 crianças.

A curva de casos não deve parar de crescer nas próximas semanas. E especialistas alertam que a relação da dengue com a moradia é direta: três em cada quatro focos do Aedes aegypti, mosquito transmissor, estão em casas. Por isso, é preciso monitorar os possíveis criadouros do inseto, como caixas d’água, garrafas, pneus e locais com descarte de lixo.

Um outro dado divulgado pela prefeitura chama atenção para a faixa etária dos doentes. A maior parte dos casos que apresentam sinais de alarme (mais graves) atinge cariocas de 10 a 19 anos. Em seguida, vêm os jovens de 20 a 29 anos. Nesses casos, o paciente apresenta dor abdominal intensa, vômitos e sangramento de mucosas. A pediatra Danielle Negri explica ser essencial a família procurar o atendimento médico nos primeiros sintomas da doença.

— Por mais que a criança esteja sem apetite e se recuse a beber água, o ideal é não deixar o corpo desidratado. Os pais devem insistir para a ingestão de água e sucos naturais. Quanto à medicação, irá depender do quadro da criança, se não for grave, pode ser mantida em casa com analgésicos e antitérmicos — alertou.

O município já abriu polos de atendimento para casos de suspeita de dengue em dez bairros da cidade: Bangu, Benfica, Botafogo, Campo Grande, Complexo do Alemão, Curicica, Del Castilho, Madureira, Santa Cruz e Tijuca. São espaços adaptados em unidades de saúde para receber pacientes, equipados com pontos de hidratação.

Ínício da vacinação

O Ministério da Saúde já definiu que a vacinação contra a dengue vai começar justamente na faixa etária de 10 a 14 anos, escolhida por haver um maior número de internações de pacientes neste grupo. O imunizante Qdenga é autorizado para pessoas de 4 a 60 anos. No Rio, a previsão é iniciar a aplicação no fim deste mês, de forma escalonada — como foi feito na vacinação contra a Covid-19. A capital deve receber 354 mil doses.

Mas, antes do início da campanha oficial, a prefeitura começou a imunizar ontem 20 mil moradores de Guaratiba. Voluntários de 18 a 40 anos foram selecionados num total de 130 mil pessoas. O histórico da incidência de casos e as características geográficas da região pesaram na escolha do bairro pela Secretaria municipal de Saúde. O estudo é feito em parceria como o Ministério da Saúde e a Fiocruz.

— Há a vantagem por ter uma população que não migra muito e tem um bom registro nos prontuários eletrônicos das equipes de saúde da família — disse Soranz.

O estudo terá duração de dois anos, com resultados parciais nos períodos de seis, 12, 18 e 24 meses. Nesse tempo, os pesquisadores colherão informações para observar a diferença de comportamento do vírus entre os vacinados e não vacinados com a Qdenga.

— O estudo vai nos ajudar na tomada de decisão para a ampliação da faixa etária. As evidências científicas que serão geradas aqui no Brasil poderão também auxiliar em nível global. Essa é a faixa etária que temos o maior número de casos no Brasil. É importante compreender como essa vacina funciona nesse grupo — explicou Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, do Ministério da Saúde.

A primeira moradora a ser vacinada foi a autônoma Pauliane Soares, de 32 anos, que nunca teve dengue. Ela disse que se sentiu privilegiada por participar do estudo e agradecida pela pesquisa começar em uma região onde há muitos focos do Aedes.

— É um privilégio grande participar dessa pesquisa. Foi uma surpresa grande quando a agente de saúde me ligou ontem confirmando minha participação. Não tenho casos na família, mas conheço pessoas que tiveram a doença. Agora me sinto mais segura e estou na expectativa de receber a segunda dose — disse.

Projeto de vacinação contra a dengue em Guaratiba, Rio de Janeiro. — Foto: Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-RJ).
Projeto de vacinação contra a dengue em Guaratiba, Rio de Janeiro. — Foto: Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-RJ).
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