O destino do galerista americano Brent Fay Sikkema foi selado em meados de 2023, seis meses antes do seu assassinato. E envolveu, segundo investigações da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), a oferta ao assassino da própria casa onde a vítima foi morta. Além da promessa de pagamento de US$ 200 mil (cerca de R$ 1 milhão), o cubano Alejandro Triana Prevez afirmou em depoimento à polícia que recebeu do homem apontado como mandante do crime, Daniel García Carrera — também nascido em Cuba e ex-marido de Brent —, a proposta de ficar na casa da Rua Abreu Fialho, no Jardim Botânico, onde o galerista morava, cuidando do imóvel como caseiro. O episódio não é o único que envolve disputas por imóveis de Sikkema, assassinado com 18 facadas em 14 de janeiro.
Prevez, preso quatro dias depois, confessou ser o autor do homicídio. E afirmou que Daniel, envolvido numa disputa judicial com o galerista num processo de divórcio em Nova York, nos Estados Unidos, encomendou a morte do ex-marido, com quem tem um filho de 13 anos. Em disputa, estavam US$ 6 milhões (R$ 30 milhões). No último dia 10, a Justiça fluminense decretou a prisão preventiva de Carrera e determinou a inclusão de seu nome na Difusão Vermelha da Interpol, um alerta mundial para prisão de foragidos.
Entre os bens em jogo estão duas propriedades em Havana, capital de Cuba: uma mansão no Bosque, um bairro residencial situado na Plaza de la Revolución, uma das 15 municipalidades da cidade, e uma cobertura não muito longe dali, na Avenida de los Presidentes. Juntos, os dois imóveis são avaliados em US$ 3 milhões (R$ 15 milhões). E a cobertura acabou se tornando um problema para Carrera.
O apartamento foi comprado em agosto de 2016 — quando Sikkema e o cubano ainda eram casados — por US$ 372.500 (cerca de R$ 1,8 milhão). Segundo as investigações da DHC, Carrera alegou ao então marido que tanto a cobertura quanto o apartamento teriam de ser colocados em nome dele: a legislação cubana proíbe que estrangeiros comprem propriedades no país.
Mas, segundo o depoimento à DHC de Simone Silveira Nunes, advogada de Brent no Rio, ao se casar com o galerista Carrera renunciou à nacionalidade cubana e, por isso, não poderia ter mais de uma propriedade na ilha. Daí, teria colocado a prima como dona do imóvel. Quando tentou reaver a cobertura, durante o divórcio, a mulher exigiu US$ 20 mil (aproximadamente R$ 100 mil) para deixar o apartamento, o que enfureceu Carrera.
Ameaça à prima
Em 2023, durante o processo de divórcio, Sikkema já tinha pedido a seus advogados que levantassem documentos para provar que o americano havia comprado as propriedades e que Carrera era o dono dos imóveis, e não a prima. Em 1º de setembro do ano passado, ela recebeu uma mensagem com ameaças de um celular com prefixo de São Paulo: “Ladrona, tenho a partir de hoje ordens para te matar em um mês, se não me devolver o que roubaste”. O dono do chip foi identificado como Raimundo Dominguez. Segundo a DHC, porém, o número foi ativado por Prevez no Brasil e era usado por Carrera.
Prevez disse, em depoimento, que ex-marido do galerista estava procurando alguém que desse “uma surra” no marido da prima.
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