Rio
PUBLICIDADE

A forte correnteza que se formou nas ruas de Nova Iguaçu com a chuva que atingiu a região na noite de quarta-feira é suficiente para que, instintivamente, qualquer pessoa desista de atravessar a via naquelas condições. O problema é que os perigos são grandes mesmo durante situações em que o volume de água acumulada seja menor. O alerta é do meteorologista Marcelo Seluchi, diretor de operações do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

— Pode ser letal. Além do risco de cair em bueiros ou ser eletrocutado, é muito mais fácil do que parece se afogar numa enchente. Uma coluna de água de um metro quadrado com meio metro de altura pesa cerca de meia tonelada. É possível se afogar com meio metro de profundidade porque a água pesa muito, e uma pessoa não tem força para enfrentar uma correnteza. Mesmo um carro, que flutua, pode ser levado — disse Seluchi, em entrevista ao GLOBO publicada em janeiro, dois dias após as chuvas que deixaram 12 pessoas mortas no estado.

As chuvas da noite de quarta-feira provocaram alagamentos e deslizamentos, e cinco mortes no estado do Rio de Janeiro foram confirmadas nesta quinta-feira. Destas, o Corpo de Bombeiros confirmou quatro, em boletim divulgado no início desta tarde. As vítimas são dois homens em Nova Iguaçu, uma mulher, em Barra do Paraí, e uma criança de um ano em Japeri. Neste município, o secretário municipal de Defesa Civil confirmou um segundo óbito, de uma mulher de 24 anos. O Corpo de Bombeiros foi acionado para 137 ocorrências relacionadas às chuvas, nas últimas 24 horas, diz o boletim divulgado às 14h10. Em Mendes, equipes seguem na busca por uma criança de 6 anos desaparecida.

Duas mortes em Japeri

O município de Japeri, na Baixada Fluminense, foi um dos mais atingidos. Na noite de quarta-feira, a casa em que ao menos 11 pessoas viviam na Vila Carmelita desabou. A família e outras pessoas cavaram os destroços para resgatar quem estava sob a terra. Os gêmeos de um ano Calebe Jefferson e Jade Veloso Costa foram deixados na casa pela mãe, Cristiane, que estava com o próprio imóvel alagado. Logo que ela deixou a residência, ocorreu o desabamento. Apesar dos esforços, o menino não foi resgatado com vida. O avô das crianças, que participou dos resgastes, fez um desabafo em que fala: "Estou muito abalado, são anos nessa luta. Foram diversas enchentes".

No local em que uma casa desabou, provocando a morte do menino, o secretário municipal de Defesa Civil de Japeri, Ziel Pavani, divulgou um balanço das chuvas no município.

Além de Calebe, ele confirmou a morte de Ana Caroline Sodré, de 24 anos, num deslizamento no bairro da Chacrinha. No município, desde a chuva da última noite, foram contabilizados 22 deslizamentos, oito desabamentos com perda total de residências — como a que Calebe morreu — e quatro rios que transbordaram. De acordo com o secretário, não há desaparecidos.

Na Rua do Mocambo, no bairro de Engenheiro Pedreira, onde ficava a casa onde Calebe estava, seis residências foram interditadas pelo risco de desabamento. No terreno em que a casa foi abaixo, além do barro, é possível ver colchão, máquina de lavar, fogão e até uma mochila escolar cor de rosa, suja pela lama.

Chuva provoca alagamentos e deslizamentos em Japeri, no RJ

Chuva provoca alagamentos e deslizamentos em Japeri, no RJ

Ainda em Engenheiro Pedreira, do alto de uma casa, uma mulher grava a situação da rua, que segue alagada, apesar da chuva ter parado no momento em que ela mostra o local. É possível ver a água na altura da porta dos carros estacionados na calçada. Durante o relato, a moradora afirma que todos perderam tudo após ficarem "embaixo d'água".

Também em Japeri, em Vila Planetária, uma mulher que está na varanda de casa, na Rua Deputado Soares Filho, mostra a situação de sua rua na noite de quarta-feira. A chuva forte continua, enquanto ela grava o vídeo, e não é possível ver o chão da rua devido ao nível da água acumulada. Ela mostra como o alagamento está próximo de sua casa. Em um outro vídeo, ela mostra que o nível da água está alto e que cobriu o caminho da passagem para sair da rua. "Olha a entrada, toda coberta. Como a gente sai daqui?", questiona. Também é possível ver o alagamento entrando no quintal de um imóvel em frente, de um vizinho.

A Cedae adiou a manutenção da Estação de Tratamento de Água (ETA) Japeri que estava programada para esta quinta-feira em razão das fortes chuvas que atingiram a Baixada Fluminense. A companhia ainda não definiu uma nova data, a ser informada quando agendada.

Em Barra do Paraí, uma morte e rodovia interditada

Uma mulher morreu no desabamento de um prédio de três andares em Barra do Piraí após a forte chuva na noite desta quarta-feira. Quatro pessoas foram retiradas dos escombros pelo Corpo de Bombeiros, que segue buscando outras três vítimas que estariam soterradas, segundo relatos. O prédio que desabou ficava na Rua Siqueira Campos, no Centro do município. As vítimas retiradas do local foram levadas para a Santa Casa. Uma equipe dos Bombeiros especializada em salvamento deixou a cidade do Rio para ajudar nas buscas pelos desaparecidos, todos de uma mesma família: pai, mãe e um filho do casal, de cerca de 1 ano.

Interdição total de rodovia federal

A BR-393, em Barra do Piraí está totalmente interditada, nos dois sentidos, desde a madrugada no km 258. O trecho foi fechado ao tráfego, por volta de 1h50, devido ao risco do pavimento ceder com o grande volume de água acumulado na região. Pouco depois, às 2h38, ocorreu o desmoronamento de parte da via.

  • Sentido Volta Redonda/Barra do Piraí: seguir pela BR-040 no entroncamento com a BR-393, km 167, no município de Três Rios.
  • Sentido Três Rios: fazer o desvio antes de acessar a BR-393 e seguir pela BR-116 em Volta Redonda.

Busca por criança desaparecida em Mendes

Equipes do Corpo de Bombeiros fazem buscas no bairro Vila Mariana, em Mendes, no Sul Fluminense. Uma menina de 6 anos desapareceu no local após o imóvel em que ela estava, na Rua Arariboia, número 1.200, ser atingido por um deslizamento de terra. A mãe e um irmão da criança foram resgatados com vida e levados para a Santa Casa. Não há informações sobre o estado de saúde deles.

Diversos bairros do município também tiveram alagamentos. Em imagens publicadas nas redes, a Praça do Falcão Dias aparece tomada pela água. Não se vê o chão e a água quase cobre os bancos de concreto.

Salvamento emocionante e volume de chuva acima da média histórica em Nova Iguaçu

Enquanto voltava do trabalho no ônibus da empresa e passava por Jardim Alvorada, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, o auxiliar de logística Marcos Vinicius de Souza Vasconcelos, de 20 anos, salvou mãe e dois bebês, irmãs gêmeas, de apenas 1 ano, que estavam em um dos carros arrastados pela água no alagamento. Todo o resgate foi gravado por outros passageiros e durou cerca de cinco minutos.

— O ônibus da empresa mudou a rota porque para onde íamos estava cheio de água. Seguiu pelo bairro da Alvorada e enguiçou. O carro dessa mulher estava na frente, sendo levado pela água. Vi a mulher gritando que estava com criança dentro do carro. A gente foi para porta e a ajudou — contou Marcos.

Veja como mulher e duas crianças escapam de carro levado no temporal em Nova Iguaçu

Veja como mulher e duas crianças escapam de carro levado no temporal em Nova Iguaçu

Nova Iguaçu segue em estágio de alerta máximo devido ao temporal, no fim desta manhã. Segundo a prefeitura, em boletim divulgado às 11h40, nas últimas 24 horas, a cidade recebeu volume de chuva de 188mm, sendo o pico da tempestade entre 19h e 22h, quando foram registrados 140mm, o que representa 116% da média histórica do mês de fevereiro, de 119,8 mm. De acordo com os Bombeiros, dois homens morreram em decorrência das chuvvas nos bairros Ipiranga e Jardim Pernambuco. A identidade deles não foi divulgada.

Ainda segundo o balanço, há aproximadamente 200 pessoas (50 famílias) desalojadas. Não há informações feridos. Vinte escolas da rede municipal estão com as aulas suspensas. O Corpo de Bombeiros foi acionado para resgatar moradores que ficaram presos em suas casas em decorrência das inundações.

Por conta do temporal na região, três Pontos de Apoio da Defesa Civil foram abertos durante a noite de quarta-feira. Somente um deles recebeu uma família, que já retornou para casa nesta manhã. Os locais, que servem para abrigar temporariamente aqueles que precisam deixar suas casas, já foram fechados e serão reabertos em caso de necessidade.

De acordo com o último boletim da Secretaria Municipal de Defesa Civil (SMDC), 67 ocorrências foram registradas em diferentes bairros, sendo a maior parte delas por alagamentos. No comunicado divulgado pela prefeitura, por volta das 6h, constava:

  • 1 desabamento de muro
  • 30 pontos de alagamento ou inundação, com destaque para o bairro Comendador Soares, com seis registros
  • 3 deslizamentos de barreira
  • 1 desabamento parcial de imóvel, no bairro Inconfidência
  • 2 desabamentos de imóvel, nos bairros Cerâmica e Austin
  • 1 vistoria técnica
  • 2 quedas de árvore
  • 1 ameaça de desabamento de imóvel, no bairro Austin

Aos que estiverem em local seguro, a Defesa Civil pede para que evitem se deslocar pela cidade.

A Secretaria Municipal de Saúde do município informou, em boletim divulgado às 10h15, que as unidades básicas de saúde Clínica da Família de Jardim Palmares e Cerâmica 2 foram atingidas pelas chuvas e tiveram seus atendimentos suspensos nesta quinta-feira para limpeza e higienização. As consultas que já estavam marcadas foram automaticamente reagendadas para a próxima quinta-feira, dia 29, no mesmo horário, segundo a prefeitura.

Paracambi embaixo d'água

O cenário era o mesmo no Centro de Paracambi, município da Região Metropolitana do Rio. Em um vídeo publicado numa rede social, um homem mostra o alagamento, que chega na altura da porta dos carros. A força da água faz uma espécie de correnteza.

No bairro BNH de Baixo, um morador gravou da janela de casa o volume de água acumulado na rua. Há carros estacionados e não é possível ver as rodas dos veículos, todas encobertas pela enchente.

Em outro vídeo de morador, que foi publicado nas redes, o nível do alagamento em uma rua chega na altura da janela dos carros parados.

Capital acompanha redução das chuvas

A Zona Oeste da cidade do Rio foi a região da capital mais atingida pelas fortes chuvas na noite de quarta-feira. Entre os bairros mais afetados estão Bangu e Jacarepaguá. Por volta das 18h, moradores começaram a denunciar alagamentos em diversas ruas.

No balanço divulgado pelo Centro de Operações Rio (COR), no início desta manhã, constam que a cidade teve nove bolsões d’água e um ponto de alagamento, estes já finalizados, uma queda de árvore e um desabamento de barreira.

Segundo o Alerta Rio, nesta quinta-feira, as condições atmosféricas no município serão influenciadas por áreas de instabilidade e ventos em altitude. O céu varia entre nublado e parcialmente nublado, com previsão de pancadas de chuva moderada à tarde e à noite. As temperaturas seguirão estáveis, com mínima prevista de 22 graus e máxima de 33 graus. Os ventos podem variar de fracos a moderados.

Impacto nos trens

A Supervia, por meio das redes sociais, confirmou que a circulação de trens na extensão Paracambi permanece suspensa. A publicação foi feita às 8h50 desta quinta-feira.

O ramal Japeri foi um dos mais afetados pelas chuvas. No início da manhã, era operado com intervalo irregular. Pouco depois das 9h a circulação foi normalizada, com circulação com intervalos normalizados, segundo a Supervia.

Mapa de risco

O governo do estado divulgou, às 8h10 desta quinta-feira, o mapa de risco hidrológico do Rio de Janeiro, em que são avaliadas as chances de inundação, enxurradas e alagamentos. Dividido em cinco níveis, ele vai do muito baixo (com nenhum município com essa classificação no momento) ao muito alto. São destacados os seguintes grupos:

  • Risco muito alto: Nova Iguaçu, Queimados, Paracambi, Mendes e Barra do Piraí
  • Risco alto: Porto Real, Engenheiro Paulo de Frontin, Japeri, Rio de Janeiro e Belford Roxo

Atuação dos Bombeiros no RJ

A operação do Corpo de Bombeiros conta com 2.400 militares, incluindo bombeiros extras divididos em Grupos de Resposta ao Desastre (GRDs), com apoio de viaturas de salvamento, ambulâncias, barcos de alumínio para socorro a pessoas ilhadas por inundações e alagamentos, drones, aeronaves para busca de vítimas e monitoramento das áreas atingidas, cães farejadores, além de especialistas em resgate em estruturas colapsadas, entre outros recursos.

Alagamento com vítimas no mês passado

Na Baixada Fluminense, as enchentes tornaram-se um problema histórico, e os moradores do entorno do Rio Botas — que corta cidades como Nova Iguaçu e Belford Roxo — são os mais afetados. O transbordamento no rio não é novidade para quem vive na região, mas continua causando tragédias e alagando bairros inteiros. No mês passado, o temporal que transbordou o rio fez com que o nível da água no entorno chegasse a quase dois metros. Em alguns lugares, só foi possível se locomover de barco. Na época, 12 pessoas morreram em razão das chuvas em toda a Região Metropolitana do Rio, cerca de 9 mil ficaram alojadas e 300, desabrigadas, segundo o Governo do Estado.

Mais recente Próxima Vítimas das chuvas no RJ vão receber 35 toneladas de alimentos e itens de higiene e limpeza através da Ação da Cidadania

Inscreva-se na Newsletter: Notícias do Rio

Mais do O Globo

Tyreek Hill foi algemado de bruços perto de estádio e liberado a tempo de partida do Miami Dolphins contra o Jacksonville Jaguars

Policial que deteve astro da NFL a caminho de jogo é afastado

Como acontece desde 1988, haverá uma demonstração aberta ao público no Centro de Instrução de Formosa, em Goiás

Tropas dos EUA e da China participam de treinamento simultaneamente dos Fuzileiros Navais no Brasil

Auxiliares do presidente veem influência excessiva de integrantes da legenda do deputado em eventos de campanha

Entorno de Lula vê campanha de Boulos muito 'PSOLista' e avalia necessidade de mudanças

Cantor criticou autoridades responsáveis pela Operação Integration; Fantástico, da TV Globo, revelou detalhes inéditos do caso que culminou na prisão da influenciadora Deolane Bezerra

Com R$ 20 milhões bloqueados, Gusttavo Lima diz que suspeita de elo com esquema de bets é 'loucura' e cita 'abuso de poder': 'Sou honesto'

Investigação começou após a encomenda com destino a Alemanha ser retida pelos Correio; ele criava aranhas em sua própria casa para venda

Homem que tentou enviar 73 aranhas para a Alemanha por correio é alvo da Polícia Federal em Campinas

Um dos envolvidos já havia sido preso e confessou ter entrado em uma briga com as vítimas

Chacina da sinuca: o que se sabe sobre briga após campeonato em Sergipe que terminou com seis mortos, um preso e dois foragidos

Num deles, Alexandre de Moraes é sugerido como sendo 'advogado do PCC'

Eleições SP: campanha digital de Nunes lança série de vídeos de ataques a Marçal