Chamado pelos colegas de Príncipe do Ministério Público, Everardo Moreira Lima foi o mais bem colocado no primeiro concurso de provas e títulos para o Ministério Público do Distrito Federal, em 1951. Na ocasião, ele foi nomeado pelo então presidente da República, Getulio Vargas, político do qual discordava durante a ditadura do Estado Novo (1937-1945), quando ainda era um estudante de Direito na Universidade Federal Fluminense (UFF).
Sua carreira como jurista foi marcada por grandes atuações. Estreou com destaque no Tribunal do Júri como promotor em 1952 e atuou em causas de repercussão, como o caso do assassinato do dono da Construtora Predial Corcovado, André Jules Cateysson, em 1954, considerado o maior empreiteiro do Rio, responsável pela expansão imobiliária em Copacabana, nos anos 1950. O empresário foi assassinado pelo ex-sócio. À época, o caso teve enorme visibilidade. Na ocasião, Everardo cunhou a expressão “Copa-Sodoma, a cidade do vício e do pecado”, em referência ao submundo existente no bairro.
Everardo também acompanhou ativamente a transferência da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília, a fundação do Estado da Guanabara em 1960, a fusão do Estado da Guanabara e do Estado do Rio em 1975 e a preparação da Constituição Cidadã de 1988.
Ao longo de sua trajetória, foi o primeiro presidente da Associação do Ministério Público do Rio de Janeiro (Amperj), esteve à frente da entidade entre 1974 e 1976 e contribuiu para sua estruturação. Também foi o primeiro subprocurador geral de Justiça do Ministério Público do Rio de Janeiro em 1988; primeiro promotor titular da 21ª Vara Criminal; e primeiro representante do MPRJ a receber o Colar do Mérito Judiciário, maior honraria concedida a pessoas e instituições, nacionais ou estrangeiras, em virtude de seu destaque na prestação de serviços relevantes à Justiça ou à cultura jurídica. Ainda presidiu o Instituto Cultural Brasil-Alemanha (Goethe-Institut) e integrou a Academia Brasileira de Letras Jurídicas.
Everardo se destacou na área da advocacia empresarial, defendendo a livre iniciativa e a redução da intervenção do Estado, assunto sobre o qual escreveu um livro, em 1970, marcando sua posição contrária à política econômica praticada pela ditadura militar. Além de advogado e jurista, foi professor da Fundação Getulio Vargas.
Em 2022, já aposentado, lançou, na Amperj, o livro “Cartas aos amigos”. A obra é uma seleção feita a partir de mais de 300 cartas que Everardo enviou a parentes, amigos e colegas durante quase 30 anos. Ele discorreu sobre os mais diferentes assuntos — como família, vida, literatura, cidadania, viagens e pós-verdade —, a partir de suas experiências.
Como intelectual, participou de importantes grupos de pensamento sobre o Brasil, inclusive do Instituto Superior de Estudos Brasileiros, cujo fundador, o escritor Hélio Jaguaribe, foi seu grande amigo. O jurista costumava revisar os esboços de Jaguaribe antes de serem publicados. Em um dos seus últimos livros lançados, Jaguaribe fez questão de deixar uma dedicatória ao amigo.
Homenagem
O procurador de Justiça aposentado Everardo Moreira Lima, que completaria 100 anos no dia 2 de março, morreu ontem. Ele estava hospitalizado e lutava contra um câncer. Pela trajetória e sua importância para o Ministério Público, a diretoria da Amperj decidiu homenageá-lo dando seu nome ao auditório da sede social da entidade. Ele deixa o filho, o embaixador Sérgio Eduardo Moreira Lima, e seis netos.
— Meu pai deixa um legado ético e moral de um homem que sempre defendeu o diálogo. Foi um amigo leal, um grande conselheiro que amou e honrou sua família, amigos e o Ministério Público — disse o embaixador.
Informações sobre o velório e o enterro ainda não foram divulgadas pela família.
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