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Por e — Rio de Janeiro

A Polícia Civil e o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) fazem uma operação, na manhã desta quinta-feira, cujo alvo é o bicheiro Bernardo Bello Pimentel Barbosa e sua organização criminosa. Os agentes foram cumprir oito mandados de prisão e oito de busca e apreensão, expedidos pela Justiça, em estabelecimentos comerciais. Segundo os investigadores, as empresas faziam parte de um esquema de lavagem de dinheiro do contraventor e teriam movimentado cerca de R$ 159 milhões desde 2020. Além de Bello, há mandados de prisão preventiva contra seu ex-cunhado, Allan Diego Magalhães Aguiar, que já se encontra preso por um homicídio. Bello segue foragido.

As investigações apontam que uma das empresas envolvidas no esquema movimentou, durante oito meses, em 2021, cerca de R$ 79 milhões. Outras duas teriam movimentado R$ 80 milhões desde 2020. A Polícia Civil pediu, por meio do Gabinete de Recuperação de Ativos (GRA), o sequestro de todos os veículos, embarcações, quotas sociais e imóveis, entre outros, vinculados às empresas envolvidas no esquema de lavagem de dinheiro. Também pediram o bloqueio sobre os saldos das contas e quaisquer bens, direitos e valores dos membros da organização criminosa.

A ação, Operação Às de Ouro III, é um desdobramento das operações Às de Ouro I e II, ocorridas em junho de 2022 e em julho do ano passado, realizadas pelo Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ e a Polícia Civil. Foi por meio dessas investigações para elucidar o assassinato do advogado Carlos Daniel Dias, ocorrido em maio de 2022, no bairro do Cafubá, na Região Oceânica de Niterói, que os agentes e promotores descobriram que Bernardo Bello tinha como operador financeiro Allan Diego. No esquema de lavagem de dinheiro de ativos, a polícia também aponta como integrantes do núcleo criminoso o pai e o irmão de Allan Diego: Evaldo de Aguiar e Renan Aguirre Magalhães Aguiar. Os dois foram denunciados pelo MPRJ, mas não houve pedido de prisão contra eles.

O bicheiro Bernardo Bello em entrevista ao documentário "Vale o escrito" — Foto: Reprodução
O bicheiro Bernardo Bello em entrevista ao documentário "Vale o escrito" — Foto: Reprodução

Bello está foragido desde novembro de 2022 por conta de uma outra operação do Ministério Público do Rio. Procurado desde então e com cinco mandados em aberto, a Polícia Civil e o MP tentam localizá-lo.

— Nós estamos trabalhando com algumas hipóteses de localização dele. Estamos diuturnamente atrás da localização dele para poder efetuar a prisão, não só dele como de seus comparsas que ainda estão com o mandado de prisão em aberto — disse o secretário da Polícia Civil, delegado Marcus Vinícius Amim.

Nesta fase, a terceira, o GAECO/MPRJ denunciou o total de 13 pessoas à Justiça pelos crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa. Cinco alvos de mandados de prisão já estavam presos, sendo eles: Allan Diego, Marcelo Magalhães, Isaquiel Fraga, Rodrigo Palomé e Wallace Pereira Mendes. Seguem foragidos Bernardo Bello, Marcelo Sarmento e Diego Netto Braz dos Santos.

Busca e apreensão em posto de combustível

O delegado responsável pela operação, Pablo Valentim, chegou a uma unidade do posto Shell, um dos endereços alvos desta operação, localizado na Rua Belkiss, em Coelho da Rocha, por volta das 6h.

Acompanhado de agentes do Gaeco e do MPRJ, os policiais cumpriram mandado de busca e apreensão. No estabelecimento que funciona em frente a uma igreja, em Coelho da Rocha, foram apreendidos duas máquinas de cartão, documentos e caderno de anotações. Os agentes também tentam abrir um cofre encontrado no local. Segundo funcionários, o atual dono do posto, identificado apenas como Alan, era responsável por tomar conta do local e fazer as negociações. Acompanhado dos advogados, ele chegou ao local por volta das 8h35 e foi conduzido para uma sala que fica no segundo andar do posto de gasolina, ao lado de uma loja de conveniência.

O posto está com um interventor para gerar renda para pagamento de impostos devidos ao poder público, como previsto na lei de lavagem de dinheiro. De acordo com os funcionários, o estabelecimento, aberto em julho do ano passado, também era conhecido no bairro por vender gasolina adulterada.

O ex-cunhado de Mello, Allan Diego, um dos alvos desta operação, é o antigo dono e responsável pelo posto. Ele já está preso e é apontado como operador financeiro do esquema do bicheiro.

Também estão sendo cumpridos oito mandados de busca e apreensão em endereços de pessoas físicas e jurídicas em na capital, nos bairros Penha Circular, Freguesia e Barra da Tijuca, e nos municípios de São João de Meriti e Nova Iguaçu, todos na Região Metropolitana do Rio. Os mandados foram expedidos pela 2ª Vara Criminal Especializada da Capital.

Investigação em empresas

Na operação desta quinta-feira, os levantamentos do Gaeco, do Departamento-Geral de Combate à Corrupção ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD) e da Subsecretaria de Inteligência (SSinte) da Secretaria de Estado de Polícia Civil com o Coaf foram fundamentais para comprovar o método de lavagem de dinheiro adotado pela quadrilha. Enquanto Bernardo Bello é acusado de ser o chefe do bando, Allan Diego é apontado pelos investigadores como o braço financeiro do grupo criminoso. Ele consta como sócio de empresas, principalmente postos de gasolina.

— Alguns estabelecimentos, como o aplicatio que fornece kit de churrasco, postos de gasolina e outras empresas que ele usava para lavar dinheiro com todo o esquema operado por outras pessoas, algumas próximas a ele, como, por exemplo, o Alan, outras que ele teve como sócio e tentou tomar todo o negócio para ele e a gente conseguiu mapear todas essas empresas e fazer os bloqueios de bens em relação não só ao Jurídico como às pessoas físicas — disse Amin.

O secretário destacou que as empresas identificadas como parte do esquema criminoso não vão parar de funcionar, mas, a partir de agora, passam a ser administradas pela Justiça, assim como é feito atualmente num dos postos de gasolina que foi alvo da operação desta manhã em Coelho da Rocha.

— Elas não vão parar de funcionar,. Isso é importante dizer porque algumas pessoas trabalham ali e sequer sabiam que era uma lavagem de dinheiro, então a gente não pode prejudicar essas pessoas. A Justiça assume essas empresas, que continuam funcionando, e todo esse dinheiro que será arrecadado passa aos cofres públicos.

A primeira empresa a ganhar a atenção dos investigadores foi a Z do Churrasco Indústria e Comércio de Alimentos LTDA, na Penha, justamente onde houve um conflito de interesses que culminou com o homicídio do advogado Carlos Daniel Dias André, ex-policial civil. No quadro societário da empresa, era o nome de Marcelo Magalhães que constava como sócio-administrador. No entanto, o administrador de fato era Allan Diego. A Z do Churrasco é especializada em vender kits para churrasco. Há informações de que, em oito meses, o estabelecimento comercial teve uma movimentação financeira de cerca de R$ 22 milhões, o que seria incompatível com o porte dela, segundo as investigações do DGCOR-LD e do Gaeco.

Posto de gasolina foi um dos alvos da operação da Polícia Civil e do MPRJ contra Bernardo Bello e seu grupo — Foto: Jéssica Marques/Agência O Globo
Posto de gasolina foi um dos alvos da operação da Polícia Civil e do MPRJ contra Bernardo Bello e seu grupo — Foto: Jéssica Marques/Agência O Globo

Após uma divergência, Allan Diego expulsou o sócio do negócio, com a ajuda de um bando armado. Marcello, então, decidiu entrar na Justiça e procurou apoio de Carlos Daniel como advogado. Após tentativas de conciliação frustradas, o advogado aconselhou o cliente a registrar uma ocorrência na Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE) para explicar o golpe sofrido por parte do sócio. Isso provocou irritação em Allan Diego, que relatou a Bello a exposição causada pelo ex-sócio aos negócios ilícitos do bando.

Segundo as investigações, inicialmente, a ordem do contraventor era para executar Magalhães. Ao tomar conhecimento que a orientação foi dada por Carlos Daniel, Allan Diego e Magalhães voltaram a se entender e, segundo a polícia, o contraventor decidiu que a vítima seria o advogado. Após ser monitorados por oito dias, o carro blindado de Carlos Daniel foi atacado numa emboscada, quando estava parado num sinal. O atirador aproveitou uma pequena brecha do vidro do carona aberto para atirar, executando a vítima. A polícia e o Gaeco apontaram Rodrigo Palomé da Silva como autor dos disparos e Isaquiel Geovani Fraga, responsável por pilotar a moto usada na abordagem. Os dois já estão presos e tiveram mandados de prisão contra eles expedidos na operação desta quinta-feira. Marcelo Sarmento Mendes, vulgo Repolhão, foi acusado de coordenar a execução. Como Bello, este último também está foragido.

Os mandados de prisão foram expedidos contra: Bernardo Bello, Allan Diego, Marcelo Magalhães, Marcelo Sarmento, Isaquiel Fraga, Rodrigo Palomé, Diego Netto Braz dos Santos e Wallace Pereira Mendes. Os dois últimos são filhos de Marcelo Sarmento — apontado como segurança de Bello —, que deram apoio operacional ao crime.

Quem é Bernardo Bello

Bernardo Bello se casou com Tamara Harrouche Garcia, filha de Waldermir Paes Garcia, o Maninho. Com a morte do patriarca da família Garcia, num assassinato em setembro de 2004, os negócios da contravenção do grupo seriam herdados pelo irmão dele, Alcebíades Paes Garcia, o Bid. O então herdeiro foi assassinado em fevereiro de 2020.

Bello está foragido desde novembro de 2022, quando foi alvo da Operação Fim da Linha, do Ministério Público estadual. Na época, ele respondia em liberdade ao processo pela morte de Bid. Após descumprir as medidas cautelares impostas nesse processo, Bello teve a prisão novamente decretada.

Bicheiro confesso, Luiz Cabral Waddington contou que trabalha há 20 anos para a “família Garcia” — de Waldemir Paes Garcia, o Maninho, assassinado em setembro de 2004 — cujos negócios ilegais seriam hoje controlados por Bernardo Bello. Ele afirmou ser “gerente” de mais de 40 pontos de jogo, do Engenho Novo ao Leblon.

O mapa da contravenção no Rio — Foto: Editoria de Arte
O mapa da contravenção no Rio — Foto: Editoria de Arte

Bello, apontado como um dos mais poderosos da nova geração, quebrou o silêncio que impera entre os chefões do jogo para acusar o contraventor Rogério de Andrade, seu rival, de querer matá-lo. Em entrevista inédita, concedida à série “Vale o escrito — a guerra do jogo do bicho”, o bicheiro disse que Rogério, sobrinho de Castor de Andrade, é o “senhor do crime” no Rio de Janeiro, teria ingerência sobre os integrantes do Escritório do Crime e estaria por trás “de tudo que possa” no estado, referindo-se à longa lista de vítimas que tombaram nos confrontos.

No centro de uma violenta disputa pelo legado de Maninho, que envolve o controle de máquinas de caça-níqueis e pontos de bicho da Zona Sul, Bello disse que resolveu falar após concluir que Rogério estaria usando uma delação premiada, feita por Júlia Lotufo, viúva do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, para acusá-lo de crimes praticados pelo rival. A colaboração não foi homologada pela Justiça.

Rogério teria decretado guerra a Bello, em raro confronto entre bicheiros de famílias distintas, depois que se aliou a Shanna Garcia pela retomada dos pontos de bicho e de máquinas caça-níqueis dos Garcia na Zona Sul do Rio. Ex-marido de Tamara, Bello teria assumido o controle do território e suspendido o pagamento da participação dos integrantes da família no lucro da jogatina.

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