O entregador Nilton Ramon Barromeu de Oliveira, de 25 anos, recebeu alta do Hospital municipal Salgado Filho, no Méier, Zona Norte do Rio, neste sábado, 16. Ele foi baleado à queima-roupa pelo cabo da Polícia Militar Roy Martins Cavalcanti, que se recusou a ir até a portaria do condomínio onde mora, na Vila Valqueire, também na Zona Norte. O entregador estava internado desde o dia 4 de março. Durante esse período, ele passou duas cirurgias na coxa esquerda e ficou entubado em estado grave.
Eram cerca de 19h quando Nilton chegou ao endereço da entrega. A cliente teria pedido para que ele entrasse e deixasse a compra no apartamento e não na portaria, mas o entregador se recusou. Pela norma do iFood, plataforma para a qual Nilton trabalha, a obrigação é deixar o pedido “no primeiro ponto de contato, seja a portaria da casa ou a portaria do prédio”. Essa é a orientação repassada a entregadores e clientes. Diante do impasse, Nilton, que é entregador há quatro anos, acionou o protocolo de devolução da encomenda e voltou para a loja, na Praça Saiqui.
Armado, o marido da cliente, o cabo Roy, foi atrás do entregador até a lanchonete. Ao ser abordado, Nilton começou a filmar a discussão — o policial aparece com uma arma. A esposa do PM também aparece na confusão. A vítima não registrou o momento do disparo.
No entanto, vídeos que circularam em redes sociais mostravam o entregador caído no chão após ser baleado, ainda com a mochila nas costas. É possível ver pessoas se movimentando ao redor dele.
Entregador foi baleado por PM que se recusou a descer para pegar refeição
O disparo feito pelo PM atingiu a artéria femoral de Nilton. Roy se apresentou na 32ª DP (Taquara) e alegou legítima defesa. O caso foi registrado como lesão corporal. A arma de Roy chegou a ser apreendida pela Polícia Civil, mas devolvida logo depois.
Na delegacia, ele disse que fez um torniquete na perna do entregador e que chamou o socorro. O crime é investigado pela 28ª DP (Campinho). Um processo da Corregedoria da Polícia Militar também foi instaurado para apurar as circunstâncias do caso.
Aplicativo de entrega registra 4 mil casos de ameaça e agressão
De janeiro a março deste ano, a plataforma do Ifood registrou 4 mil casos de ameaça e agressão aos entregadores no estado do Rio. Em junho do ano passado, após atender a uma petição dos colaboradores, o aplicativo lançou uma Central de Apoio Psicológico e Jurídico para atender os entregadores vítimas de violência. Em dez meses, foram registrados 28 casos no estado: 32% deles por ameaça, 25% por agressão física, 18% por descriminação e 7% por violência sexual.
A maioria está na Zona Sul da capital, 42% dos acionamentos, 21% na Zona Oeste e 37% nas demais regiões. Só nos últimos três primeiros meses deste ano, 26 entregadores no estado do Rio tiveram acesso à assistência psicológica. De acordo com o aplicativo, cada entregador cadastrado tem acesso a um botão para reportar uma ocorrência. No caso do entregador Nilton, o Ifood disponibilizou uma advogada que está acompanhando o caso.
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