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Por — Rio de Janeiro

Convidado para palestrar sobre a importância do saneamento básico na próxima Conference at Harvard & MIT, nos dias 6 e 7 de abril, em Cambridge, nos Estados Unidos, o gari e escritor Valdeci de Souza Boareto entrará pela primeira vez em um avião, no dia 5, cheio de sonhos e muita história para contar. Autor do livro "Comportamento que te salva", ele fala da sua trajetória até chegar à primeira publicação e ao reconhecimento público. Com uma infância marcada pela miséria na favela de Acari, na Zona Norte do Rio, foi durante a pandemia, após se deparar com um caminhão frigorífico cheio de corpos vítimas da Covid-19 na frente do Hospital Ronaldo Gazolla, vizinho à comunidade, que decidiu sair de onde nasceu e se isolar em uma casa em uma área rural de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, onde começou a escrever.

Com 55 anos, é a primeira vez que Valdeci vai viajar de avião e a segunda que sairá do Estado do Rio. Durante toda a vida, só tinha viajado uma vez para Minas, de ônibus.

— Quando me ligaram de Harvard, achei que era trote. Mas disseram que estavam me acompanhando nas redes sociais e que queriam que eu falasse sobre a importância que o saneamento básico tem nas nossas vidas. Trabalho como gari há 27 anos e, apesar de situação ter melhorado muito, lido com pessoas mal educadas, que jogam lixo no chão. Quero mostrar que o planeta é nossa casa. Isolado na pandemia no meio do mato, percebi que através do nosso comportamento a gente salva vidas, empregos e aqueles que estão perto de nós. Aí resolvi escrever sobre isso e está sendo sucesso de vendas. Lancei o livro no ano passado e agora ele está estourando através de palestras que dou nas escolas públicas e nos outros lugares que me convidam. É algo que está sendo maravilhoso — diz.

Valdeci explica que não teve muito contato com os livros durante a vida e que a pandemia o fez repensar na sua missão. Filho de uma mãe negra retinta e um pai branco de olhos azuis, descendente de italianos, ele sentiu o peso do racismo logo cedo, quando a família paterna renegou a mãe. A história do casal, que já faleceu, ele pretende colocar no papel em uma futura publicação. O primeiro livro ele classifica como autoajuda, com mensagens de resiliência e empatia.

— Nasci dentro de casa, na favela. Minha mãe costumava brincar que se tivesse ido ao hospital teriam me tirado dela porque eu nasci mais claro. A história da minha família é muito dura, mas bonita. Quando meu pai conheceu minha mãe, a avó paterna falou que preto com ela era só na chibata. Aí ele largou a família e foi morar com a mulher em Acari. Ela aguentou muita pressão e essa resistência que tenho hoje aprendi com em casa. Meus pais viveram juntos a vida toda, com muito amor, mas tivemos uma vida de muita miséria. Eu ia para a escola para comer, não para estudar. Cheguei a repetir a quarta série cinco vezes e fui terminar o segundo grau mais tarde, com supletivo. Meu sonho é cursar uma faculdade de psicologia. Cheguei a fazer vestibular para uma universidade particular há 15 anos, mas não tive condições de pagar — detalha o gari escritor, que é pai de quatro filhos: a mais nova tem 13 anos e a mais velha cursa ciências sociais.

Valdeci conta que a ideia do livro surgiu quando um amigo escritor perguntou se ele tinha alguma história para contar.

— Falei que estava escrevendo histórias de pessoas que conheci. Aí longo da vida conheci muita gente e, mesmo muitas das que tinham um QI elevado não conseguiram resistir aos dias maus. Esse livro fala sobre resiliência e empatia, bate na vida de cada um. Já engoli muitos sapos e percebi que através do comportamento a gente salva vidas, empregos e aqueles que estão perto de nós.

Ex-segurança, ele entrou para a Comlurb jovem. Hoje, trabalha na escola municipal Padre Manoel da Nóbrega, em Ramos, ao lado de crianças. Ao participar da última Bienal do Livro, em setembro, fez sucesso com pequenos e chamou a atenção dos adultos ao autografar vestindo o uniforme laranja. O livro foi publicado pela editora do Instituto Sal e Luz, que o deixou pagar os custos quando desse e ele quitou logo no mês seguinte. A Comlurb ajuda na divulgação.

— Fui apresentado na Academia de Letras e já me chamaram para assinar um prefácio. Meu próximo livro será para as crianças. Estou indo onde não sonhei — completa Valdeci.

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