Rio
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Por e , O GLOBO — RIo de Janeiro

No intervalo de pouco mais de uma semana, duas pessoas morreram no Rio em decorrência de incidentes relacionados a instalações elétricas. Os casos em sequência chamaram a atenção para velhos problemas conhecidos dos cariocas: ligações — públicas ou domésticas — clandestinas e precárias; falta de manutenção preventiva; postes sobrecarregados; e furto de cabos e fios que deixam pontas energizadas expostas, inclusive dentro de bueiros. Conjugados, esses fatores foram responsáveis, direta ou indiretamente, por 42 mortes no ano passado na cidade do Rio, de acordo com dados do DataSUS. Nos dois primeiros meses de 2024, foram sete registros. O Corpo de Bombeiros informou que atendeu, só este ano, 66 ocorrências relativas a choques elétricos no estado. Em 2023, foram 251 atendimentos dessa natureza contando casos ocorridos dentro de residências e em vias públicas.

Na manhã deste domingo, o porteiro Leonardo Monsores da Silva, de 45 anos, casado e pai de uma adolescente de 14 anos, levou um choque ao encostar no poste que fica na calçada em frente ao prédio onde trabalhava, em Ipanema, na Zona Sul. Ele caiu, bateu a cabeça no chão e não resistiu. Ontem, equipes da concessionária Smart Luz — responsável pelo serviço de iluminação pública da cidade — retornaram ao local e isolaram mais um poste, desta vez na Rua Teixeira de Melo, a 200 metros do local onde o homem sofreu a descarga elétrica.

À espera da perícia

Após a morte de Leonardo Monsores, e antes da perícia da polícia, equipes da concessionária Smart Luz trabalharam no poste onde ele recebeu a descarga elétrica. De acordo com a delegada Thaianne Pessoa, da 14ª DP (Leblon), onde o caso foi registrado, essa conduta será investigada.

— Intimamos os funcionários para depoimento — disse a delegada.

Fios soltos em poste de sinalização de trânsito na Rua Silveira Martins, no Catete — Foto: Hermes de Paula
Fios soltos em poste de sinalização de trânsito na Rua Silveira Martins, no Catete — Foto: Hermes de Paula

A polícia ainda espera a conclusão da perícia para confirmar a causa da morte de Leonardo.

— Ainda precisamos do laudo para afirmar. Até amanhã (hoje), acreditamos que esteja pronto. Hoje (ontem) foram coletados os elementos no local e também intimadas novas testemunhas — acrescentou a delegada Thaianne Pessoa.

De acordo com funcionários da concessionária que trabalhavam, ontem, no entorno de onde o porteiro morreu, a empresa solicitou que a equipe técnica testasse todos os postes do quarteirão e isolasse aqueles que apresentassem problemas de descarga elétrica a fim de evitar novos acidentes.

Moradores relataram que há pelo menos três meses vinham denunciando à concessionária e à prefeitura o péssimo estado de conservação dos postes de luz. Na área em frente ao prédio onde o porteiro morreu, na Rua Barão de Torre, havia fios expostos e desprendidos no poste. O local, no entanto, não estava mais isolado ontem.

— Muitos desses postes são de modelos antigos, fabricados em metal, o que agrava ainda mais a situação — comentou uma moradora que preferiu não se identificar.

A Smart Luz, por meio de nota, lamentou o ocorrido, expressou solidariedade à família da vítima e informou que “o acidente foi causado por uma ligação clandestina na rede de iluminação pública”. A concessionária ainda cobrou mais rigor na fiscalização e punição das ligações clandestinas, popularmente conhecidas como “gatos”: “além da melhoria na educação e consciência social de que ligações clandestinas podem energizar tampas, bueiros, postes e demais itens no seu entorno, é imprescindível que as autoridades governamentais implementem medidas eficazes de fiscalização e punição de quem faz ligação ilegal, a fim de desencorajar a prática que gera perigo”, diz a nota.

Postes com fiação exposta na Praia do Flamengo — Foto: Hermes de Paula
Postes com fiação exposta na Praia do Flamengo — Foto: Hermes de Paula

Também por meio nota, a Companhia Municipal de Energia e Iluminação (RioLuz) informou que há previsão de que sejam substituídos 18 mil postes de aço por outros de fibra “em locais de grande circulação de pessoas”. De acordo com a empresa, “a concessionária Smart Luz já trocou dez mil postes”.

Até os pets sofrem

O fato é que as reclamações sobre postes e bueiros energizados na cidade se multiplicam por toda a cidade, inclusive em outros bairros da Zona Sul. Moradores relatam choques elétricos sofridos por animais de estimação ao passarem por bueiros na esquina das ruas Santa Clara e Barata Ribeiro, em Copacabana, além das ruas Bento Lisboa e Senador Vergueiro, no Catete. A passeadora de cães Julia Nascimento, de 28 anos, vivenciou essa situação várias vezes.

— Em dias de chuva, sempre que os cachorros pisam em cima de tampa de bueiro, tomam choque. Nós não sentimos porque estamos calçados, mas eles estão com as patas desprotegidas. Isso é um perigo. Nunca vi ninguém fazer nada. É algo gravíssimo. Eles tomam choque, saltam e gritam — conta Juliana.

Julia Nascimento em passeio com cachorros na Zona Sul — Foto: Hermes de Paula
Julia Nascimento em passeio com cachorros na Zona Sul — Foto: Hermes de Paula

O GLOBO percorreu, ontem, várias ruas de Glória, Catete e Flamengo e flagrou postes enferrujados, fiação exposta e fios soltos.

O perigo de choques, no entanto, não se restringe a ruas e outros espaços públicos. No domingo anterior à morte do porteiro Leonardo Monsores, o jovem João Vinícius Ferreira Simões sofreu um choque e morreu ao encostar num food truck instalado na área do Riocentro, na Zona Oeste, durante a realização de um festival de música.

— O primeiro passo é não encostar em postes metálicos. Você não sabe o que está acontecendo ali. Por uma falha de manutenção ou um roubo de fios e cabos ou alguma outra situação, ele pode estar energizado. Já em ambientes onde você tem food trucks ou barraquinhas, fique sempre atento para ver se tem fio desencapado ou se alguém reclamou de um choque, tudo isso são sinais de que você vai ter problema. E aí você precisa alertar as autoridades para que elas tomem as devidas providências — explica Edson Martinho, diretor executivo da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel).

No país, 674 mortes

A entidade compilou, no ano passado, em todo o Brasil, informações sobre 674 mortes por choque elétrico. Os dados da Abracopel mostram que boa parte dos eventos acontece devido às chamadas “gambiarras”, ao roubo de fios e cabos, fios partidos da rede aérea de distribuição e resgate de pipa, entre outros.

Para o professor de engenharia elétrica da Coppe/UFRJ Antônio Carlos Siqueira, a “cultura do puxadinho” é um problema quando se fala em segurança de instalações elétricas:

— O improviso nunca é uma boa ideia quando falamos de instalações elétricas. Basta dizer que a gente, como sociedade, vilipendia o aterramento, por exemplo, o terceiro pino. Fora isso, há o evidente problema de má preservação das instalações. É comum ver postes sobrecarregados, sem falar em ligações que não são feitas por profissionais habilitados, o que acaba expondo todos a um risco muito grande — avalia Siqueira.

Para o major Fábio Contreiras, porta-voz dos Bombeiros, o correto aterramento das instalações elétricas poderia evitar acidentes.

— Os acidentes acontecem justamente pela falha no aterramento desses postes metálicos, que não foram feitos para provocar um choque. Importantíssimo ficar atento também às fiações que caem no chão pela ação do vento ou por um acidente. Nestes casos, o ideal é atravessar a rua, passar bem distante — alerta.

Colaborou Felipe Grinberg

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