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Por — Rio de Janeiro

Por seis anos, as investigações do duplo assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes sofreram avanços e retrocessos. Os primeiros obstáculos começaram já na perícia do local, quando não foram recolhidos todos os estojos deflagrados. Anos depois, a Polícia Federal constatou que a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) não solicitou a preservação das imagens de um empreendimento localizado a poucos metros do local do crime, que poderia ter registrado a fuga dos assassinos. Entre idas e vindas, a investigação enfrentou vários empecilhos até chegar aos mandantes do crime, revelados neste domingo. Houve falsas denúncias, eliminação de provas e um rastro de mortes entre os investigados.

Falsas denúncias

Antes de a PF assumir a investigação ao lado do Gaeco, em fevereiro de 2023, eles já tinham contribuído pontualmente com o caso. Em 2019, eles concluíram que houve obstrução na apuração do duplo homicídio pela DHC da Polícia Civil, provando que havia pessoas atrapalhando a resolução do caso plantando informações falsas. Nessa época, a investigação da DHC apontava o miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando da Curicica, como o criminoso que intermediou a morte da vereadora, a mando do ex-vereador Marcello Siciliano. O trabalho da Polícia Federal ficou conhecido como "investigação da investigação".

Durante essa passagem na investigação, a PF também corrigiu a rota afastando o nome dos dois do centro do caso. Após essa correção de rumos, o delegado da DHC à época, Giniton Lages, e as promotoras Simone Sibílio e Letícia Emile, do Gaeco, passaram a mirar em Lessa, então policial militar, como atirador, e Élcio, o motorista do Cobalt usado na emboscada do dia 14 de março de 2018. Eles foram inseridos na investigação em outubro daquele ano, depois que um telefonema anônimo para a DHC trouxe os nomes à tona. Lessa e Élcio foram presos no dia 12 de março do ano seguinte.

Na época, a Procuradoria Geral da República (PGR) pediu para federalizar o caso, retirando a apuração do crime da Polícia Civil e do MPRJ. Na época, a ex-procuradora-geral da República Raquel Dodge alegou que as autoridades fluminenses não demonstraram capacidade de chegar aos mandantes do crime. Mas em maio de 2020, ministros da Terceira Seção do STJ indeferiram o pedido, entendendo que o pedido de federalização não teve amparo de justificativa técnica.

Ex-chefe da Polícia Civil foi preso

O delegado Rivaldo Barbosa, um dos suspeitos presos na manhã deste domingo, foi chefe de Polícia Civil durante as investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, de março a dezembro de 2018. Na época, o Rio estava sob intervenção federal.

Foi Rivaldo quem deu o aval para o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Domingos Brazão, apontado como mandante do crime, segundo a delação de Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle, que o crime ficaria impune. Além dele, o irmão de Domingos, o deputado federal Chiquinho Brazão, foi delatado como suspeito de ordenar a execução da parlamentar.

Barbosa tomou posse como chefe da Polícia Civil do estado em março de 2018. Ele foi escolhido para o cargo pelo general Richard Nunes, na época secretário de Segurança Pública e o interventor federal general Walter Souza Braga Netro. No período, o Rio estava sob intervenção federal.

Foi Rivaldo também quem levou ao titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), Giniton Lages, encarregado do caso e escolhido por ele, a informação de que três delegados da Polícia Federal teriam conseguido achar uma suposta testemunha do crime, mas se tratava de uma farsa, o que foi comprovado pela PF numa apuração paralela, conhecida como "investigação da investigação'".

Eliminação de provas

Após a execução da vereadora e de Anderson, Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa — motorista e atirador — precisavam se livrar do carro usado no crime imediatamente. Ambos foram para o Méier, na Zona Norte do Rio, esconder o Cobalt na casa do irmão de Lessa. O ex-sargento, por sua vez, pediu ajuda ao seu amigo, o ex-bombeiro Maxwell Simões Correa, o Suel, que conhecia Edilson Barbosa, o Orelha, dono de um ferro-velho no Morro da Pedreira, na Pavuna, na Zona Norte.

Baseados na delação de Élcio, o Ministério Público do Rio e a Polícia Federal confirmaram a participação de Edilson. Lessa e Maxwell levaram o carro para o dono do ferro-velho do Méier até o ponto de encontro, uma praça na Avenida dos Italianos, em Rocha Miranda, na Zona Norte. O local, inclusive, fica perto da área onde o ex-bombeiro e o ex-sargento da PM têm uma rede ilegal de internet e TV a cabo. Ambos quebraram a placa do carro em diversos pedaços, jogando-os na linha do trem que tinha no caminho.

Segundo a denúncia da Força-Tarefa do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado para o caso Marielle Franco e Anderson Gomes (Gaeco/FTMA), o Cobalt foi levado até Edilson no dia 16 de março de 2018, dois dias após o crime. Conforme os promotores, o dono do ferro-velho "embaraçou a investigação", uma vez que deu sumiço ao veículo usado no homicídio.

O Cobalt usado na emboscada, no dia 14 de março de 2018, tinha placas clonadas. Com a ajuda de Edilson, o veículo nunca foi encontrado. Assim como a arma usada no crime, uma metralhadora HK MP5. À PF, Élcio de Queiroz afirmou que Lessa tinha um "carinho" pela arma porque costumava usá-la em ações do Bope. Mas que após a guardar por um tempo, Lessa a jogou no mar.

Rastro de morte

No período da investigação do crime, pelo menos cinco investigados foram mortos. O Edmilson da Silva de Oliveira (Macalé), foi apontado pela delação premiada do ex-PM Élcio de Queiroz — acordo firmado em 2023 — como intermediário da contratação de Ronnie Lessa para o crime. Macalé foi morto a tiros em 6 de novembro de 2021. Na ocasião, ele foi executado em Bangu, na Zona Oeste do Rio, quando caminhava para o seu carro. Ele carregava gaiolas, já que levava seu curió para um evento de amantes de pássaros. Para a Polícia Federal, Macalé foi executado porque sabia demais, ou seja, como queima de arquivo.

Já o ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega também foi citado nas investigações. Ele teria se negado a realizar o crime, antes de Lessa ser procurado para fazê-lo. As investigações sobre o duplo homicídio, no entanto, haviam sido o fio da meada para a Operação Intocáveis, do MPRJ com a Polícia Civil, que atingiria a cúpula da mais antiga milícia do Rio, da qual Adriano era acusado de fazer parte: a da favela de Rio das Pedras, no Itanhangá.

Apontado como chefe do bando de pistoleiros do Escritório do Crime, ele ficou foragido por cerca de um ano, até ser localizado em um sítio no interior baiano, onde foi morto em uma suposta troca de tiros com policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Bahia, com apoio da inteligência da Polícia Civil fluminense.

Luiz Carlos Felipe Martins, considerado braço direito de Adriano da Nóbrega, também foi morto a tiros, em 20 de março de 2021. Homens que estavam num carro dispararam contra o PM em uma rua de Realengo, Zona Oeste carioca. Ele estava de folga. O crime ocorreu justamente na véspera em que o MPRJ e a Polícia Civil fariam uma operação policial para prendê-lo.

Já Hélio de Paulo Ferreira, o Senhor das Armas, também chegou a ser investigado no inquérito e foi assassinado em 28 de fevereiro de 2023, na Rua Araticum, área disputada por milicianos e traficantes que ficou conhecida como a rua da morte, no Anil, também na Zona Oeste.

Lucas do Prado Nascimento da Silva (Todynho) sofreu uma emboscada na Avenida Brasil, na altura de Bangu, possivelmente como uma queima de arquivo. Todynho era suspeito de ter participado da clonagem do Cobalt prata usado na execução de Marielle e Anderson. Ele teria atuado na confecção dos documentos falsos do veículo, segundo relatório de inquérito assinado pelo titular da Delegacia de Homicídios na época, Giniton Lages.

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