Rio
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Por X. em depoimento a Giulia Ventura — Rio de Janeiro

“Era julho de 2022 quando nos conhecemos por um aplicativo de relacionamento. Eu estava divorciada havia cerca de dois anos e estava nesse momento de aplicativos. Como em todos os casos de vítimas dele (Caio Henrique Camossatto), no começo, ele se mostrou um cara galanteador e família. Falava o que eu queria ouvir, colocava-me como se estivesse em uma relação de muita importância. Foram seis meses de namoro. Talvez eu tenha sido a que mais tenha durado, porque acho que ele me via como uma grande fonte de recursos financeiros. Durante esse período, fiquei emocionalmente aprisionada. E, quando se está em uma situação de envolvimento financeiro, ou você acredita que o que te falam é real ou você enlouquece.

A mim, ele se apresentou como produtor musical. Já no primeiro encontro que marcamos, ele apareceu de helicóptero. Então, assim, o Caio esbanjava muito. Não que para mim isso fosse importante, mas talvez pelo que ele veio conhecendo de mim, da minha trajetória, fosse relevante para a narrativa.

Durante esses meses que estivemos juntos, ele me mostrou o que seria a parte da vida pessoal dele. A história tinha que ser muito real. Então, conheci mãe, padrasto, a irmã, os filhos e a ex-mulher dele, por exemplo. Ele fazia questão que meu filho estivesse sempre presente também, trazia-o para perto. Fomos em festas e em muitos lugares onde ele era conhecido, e o ajudei a organizar eventos, como aniversários de família. A história que ele monta torna muito difícil de desacreditar, ele te envolve muito.

Umas das vítimas de Caio Henrique Camossatto o gravou durante voo de helicóptero, um dos sinais de ostentação que ele demonstrou logo após se conhecerem — Foto: Reprodução/TV Globo
Umas das vítimas de Caio Henrique Camossatto o gravou durante voo de helicóptero, um dos sinais de ostentação que ele demonstrou logo após se conhecerem — Foto: Reprodução/TV Globo

Desde o primeiro dia, o Caio falava que ele não era de ficar com muitas pessoas, mas que tinha sentido muita conexão comigo. Dizia que se eu quisesse ficar com ele, que a gente já tinha que namorar daquele momento em diante.

Os pedidos de dinheiro, porém, vieram logo cedo, sempre com a mesma história. Ele dizia ter um problema financeiro naquele momento e que o cartão havia sido bloqueado, que a conta estava bloqueada. Dizia estar com o nome sujo, porque devia o imposto da fazenda da família dele. Pedia ajuda para resolver, falava que venderia a fazenda e que, quando o dinheiro entrasse, devolveria. Mas esse dinheiro não cai. E aí, você já está numa situação de envolvimento financeiro. É aquele momento em que entende que você pode estar sendo enganada. Foram três meses até esse ponto.

Quando comecei a prestar atenção que as promessas de retorno desse dinheiro não se cumpriam, passei a pesquisar alguns processos. Foi quando ele passou a me contar coisas diferentes da vida dele, que minha advogada, Jacqueline Valles, considera que tenham sido apenas histórias para me prenderem. O Caio passou a falar de envolvimento dele com crimes, por exemplo, e com organizações criminosas. Foi quando me vi emocionalmente aprisionada naquela situação.

A partir desses três meses, passei a tentar me proteger, a gravar as coisas. Nesse ponto, eu já tinha começado a entender o que estava acontecendo. Mas aí, ele chegou com um segurança, acho que estava sentindo a pressão de tudo que estava acontecendo. Ele dizia que esse segurança era por conta do ramo da música e passou a criar mais histórias para tentar me manter presa ali.

Tive a minha fé testada muitas vezes. Desacreditei de muita coisa, e, obviamente, fiquei emocionalmente mal
— X., vítima

Vergonha e medo

Para me libertar dessa situação, precisei criar coragem para compartilhar a história com a minha família. Mas tinha uma questão de muita vergonha e de medo, de culpa. Por isso, não compartilhava com ninguém. Quando tive essa coragem de contar para a minha mãe, passei a entender melhor as coisas, porque muita coisa você não consegue enxergar.

Quando, de fato, entendi tudo, passei a procurar por advogados e encontrei quem me representa hoje, a doutora Jacqueline. Eu sabia que a parte financeira seria difícil de recuperar, mas eu queria, de alguma forma, que outras mulheres pudessem saber da minha história. A gente, então, começou a movimentar atrás de processos e encontramos outra vítima dele.

Tive a minha fé testada muitas vezes. Desacreditei de muita coisa, e, obviamente, fiquei emocionalmente mal. Passei pelos momentos mais tristes, até mesmo depressivos, eu diria. Mas não deixei que isso resumisse a minha vida, então segui em frente. Hoje, já administrei melhor isso dentro de mim.

Processo difícil

É muito difícil você se ver em uma situação dessas. É um processo difícil. Até mesmo pela quantia (R$ 890 mil), é algo que mudou o curso da minha vida. Eram recursos meus, a partir da venda do meu primeiro imóvel. Grande parte desse valor foi dessa venda, mas ele também usou os meus cartões. E você assumir essa sua fragilidade para as pessoas é o mais complicado.

A prisão dele, no último dia 22, pela 34ª DP (Bangu), no Rio, fez com que eu tivesse um pouco da minha fé renovada. Porque todas as mulheres que caíram no golpe dele, caíram por acreditar no próximo, no ser humano. Por acreditar que ele tinha um coração bom e achar que, de fato, estavam ajudando.

E você ver ele, ao longo desses anos, se safando de tantas situações, de não ser notificado, dos processos não dando certo é complexo. Esse desfecho, obviamente, trouxe satisfação.

Espero que ele fique preso por muito tempo. Eu não acredito que isso acontecerá. Porque, enfim, na Justiça são muitas coisas envolvidas. Mas eu gostaria que ele ficasse bastante tempo na cadeia. Apesar de achar que isso não mudará ele como ser humano. Se ele sair, ele continuará fazendo. Mas, quem sabe, é uma forma de pagar um pouco pelo prejuízo que deu em tantas pessoas”.

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