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Por O GLOBO — Rio de Janeiro

Os familiares de Érika de Souza Nunes, presa por levar o tio Paulo Roberto Braga, de 68 anos, morto em um banco em Bangu para tentar sacar um empréstimo, apresentaram um documento onde consta que o valor de R$ 17 mil foi solicitado no dia 25 de março deste ano. A quantia seria dividida em 84 parcelas de R$ 423, durante sete anos, descontados do benefício da LOAS-Lei Orgânica da Assistência Social - que ele recebia desde agosto passado, no valor de um salário mínimo. A ideia do empréstimo, segundo contam os parentes, era para fazer uma obra na casa onde o idoso morava com a sobrinha. A informação foi obtida pela reportagem do Fantástico, da TV Globo, deste domingo.

O pedreiro José Geraldo Santos, ex-marido de Érika, conta que ela chegou a falar com ele sobre a reforma.

– Dei o orçamento para ela de todo o material. Ela queria colocar piso, pintar, comprar geladeira, uma televisão nova para poder deixar lá para ele, uma cadeira de rodas, uma cama mais confortável para que ele sentisse melhor – disse.

Paulo Roberto tinha quatro irmãos que vivem fora do Rio. Ele morava com a sobrinha em uma casa em Bangu, há pelo menos 15 anos, com três dos seis filhos de Érika. O Fantástico mostrou ainda um vídeo, gravado no fim do ano passado, mostra ele cantando ao lado do ex-marido dela.

Paulo Roberto Braga e José Geraldo Santos, ex-marido de Érika — Foto: Reprodução/TV Globo
Paulo Roberto Braga e José Geraldo Santos, ex-marido de Érika — Foto: Reprodução/TV Globo

A casa que a família mora tem dois andares. No andar de cima tem cozinha, banheiro, sala e três quartos. Segundo relatos de parentes, Paulo Roberto vivia em um desses quartos, com uma cama, e um armário com as roupas, os remédios e a fralda que ele usava. No andar de baixo fica uma garagem que estava sendo usada pelo Paulo Roberto, mas a família diz que apenas nos últimos dias porque ele estava debilitado e não conseguia subir e descer as escadas. Era ali que seria feita a obra.

– A minha mãe criou seis filhos e nunca precisou roubar ou enganar ninguém. Ela nos ensinou o caminho do estudo, o caminho do que é correto. Eu gostaria que as pessoas fossem mais sensíveis com essa situação. Estamos enfrentando a perda do nosso tio e essa grande mal-entendido com a nossa mãe – disse o filho Lucas Nunes dos Santos.

A família argumenta ainda que Érika tem problemas de saúde mental e faz uso de remédios psiquiátricos. Relatórios médicos assinados por psiquiatras que a atenderam pelo plano de saúde da família mostram que, em 2022, o médico pediu a internação psiquiátrica da paciente. O laudo diz que ela é dependente de sedativos e tem quadro de depressão, pensamentos suicidas e alucinações auditivas. No ano passado, outro psiquiatra também pediu a internação por dependência de sedativos e hipnóticos.

– A minha mãe algumas vezes tentou suicídio. Ela vem passando por momentos difíceis, vem passando por transtornos psiquiátricos, já tem acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Os remédios muitas vezes causavam alucinações, transtornos – acrescentou o filho.

Família de  Érika de Souza Nunes, presa por levar o tio Paulo Roberto Braga morto em um banco — Foto: Reprodução/TV Globo
Família de Érika de Souza Nunes, presa por levar o tio Paulo Roberto Braga morto em um banco — Foto: Reprodução/TV Globo

No dia da ida ao banco, momentos antes de a equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) constatar a morte de Paulo Roberto, uma gerente chegou a fazer massagem cardíaca no idoso.

Depois de perceber que o idoso não reagia aos estímulos, funcionários do banco o levaram, com Érika, para uma sala reservada. Seguranças da agência, então, retiraram Paulo Roberto da cadeira de rodas e uma gerente, que preferiu não ser identificada, tenta reanimá-lo com uma massagem cardíaca.

– Eu falava “o senhor está me ouvindo?”. Nada, não tinha nenhuma reação. Um sentimento de impotência, mesmo fazendo tudo aquilo que estava ao meu alcance... – relata a gerente do banco.

O médico que fez o atendimento no Samu disse à polícia que quando chegou, Paulo já estava morto e apresentava livores – manchas de sangue acumuladas em áreas do corpo – que geralmente aparecem duas horas depois da morte. A morte foi constatada às 15h.

O laudo de necropsia do Instituto Médico-Legal (IML) de Campo Grande diz que Paulo Roberto morreu entre 11h30 e 14h30 de terça-feira. A princípio, a causa da morte seria o engasgo com algum alimento, que teria provocado uma broncoaspiração e falência cardíaca.

No depoimento à polícia, Érika disse que percebeu que o tio parou de responder no momento que ele recebeu atendimento dos funcionários do banco.

– Ela sabia que ele estava morto. A cabeça dele está solta e a partir dali ele já não dá mais sinal nenhum. Ela passou horas fazendo aquilo e o que leva a dar mais certeza ainda é a simulação dela de estar conversando com ele, de fazer com que os outros acreditassem que ele estava vivo, mesmo ela não tendo qualquer tipo de resposta dele – diz o delegado Fábio Souza, responsável pela investigação.

Érika de Souza Nunes foi presa por vilipêndio de cadáver e furto mediante fraude. Na semana passada, teve a prisão em flagrante convertida em preventiva. Ela está presa no Complexo Penitenciário de Bangu. A defesa entrou com um pedido de revogação da prisão preventiva, mas não há prazo para a Justiça dar uma resposta.

– A defesa técnica entende, até depois de algumas conversas com a senhora Érika, de que realmente ela não aceitou. É a questão da negação de que ele poderia realmente estar desfalecido, morto naquele momento. Até porque ela conversa com ele, ajeita ele – afirma Ana Carla de Souza Correa, advogada de Érika.

O médico-legista Fernando Esberard analisou as imagens e acredita que Paulo Roberto estava vivo quando chegou ao estacionamento.

– A gente percebe algumas reações, alguns sinais vitais dele, significa que ele ainda tinha algum tônus muscular, ele conseguia ainda mesmo que de uma forma precária mesmo bastante debilitado, ele conseguia ainda apoiar o seu pescoço e o seu corpo mesmo que parcialmente – afirma.

Já o perito criminal Nelson Massini analisou as imagens e afirmou que não viu sinais de que Paulo estivesse vivo desde que chegou ao shopping, no dia 16 de abril.

– O que se pode concluir é que desde o momento em que ele é retirado do carro, colocado na cadeira, levado na presença da atendente do banco, com todos aqueles momentos intercalados, em nenhum momento ele teve qualquer mobilidade. Não teve nenhuma reação vital – avalia o perito.

O corpo de Paulo Roberto foi sepultado neste sábado, no Cemitério de Campo Grande. Os irmãos dele não foram ao velório, que tinha familiares ligados à Érika e uma pedagoga que se compadeceu da história.

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