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Por — Rio de Janeiro

Café da manhã especial, abraços, beijos e muita bagunça em família: aos ingredientes de um típico Dia das Mães, a enfermeira Berlândia Coutinho, de 45 anos, acrescenta uma nova razão para celebrar ao lado das filhas gêmeas Beatriz e Brenda, de 2 anos. É a primeira vez que ela comemora a data desde que, em fevereiro, foi resgatada, com as meninas, de dentro de um carro durante as chuvas e a enxurrada que devastaram Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O episódio torna cada detalhe do festejo de hoje mais especial.

— Não gosto muito de lembrar daquele dia. Não consigo mais assistir às imagens porque me causa aflição. Eu sei que o nosso socorro foi milagroso. Vinícius (Marcos Vinícius de Souza, que resgatou mãe e filhas pouco antes do carro ser levado pelas águas) foi um anjo enviado por Deus que salvou nossas vidas. Se não fosse por ele, talvez não estivesse aqui contando essa história — afirma Berlândia, que na infância já tinha visto sua casa alagar.

O primeiro milagre

Berlandia Coutinho, 45 anos, enfermeira, mãe das gêmeas Brenda e Beatriz — Foto: Domingos Peixoto
Berlandia Coutinho, 45 anos, enfermeira, mãe das gêmeas Brenda e Beatriz — Foto: Domingos Peixoto

Ela considera que viveu um milagre no começo do ano, mas diz que este não foi o primeiro episódio extraordinário de sua vida. Em 2016, ao ser diagnosticada com miomas que causariam dificuldades para engravidar, ela, que na época lutava contra a obesidade, e chegou a pesar quase cem quilos, iniciou um tratamento para a inseminação de dois embriões. Foram quase cinco anos até que o primeiro milagre acontecesse:

— O meu maior sonho já realizei, que era ser mãe, mas para o futuro espero ter saúde para cumprir meu papel e ver minhas filhas chegarem à vida adulta. Já vivi muitos milagres nessa vida. Ser mãe, certamente, foi o maior deles — diz a enfermeira, que passou por cirurgia bariátrica e perdeu 33 quilos.

Ser mãe de primeira viagem não é fácil, mas, para a mulher risonha que sonhava com a maternidade, tornou-se missão para toda vida.

— Eu nasci para ser mãe. No dia do acidente só pensava em resgatar as minhas filhas. Esse Dia das Mães está sendo muito especial para mim. Naquele dia, fiquei de cara com a morte. E agora posso comemorar cada segundo. O nascimento delas foi um milagre. Sobreviver à enchente, também — comemora ela.

No dia 3 de dezembro de 2021 a inseminação foi feita. A partir daí, foram quase duas semanas até que a confirmação da gravidez de gêmeas, que até aquele momento era um sonho a ser realizado, se tornasse realidade. A rotina da enfermeira começa dentro de casa, às 3h30. Berlândia conta que todos os dias, enquanto se arruma para o trabalho, faz questão de deixar a mamadeira e a bolsa das pequenas prontas. Nessa jornada para reaprender a viver, toda ajuda é bem-vinda:

— Fiquei com vários traumas após o acidente. Meu marido me ajuda muito. Eu levo as meninas para a creche e ele vai buscar. Nossa gravidez foi planejada. Meu maior medo era de não conseguir ser mãe. Acho que já ganhei tudo que um dia pedi para Deus em oração. Inclusive a chance de viver para ver as minhas filhas crescerem. Minha mãe e a minha tia são gêmeas. Eu vejo o quanto elas são unidas. Minhas filhas também são assim. É delicioso acompanhar cada passo delas.

Berlandia Coutinho, 45 anos, enfermeira, mãe das gêmeas Brenda e Beatriz — Foto: Domingos Peixoto
Berlandia Coutinho, 45 anos, enfermeira, mãe das gêmeas Brenda e Beatriz — Foto: Domingos Peixoto

No dia 22 de fevereiro, quando o céu nublado já anunciava a chegada das chuvas na cidade e o Centro de Operações Rio (COR) alertava para as pancadas isoladas, a enfermeira Berlândia Coutinho Mendes seguiu a rotina como de costume: saiu do trabalho no centro do Rio por volta das 17h, avisou ao marido, Jorge Leandro, que estava na Estação de Metrô da Pavuna, e foi à creche, em Nova Iguaçu, buscar as filhas Beatriz e Brenda.

Naquele dia, carregando um guarda-chuva na bolsa do trabalho, ela não imaginava que um temporal atravessaria seu caminho e mudaria a sua vida. Para seu desespero, o veículo enguiçou e a água começou a subir. Sem saber o que fazer e sem poder abrir as portas, a enfermeira decidiu abrir o vidro da janela e gritar por socorro. A poucos metros do carro, um ônibus transportando cerca de 20 passageiros parecia ser a única chance da família. O jovem Marcos Vinícius de Souza Vasconcelos, de 20 anos, que observava da janela do coletivo o desespero da mãe e suas duas bebês, decidiu se pendurar da porta e, apoiando os pés na roda do carro, começou o resgate milagroso que duraria cerca de cinco minutos. Toda a ação foi registrada em celular e rapidamente se espalhou pelas redes sociais.

Susto e final feliz

O motorista Jorge Leandro Mendes, de 46 anos, estava no trabalho quando recebeu a ligação desesperada da esposa. Ela pedia ajuda para conseguir desviar das ruas alagadas e fugir da enxurrada que atingia a cidade de Nova Iguaçu. Durante quase meia hora, ele manteve a calma, enquanto orientava a mulher aos prantos sobre o que fazer. Ele e Berlândia estão casados há nove anos. Cada passo da relação foi planejado, assim como o nascimento da Brenda e Beatriz.

— Quero desejar um Feliz Dia das Mães para Berlândia que é uma pessoa muito especial. Desde o ocorrido, nossas vidas mudaram muito, seguimos caminhos diferentes, mas sigo aqui pronto para ajudar. As meninas são as coisas mais lindas do mundo — conta Vinícius, o salvador das três.

A enfermeira faz planos para o futuro: espera, com a sua história, ajudar outras mulheres que, assim como ela, também sonham com a primeira gravidez:

— Quero que a minha trajetória de alguma forma faça a diferença. As minhas filhas foram muito desejadas. Acho que por isso elas vieram para mim.

Família reunida. Berlândia Coutinho com o marido Jorge Leandro e as filhas gêmeas Beatriz e Brenda: razões para celebrar não faltam neste domingo.

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