Anitta, desde que anunciou o lançamento do clipe de "Aceita", uma canção que trata da sua relação com o candomblé, vem sofrendo ataques de intolerância religiosa nas redes sociais. Ela, que é frequentadora do terreiro do pai de santo Sérgio Pina, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, perdeu milhares de seguidores e recebeu mensagens ofensivas no Instagram. No Rio, um terreiro de umbanda, também religião de matriz africana, foi alvo de intolerância religiosa de vizinhos e o caso gerou investigação policial. Uma pesquisa da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) aponta que o Rio de Janeiro ocupou a segunda e a primeira colocação em denúncias de violação à liberdade religiosa nos anos de 2022 e 2023, respectivamente.
O Templo Caminho da Paz, que funciona na Tijuca, na Zona Norte do Rio, foi atacado por vizinhos, e seus frequentadores denunciaram o caso à polícia. Em setembro do ano passado, vizinhos começaram a atirar congeladas no local. O fato foi registrado na 20ª DP (Vila Isabel) e está sob investigação da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). Segundo Maria Cristina Ferreira, vice-presidente do templo, o ataque acontece ao menos uma vez por semana.
— Eles jogam uma fruta, esperam um pouco e depois jogam outra. Às vezes, jogam duas seguidas. E não tem hora certa. No começo, jogavam frutas, como limões. Depois, passaram a jogá-las congeladas. Então, aquilo vem igual a uma pedra — conta.
Professor e orientador do Programa de Pós-graduação em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, o babalawô Ivanir dos Santos aponta para a necessidade de impedir que situações como esta aconteçam:
— O ataque a Anitta é um ataque à cultura material e espiritual dos descendentes de africanos que é muito forte no Brasil e que marcou a identidade da cultura brasileira: o samba, o maracatu, a capoeira, as congadas, o jongo, as escolas de samba. E (o Brasil) um país ocidental cristão aprendeu que existe a "religião do bem", a cristã, e que os outras são "do mal", mas essa dualidade marca esse preconceito, esse ódio e essa perseguição. Mas isso é intolerância religiosa, algo que não podemos admitir. Então, ela é vítima de intolerância religiosa. O clipe faz uma louvação à diversidade. É respeito. Intolerância religiosa é crime.
Denúncias de violação à liberdade religiosa
Uma pesquisa da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) e do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap) aponta que o Rio de Janeiro ocupou a segunda e a primeira colocação em denúncias de violação à liberdade religiosa nos anos de 2022 e 2023, respectivamente. Os dados foram extraídos do sistema do Disque 100.
Ao todo, no país, 899 denúncias foram feitas em 2022, sendo 156 no estado do Rio. Já em 2023, de 940 denúncias, o estado teve 117.
Um levantamento feito pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) em janeiro deste ano mostrou que, em 2023, no estado do Rio, 34 vítimas de ultraje a culto religioso procuraram uma delegacia para registrar o crime. A tipificação criminal é determinada pela ridicularização pública, impedimento ou perturbação de cerimônia religiosa.
Ao todo, aproximadamente 3 mil crimes que podem estar relacionados à intolerância religiosa foram registrados no período. Nesse número estão incluídos injúria por preconceito (2.021 vítimas) e preconceito de raça, cor, religião, etnia e procedência nacional (890 casos).
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