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Por — Rio de Janeiro

O desabamento de parte do muro da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD), ocorrida no início do mês, expôs os problemas estruturais enfrentados pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e levou à suspensão das aulas até a conclusão das obras de reparo. Para evitar a perda do semestre, a reitoria decidiu que os alunos teriam aulas práticas no Centro de Educação Física Adalberto Nunes (Cefan), da Marinha, localizado na Penha. No entanto, a continuidade do calendário letivo nas dependências da instituição militar, que estava prevista para 13 de maio, gerou discussões e polêmica, após professores, alunos e a direção da escola rejeitarem a possibilidade de transferência, alegando a necessidade de permanecer no espaço da faculdade.

Segundo a diretoria, o receio de que a mudança fosse desconfortável para alunos LGBTQIAP+ foi o principal motivo da decisão. Uma nova reunião com todo o colegiado, marcada para esta sexta-feira, deve definir o destino dos estudantes.

Parte do muro de ginário na UFRJ desaba — Foto: Márcia Foletto
Parte do muro de ginário na UFRJ desaba — Foto: Márcia Foletto

— Não podemos ir para um local onde não teríamos a liberdade de cátedra; onde regras internas nos impedem de reunir professores e estudantes para debater pautas importantes. Nossa comunidade LGBTQIAP+ pode sofrer violência psicológica por conta do militarismo imposto. Por outro lado, também não queremos sair do espaço da faculdade. Ele está aqui para ser ocupado. Não podemos ir embora, temos que ficar e resolver o problema, seja ele estrutural ou não — afirmou a estudante Ana Clara Souza, de 22 anos, do terceiro período de Educação Física.

Reivindicação dos estudantes

Uma reunião realizada no dia 14 de maio, no auditório da Faculdade de Farmácia, no Fundão, convocada pelo corpo docente, solicitou que a reitoria não transferisse os estudantes para a unidade militar sem antes debater questões levantadas pelos alunos. Entre elas, a logística de transporte e alimentação e a possibilidade de aulas remotas, já que o Cefan não teria condições estruturais de abrigar aproximadamente 2.800 alunos. Enquanto isso, disciplinas oferecidas por outras unidades parceiras — como Anatomia, Fisiologia, Bioquímica e matérias da Faculdade de Educação — estão sendo ministradas presencialmente fora do prédio interditado, levantando ainda mais questionamentos.

— Esse posicionamento do grupo de alunos LGBTQIAP+ está dentro das motivações que levaram as reivindicações. Acho natural os alunos se sentirem assim. Porque quando eles ouvem qualquer sigla de ambiente militar, isso não traz uma memória confortante para eles. Essa memória faz com que eles não queiram ocupar um espaço militar. A gente precisa entender essa reação e dialogar com ela — afirmou Katya de Souza, diretora da Escola de Educação Física da UFRJ.

Durante a assembleia, o reitor da UFRJ, Roberto Medronho, explicou que o Ministério da Educação (MEC) já liberou recursos para a contenção dos beirais que desabaram em 1° de maio e setembro do ano passado na unidade. Contudo, reafirmou que o retorno das aulas no prédio da EEFD só seria possível após a conclusão dos reparos.

— A obra para a contenção está em torno de R$ 1,8 milhão e consiste em um aluguel que precisará ser reajustado e renovado todos os anos. Consertar todo o telhado custaria em torno de R$ 7,5 milhões. Queremos fazer o governo entender que é melhor um reparo definitivo, razão pela qual pedimos a suplementação do orçamento — afirmou Medronho.

Muro de ginásio da Escola de Educação Física da UFRJ desaba e suspende aulas — Foto: reprodução
Muro de ginásio da Escola de Educação Física da UFRJ desaba e suspende aulas — Foto: reprodução

Espaço para diversidade

Segundo a comunidade acadêmica, a decisão da universidade de transferir as aulas para as dependências da Marinha gerou desconforto entre os estudantes, que relembraram um episódio ocorrido em junho de 2022, quando uma aluna trans da UFRJ, de 33 anos, foi impedida de dar continuidade a um concurso público da Marinha por ser considerada "inapta" para a vaga. Na época, a mulher transexual precisou entrar na justiça contra a instituição militar.

Alunos da UFRJ reivindicam transferência de aulas para o Cefan — Foto: Reprodução/ Arquivo UFRJ
Alunos da UFRJ reivindicam transferência de aulas para o Cefan — Foto: Reprodução/ Arquivo UFRJ

— A faculdade é uma instituição plural. Nossos professores nos tratam com muito respeito. Não estamos alegando que a Marinha vai ser ruim com a nossa comunidade. Só queremos deixar claro que existem questões que transcendem o âmbito acadêmico e tornam-se algo político. Algo que envolve reparações históricas e de opressão — afirmou a estudante do curso de dança, Celina Mello, de 25 anos.

Algumas alternativas para tentar resolver a polêmica em torno da transferência deverão ser apresentadas pela direção da unidade ainda nesta sexta-feira. A principal proposta é manter as aulas ministradas fora do prédio interditado e revisar caso a caso da situação dos alunos concluintes.

— Vamos conversar com cada um dos estudantes concluintes para assumir o compromisso de fazer os trabalhos de conclusão de curso. Além disso, devemos trancar algumas disciplinas, garantindo que os alunos estejam regularizados até o ano que vem — completou a diretora.

Em nota, a Marinha informou que "a militar foi incorporada no ano de 2022, em cumprimento a uma decisão judicial, para exercer o Serviço Militar Voluntário". A instituição ressaltou reiterar "seu firme repúdio a condutas e atos que possuam caráter de discriminação de raça, gênero, orientação sexual, crença religiosa e origem social". Destacando ainda que o Cefan tem como característica "a colaboração e integração permanente com instituições educacionais e esportivas, sem qualquer discriminação".

Relembre o caso

Na última quinta-feira, a UFRJ determinou o fechamento do prédio da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) após parte do muro do ginásio desabar. O incidente aconteceu na noite de quarta-feira, por volta das 22h. Segundo a reitoria, o local estava vazio. Até que seja concluído o laudo técnico, as aulas ficarão suspensas por tempo indeterminado.

Muro do ginásio de educação física da UFRJ desaba e provoca suspensão das aulas

Muro do ginásio de educação física da UFRJ desaba e provoca suspensão das aulas

Não é a primeira vez que a escola sofre por problemas na estrutura. Em setembro do ano passado, o mesmo prédio ficou fechado por dez dias depois do desabamento de uma marquise. Na época, engenheiros da UFRJ chegaram a avaliar a estrutura do lugar para tentar identificar o que provocou o desabamento. Quase cinco meses depois, um novo incidente voltou a interromper as aulas.

Confira a íntegra da nota da Marinha abaixo:

"A Marinha do Brasil (MB), por meio do Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (CEFAN), informa que atendeu, prontamente, solicitação recebida da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para verificar a possibilidade de realização das aulas da Escola de Educação Física e Desporto, em suas instalações. No dia7 de maio, uma comitiva da UFRJ, integrada pelo reitor, diretores, professores e representantes dos alunos, visitou o CEFAN para conhecer as instalações e identificar as possibilidades. Na ocasião, foi realizada também uma reunião na qual a Marinha reafirmou sua plena disposição em prover todo apoio possível para a realização das aulas no CEFAN. A Marinha do Brasil entende que a decisão quanto à realização das referidas aulas no CEFAN cabe, naturalmente, à UFRJ. Finalmente, a Marinha do Brasil ressalta que o CEFAN tem como características, além das excelentes instalações esportivas, a colaboração e integração permanente com instituições educacionais e esportivas, sem qualquer discriminação, com destaque para o Programa Forças no Esporte (PROFESP), que atende a mais de 800 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, e o PARAPROLIM, que atende a cerca de 200 pessoas com deficiência, em suas instalações."

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