Fincado no ponto mais alto das embarcações a vela, o antigo cesto da gávea se constituía em local privilegiado para observação. De lá, era possível ter uma visão panorâmica, enxergar mais distante e melhor, conectar pontos. Ancorada neste conceito, a Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio) deu início ao projeto Gávea do Rio, que tem como objetivo reunir sob o signo do diálogo e da colaboração instituições ligadas à produção científica, cultural e de políticas públicas sediadas no perímetro de pouco mais de 2,5 quilômetros quadrados que vai do Jardim Botânico à Rocinha: o bairro da Gávea. Na região desde a década 1940, a PUC se propõe a ser o centro catalisador de atividades e iniciativas capazes de estimular o debate e a ação focados na transformação socioambiental e econômica.
Exemplos de parceiros de peso na vizinhança não faltam. Embora relativamente pequeno, o bairro abriga instituições de prestígio como o Planetário e o Museu do Universo, o Instituto Moreira Salles — temporariamente fechado para obras —, o Museu Histórico da Cidade, o Parque da Cidade, o Instituto Confucius, a Casa das Garças e o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), além de pelo menos uma dezena de galerias de arte, outros tantos ateliês, teatros e cinemas.
Jardim Botânico e Rocinha
A lista é completada por instituições que, embora não estejam propriamente nos limites do bairro, têm grande interlocução e influência local, como o Jardim Botânico e os museus Sankofa e da Pessoa, ambos na Rocinha.
— Em todo o mundo as universidades estão se reinventando. Não podemos ficar dentro de uma bolha, temos a necessidade de abrir nosso espaço e propor o desenvolvimento de atividades com potencial para transformar a realidade local. Essa iniciativa tem o sentido de buscar o diálogo, a conexão desses vários entes buscando gerar um impacto social concreto — diz o Padre Anderson Pedroso, reitor da PUC-Rio.
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Para o economista Sérgio Besserman Vianna, presidente do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico, a proposta parece bastante promissora.
— A Gávea é um território pequeno, mas que, por um conjunto de circunstâncias, concentra muitas instituições de pesquisa e culturais. A ideia de que a gente passe a conversar desde o micro, como a simples e eventual cessão de espaço para um evento, por exemplo, até o macro me parece muito positiva. Por meio do diálogo a gente pode ver onde estão as sinergias e avançar para a criação de um polo territorial gerador de conhecimento e de impacto socioambiental. É algo muito positivo — avalia Besserman, que é professor da universidade.
Novo morador no campus
No caso do Cebri, a integração com a PUC-Rio será ainda mais concreta. O reconhecido think tank voltado para temas ligados às relações internacionais, cuja sede atual fica na Gávea, está de mudança para a centenária Casa dos Jesuítas, localizada dentro da área da universidade. O imóvel passará por ampla reforma e vai abrigar a instituição a partir do primeiro semestre do ano que vem. A ideia é que a capela que existe no local — que seguirá sob gestão da PUC-Rio — também seja reformada com projeto elaborado pelo artista plástico Vik Muniz, cujo ateliê no Rio, não por acaso, também fica na Gávea.
— Nossa parceria com a PUC-Rio vai permitir ampliar o intercâmbio com instituições acadêmicas e think tanks internacionais. Queremos estimular estudantes, pesquisadores e empresários a disseminar temas globais que refletem a nossa sociedade, sempre de acordo com os princípios éticos que caracterizam ambas as instituições — diz Julia Dias Leite, diretora-presidente do Cebri.
A nova casa do Cebri já ganhou até nome: será a sede Jequitibá, homenagem à imponente e bicentenária árvore que fica nas imediações do imóvel. De acordo com Julia Dias Leite, o planejamento do Centro Brasileiro de Relações Internacionais para o local inclui a reforma do alojamento que por anos serviu aos jesuítas:
— A ideia é que, no futuro, possamos receber estudantes. Nossa proposta é abrir a sede para visitações uma vez por mês, ou mediante agendamento, e franquear a consulta à biblioteca com volumes sobre relações internacionais. Queremos que seja uma sede aberta para a sociedade civil.
Embora o trabalho para costurar o tecido que vai unir as diferentes instituições que vão compor o Gávea do Rio esteja apenas no início, já estão programadas atividades relacionadas ao projeto para um horizonte não muito distante.
De 4 a 8 de novembro, poucos dias antes de a cidade receber a cúpula do G-20, acontecerá a Semana de Design da PUC-Rio. O campus da universidade receberá pelo menos 10 artistas e artesãos da Rocinha, além da primeira exposição individual do fotógrafo Renato Errejota e a participação da artesã Cida Rodrigues, que usa material reciclado para compor mosaicos, objetos de decoração e utilitários.
A atividade terá ainda a participação do Museu Sankofa, com sessão de audiovisual ao ar livre. O museu é guardião da memória da Rocinha e possui forte atuação na defesa dos direitos humanos na favela. O Museu da Pessoa, também da Rocinha, promoverá uma exibição de curtas de animação.
Exposição no solar
Já o Solar Grandjean de Montigny — prédio histórico em estilo neoclássico no campus da PUC-Rio onde morou o arquiteto e urbanista integrante da Missão Artística Francesa no Brasil, no início do século XIX — abrigará uma exposição do Departamento de Arte e Design da universidade. Nos salões do prédio serão expostos protótipos impressos em 3D.
Ainda no âmbito do Gávea do Rio está prevista a realização, em parceria com o Instituto Confucius, de mostra de design em homenagem aos 50 anos das relações diplomáticas entre Brasil e China com participação de alunos da PUC-Rio e da Universidade de Hubei, na China.
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