Rio
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Por O Globo — Rio de Janeiro

Uma denúncia do Ministério Público do Rio detalhou o funcionamento de uma "Cooperativa do Crime" que cobra taxas de motoristas de aplicativo que circulam na Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio. Segundo o MP, os criminosos cadastram os motoristas que trabalham na região para controlar o fluxo de profissionais e ameaçam queimar ou quebrar o carro dos que não cedem à extorsão. Na semana passada, motoristas denunciaram nas redes sociais terem sido feitos de reféns por criminosos na região. Em áudios divulgados na web, eles contam que ficaram "presos" e que lhes foi cobrado um valor em Pix para que pudessem sair.

Uma das vítimas contou à polícia que foi atender uma corrida na Ilha do Governador, em janeiro, e foi abordado por 15 criminosos armados. Consta em depoimento que um dos criminosos mandou que ele descesse do carro e ordenou que outro bandido o levasse para a "reunião", onde havia outros 20 motoristas de aplicativo.

Segundo a vítima, um criminoso chegou a dizer que "a Ilha tem dono", e que "motoristas que não pagassem a raxa seriam pegos por motociclistas do tráfico".

De acordo com o MP, os criminosos fornecem adesivos para identificar os motoristas que pagam a taxa semanal, facilitando o controle pela quadrilha em meio ao trânsito da Ilha. Eles também possuem um fiscal que identifica quem está circulando na região sem o adesivo.

O promotor de Justiça Sauvei Lai, da 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Territorial da área Ilha do Governador e Bonsucesso, explicou que os criminosos até simulam falsas corridas para atrair os motoristas para a sede da "cooperativa do crime", onde o cadastro para controlar a extorsão é feito.

— As investigações continuam. Por isso, pedimos que motoristas de aplicativo que foram vítimas dessas extorsões compareçam à delegacia para nos auxiliar na apuração e identificação do maior número de criminosos — afirma o promotor de Justiça Sauvei Lai, da 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Territorial da área Ilha do Governador e Bonsucesso.

A Ilha do Governador tem mais de 200 mil habitantes e abriga o Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro - Galeão (GIG), sendo uma das principais portas de entrada do Rio.

Extorsão com juros

Outra vítima contou que foi atender uma corrida a Comunidade do Guarabu e encontrou barricadas que impediam sua circulação. Ao tentar manobrar para retornar, ele foi abordado por dois criminosos armados. Após se identificar como motorista de aplicativo, os criminosos informaram a vítima que ela precisava fazer um cadastro e pagar uma taxa de R$ 150 por semana para trabalhar na região.

Para ser liberado a buscar passageiros na Ilha, ele teria ainda que pagar R$ 400 pelo tempo que ele já estava trabalhando sem efetuar o pagamento da taxa. Como a vítima não tinha dinheiro, eles ainda cobraram mais R$ 50 de juros para realizar o pagamento com o cartão de crédito. A cobrança teria sido feita pelo Claudio da Rosa Gomes da Silva Carvalho, de vulgo "Nhonho".

O MPRJ denunciou seis pessoas por envolvimento na quadrilha. De acordo com o documento, os bandidos integram a organização criminosa Terceiro Comando Puro (TCP), que controla o comércio ilegal de drogas nas comunidades do Dendê, Pixunas e na maioria das demais comunidades da Ilha. Segundo o MPRJ, eles expandiram seus negócios ilegais, organizando-se como uma narcomilícia e passando a cobrar “taxas” por meio de extorsões contra motoristas de aplicativos, mototaxistas e taxistas.

"À 5ª Vara Criminal foram denunciados Mario Henrique Paranhos de Oliviera, vulgo “Neves" ou "Nem"; apontado como mandante e responsável por ordenar as atividades ilícitas, e que se encontra preso; Marlom Rodrigues Chieregatto dos Santos (“ML” ou “Marreco"); Leonardo Rodrigues Pereira (“Dogão"); Leonardo Alves dos Santos (“Valoroso ou “Pavora"); e Anderson Alves dos Santos Barbosa. Na 35ª Vara Criminal foi apresentada a denúncia de Claudio da Rosa Gomes da Silva Carvalho ("Nhonho") e também de Mario Henrique Paranhos de Oliveira".

Problema antigo

Não é a primeira que motoristas que trabalham com transporte de passageiros são alvos de extorsões e pagam para ser autorizados a trabalhar na Ilha do Governador. Em 2018, uma investigação feita pelo Ministério Público do Rio de Janeiro revelou que o integrante do escritório do crime e ex-PM Antônio Eugênio de Souza Freitas, o Batoré, se uniu ao traficante Fernando Gomes de Freitas, o Fernandinho Guarabu, então responsável por controlar o tráfico no Morro do Dendê, para explorar um negócio milionário: a narcomilícia. Os dois se tornaram sócios e passaram a cobrar taxas de motoristas de vans.  O lucro estimado na época, obtido pela dupla, chegava a R$ 800 mil por mês.

Legalizados ou não, todos os motoristas eram obrigados a pagar uma espécie de pedágio para rodar na Ilha. A cobrança era feita por uma cooperativa, controlada por Batoré. Segundo investigações, quem se recusava a pagar era proibido de trabalhar. Se insistisse, o motorista poderia ser levado para o Morro do Dendê. Lá, era obrigado a pagar os valores exigidos para não ser assassinado.

Em 2019, Guarabu e Batoré foram mortos numa operação policial, mas as cobranças legais continuaram. E, em 2023, migraram passaram a atingir também a motoristas de aplicativos. Em março do mesmo ano, duas pessoas foram presas pela Polícia Militar, suspeitas de participarem de um esquema de extorsão. Os motoristas eram obrigados a pagar uma taxa em dinheiro para circular e pegar passageiros na Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio.

Já em abril de 2024, policiais da 37ªDP (Ilha do Governador) prenderam um homem suspeito de extorquir motoristas de aplicativo. Ele foi capturado em um posto de gasolina, enquanto abastecia um veículo.  Dentro do carro, os agentes encontraram uma bolsa com uma espécie de caderno de contabilidade.  Segundo as investigações, os motoristas eram obrigados a pagar R$ 400 por semana. Os valores recolhidos eram repassados para o tráfico.

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