Um longo corredor de mais de 100 pessoas acompanharam o cortejo para sepultar o corpo do policial militar Jorge Henrique Galdino Cruz, de 32 anos, velado nesta quarta-feira, no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, Zona Oeste do Rio. Parentes, amigos e colegas de farda, se reuniram para a despedida do policial, marcada pela emoção. Um de seus filhos se manteve envolto com a bandeira do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), além de uma mochila camuflada nas costas durante o sepultamento. O terceiro-sargento morreu durante uma operação do Bope no Complexo da Maré, no dia anterior.
O cortejo saiu da capela por volta das 15h40. À frente estava o secretário de Polícia Militar, Marcelo de Menezes Nogueira, ao lado de um pastor, que cantava hinos religiosos. O caixão do sargento, coberto por uma bandeira do Brasil e do Bope, foi carregado por policiais fardados. Vários outros soldados se enfileiravam até a chegada da cova onde o agente foi enterrado. O secretário de Segurança Pública, Victor Cesar Santos, também estava presente. Durante a cerimônia, dois helicópteros da PM sobrevoavam o cemitério. Dois cachorros do Batalhão de Operações com Cães (BAC) participaram das homenagens.
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A expressão era de seriedade, mas transparecia tristeza e pesar. No sepultamento, sete policiais e um comandante realizaram uma salva de tiros para homenagear o colega. A banda oficial da corporação tocou hinos religiosos, e em tom militar, os agentes fizeram a oração do Bope — momento em que até mesmo os colegas de farda não seguraram as lágrimas. Ele foi enterrado ao som de uma corneta, com o chamado "toque de silêncio", seguido de uma salva de palmas.
Um dos soldados da banda oficial, que preferiu não se identificar, relatou que o momento de tocar o instrumento é uma das mais difíceis.
— Tem que segurar a emoção. A missão não foi cumprida dessa vez. Perdemos um dos nossos. É muito duro — disse, olhando firme para frente, com o rosto vermelho e os olhos cheios d’água.
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Jorge ingressou na corporação em 2011, entrando para o Bope oito anos depois, onde era conhecido como Jota. Ele chegou a ser socorrido para o Hospital Federal de Bonsucesso e passou por procedimentos de reanimação, mas não resistiu. O agente deixa esposa e três filhos, um menino e duas meninas. Abalada, a família não quis dar entrevista.
Tenente-coronel da PMERJ, Claudia Moraes, afirmou que o sentimento é de consternação, mas também de força. Segundo ela, o momento pede que a polícia siga em frente.
— Os policiais das forças especiais são motivo de orgulho. É muito difícil quando a gente vê a dor da família, a dor da corporação, dos policiais que vieram se despedir e honrar um colega. Um policial jovem, mais uma vítima de uma realidade tão dura que a gente vive no Rio de Janeiro. Nada vai compensar a perda de uma vida humana. O sentimento é de dor e consternação, mas também de força, porque a gente não vai parar. A sociedade precisa da Polícia Militar e da segurança pública. Esse é o momento de enterrar o nosso morto, chorar as nossas lágrimas, mas de seguir em frente — disse a tenente-coronel, que pediu um tempo para respirar depois de falar.
Depois do enterro, uma mulher chorava abraçada a um soldado, próximo ao local do sepultamento. O filho do sargento, que acompanhou toda a cerimônia de perto, foi acolhido por muitos policiais, que o abraçavam e diziam palavras de conforto. Apesar da perda do pai, o menino sorria entre um abraço e outro.
Outro policial militar, Rafael Wolfgramm Dias, também foi atingido por disparo de arma de fogo durante a operação. Ele passou por cirurgia no Hospital Federal de Bonsucesso e seu quadro de saúde é grave, mas estável, de acordo com a direção da unidade.
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