Alvo da mesma investigação que terminou com sua filha presa preventivamente nesta quarta-feira, o bicheiro José Caruzzo Escafura, conhecido como Piruinha, também teve a prisão preventiva decretada. Devido à idade avançada (completou 94 anos em maio), no entanto, foi requerido que o contraventor fique em prisão domiciliar, com monitoramento eletrônico. Atualmente, ele se encontra sem tornozeleira eletrônica, que foi retirada durante uma internação médica. Personagem entrevistado na série documental "Vale o escrito", do Globoplay, saiba mais sobre o integrante da cúpula da contravenção.
Ao contrário de outros bicheiros, famosos por ostentar com mansões e carros de luxo, Piruinha — que disse já ter trabalhado como jornaleiro, engraxate, vendedor de balas e motorista de lotação — sempre aparentou levar uma vida mais simples. Jamais deixou de morar na Zona Norte, onde costumava frequentar bares e conversar com moradores. No documentário do Globoplay, o contraventor demostrou ainda orgulho por ser assumidamente mulherengo e pai de 19 filhos.
Desde a década de 1970, Piruinha controlava o jogo do bicho nas regiões de Madureira, Cascadura, Abolição, Piedade, Inhaúma e Maria da Graça, todos bairros da Zona Norte do Rio. Em "Vale o escrito", ele contou ainda como conquistou seu espaço: contraventor se apresenta como o que mais detém pontos de jogo do bicho no Rio, 250 ao todo.
"Criei um bocado de ponto (de jogo do bicho), mas muitos nós compramos. E com dinheiro da prefeitura! Isso que eu digo: isso é Brasil. O cara pegava dinheiro da prefeitura, dessas caixas coletoras, e emprestava à gente. O dinheiro do estado. E com o dinheiro do estado nós fomos comprando: comprando Méier, Olaria, tudo com dinheiro do estado", disse ele no terceiro episódio da primeira temporada.
O contraventor estava entre os 14 banqueiros presos e condenados pela juíza Denise Frossard, da 14ª Vara Criminal, em 1993, por formação de quadrilha ou bando armado. Naquela ocasião, Piruinha e os outros bicheiros receberam a pena máxima de seis anos de detenção.
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Nesse mesmo processo, os bicheiros respondiam por tráfico de drogas e tortura. Mas nas alegações finais do julgamento o promotor pediu a exclusão desses crimes, por falta de provas. A sentença, no entanto, foi modificada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que reduziu a pena para a metade. Por meio de recursos, advogados conseguiram excluir o crime de bando armado. Quase cinco anos depois, todos já estavam soltos.
Por não ser ligado a nenhuma escola de samba — como fizeram Castor de Andrade (Mocidade Independente de Padre Miguel), Aniz Abraão Davi, o Anísio (Beija-Flor), ou Luiz Pacheco Drummond, o Luizinho Drumond (Imperatriz Leopoldinense), por exemplo — Piruinha não tinha muita visibilidade, mas nem por isso era considerado menos violento. Paralelamente ao jogo, explorava outras atividades, como motéis em bairros da Zona Oeste. O bicheiro também foi investigado por uma suposta ligação com uma quadrilha de abortos clandestinos.
Investigado por extorsão
Em abril deste ano, Piruinha foi absolvido da acusação de ser o mandante da morte do comerciante de carros Natalino José do Nascimento Espínola, o Neto, assassinado em Vila Valqueire em 2021. Na ocasião, além do contraventor, a filha dele, Monalizza Neves Escafura, e o policial militar Jeckson Lima Pereira também foram julgados pelo crime, e também foram absolvidos pelo júri.
O contraventor está em prisão domiciliar desde dezembro de 2022, quando foi internado após sofrer uma fratura no fêmur ao cair no banheiro do presídio.
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Nesta quarta-feira, Monalliza Neves Escafura, filha de Piruinha, foi presa preventivamente numa ação do Ministério Público do Rio e da Polícia Federal. A operação foi resultado de uma investigação de denúncias de Neto e Max Wanderson Marques Lopes, realizadas em fevereiro de 2019. A apuração é de crimes de extorsão de valores na casa de R$ 50 mil, realizada entre fevereiro e março de 2017, além de ameaças. Os crimes tiveram início em 2017, sob o comando de Monalliza e Piruinha. Para o MP, o caso revela um esquema complexo de extorsão e violência, com raízes profundas na exploração de atividades ilícitas.
Nesta ação, Piruinha também foi um dos alvos. Mas, por conta da idade, foi requerido que o contraventor fique em prisão domiciliar, com monitoramento eletrônico.
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Filho morto em 2017
Em 2017, o filho do bicheiro, Haylton Carlos Gomes Escafura, de 37 anos, foi morto a tiros no Hotel Transamérica, na Avenida Gastão Senges, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Ele estava acompanhado da soldado da Polícia Militar Franciene de Souza, que também foi morta. A agente era da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha.
Ele teria assumido os negócios do pai na época, segundo o relatório da operação Black Ops, da Polícia Federal. Haylton havia sido preso em junho de 2012, durante a Black Ops, acusado de envolvimento com a máfia dos caça-níqueis do Rio. Condenado a 15 anos e quatro meses de prisão, ele havia ficado oito meses foragido da Justiça.
Segundo investigações da época, Haylton e sua quadrilha usavam a venda de carros de luxo para lavar o dinheiro da contravenção. Na época, músicos e jogadores de futebol ficaram na mira da polícia. O bando foi acusado de contrabando, comércio ilegal de pedras preciosas, formação de quadrilha e evasão de divisas.
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