A delegada Patrícia Alemany, da Delegacia Especial de Apoio ao Turismo (Deat), responsável por investigar a denúncia de que adolescentes foram vítimas de racismo durante uma abordagem truculenta feita por PMs, em Ipanema, na Zona Sul do Rio, disse estar tentando contato com consulados e embaixadas para agilizar os depoimentos dos jovens, todos com idades entre 13 e 14 anos. A expectativa é de conseguir ouvir as vítimas ainda nesta sexta-feira.
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Três dos meninos são negros e filhos de diplomatas de países como Canadá, Gabão e Burkina Faso, os dois últimos do continente africano. O quarto é brasileiro e morador de Brasília. Eles estão de férias no Rio e chegaram na cidade na última quarta-feira.
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Pais denunciam PMs por racismo em abordagem a adolescentes de férias no Rio
Apesar do caso ainda não ter sido comunicado oficialmente à Deat, a delegada fez o registro de ocorrência baseado nos fatos noticiados em matérias jornalísticas. Patrícia Alemany já recebeu imagens da abordagem e vai intimar testemunhas, entre elas o porteiro do prédio onde os jovens estavam, quando abordados pelos agentes, na Rua Prudente de Moraes.
— Estamos fazendo contatos com consulados e embaixadas. Queremos agilizar os depoimentos — disse a delegada.
Nesta sexta-feira, os quatro jovens foram ouvidos por membros da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio. O Itamaraty também acompanha o caso. Em nota, o órgão afirmou que "busca averiguar as circunstâncias do ocorrido, para eventual tomada de providências".
Relembre o caso
A abordagem feita pela PM aconteceu na noite da última quarta-feira. Imagens do circuito de segurança do prédio mostram os adolescentes entrando no edifício, na Rua Prudente de Morais, quando a viatura da PM parou em cima da calçada e os policiais desceram com as armas em punho. O grupo, formado por um jovem branco e outros três negros, foi obrigado a encostar na parede para ser revistado. Os amigos tinham chegado de Brasília, na manhã da quarta-feira, para passar cinco dias de férias no Rio.
A mãe de um dos adolescentes denunciou o episódio numa rede social. Ao saber da abordagem e ver as imagens da câmera se segurança do prédio, Rhaiana Rondon acusou os policiais de racismo:
'Uma viagem de férias, planejada há meses entre quatro amigos. Com destino ao Rio, quatro adolescentes de 13 e 14 anos, acompanhados dos avós de um deles, experienciaram nas primeiras horas a pior forma de violência. Às 19h, voltando para casa em Ipanema, foram deixar um amigo na porta de casa, na Rua Prudente de Moraes, quando foram abruptamente abordados por policiais militares, armados com fuzis e pistolas, e sem perguntar nada, encostaram os meninos (menores de idade) no muro do condomínio. Três, dos quatro adolescentes, são negros!".
O filho de Rhaiana, de 14 anos, contou à mãe que os amigos foram revistados e obrigados a tirar a roupa."Com arma na cabeça e sem entender nada, foram violentados. Foram obrigados a tirar casacos, e levantar o 'saco'. Após a abordagem desproporcional, testemunhada pelo porteiro do prédio, é que foram questionados de onde eram, e o que faziam ali. Os três negros não entenderam a pergunta, porque são estrangeiros, filhos de diplomatas, e portanto não conseguiram responder. Caetano, o menino branco e meu filho, disse que eram de Brasília e que estavam a 'turismo'. Após 'perceberem' o erro, liberaram os meninos, mas antes alertaram as crianças que não andassem na rua, pois seriam abordados novamente! As imagens, os testemunhos e o relato das crianças são claros!! Não há dúvida!!".
Rhaiana, que é servidora pública em Brasília, disse que antes da viagem fez recomendações e alertas ao filho sobre a violência no Rio.
"Não ande com o celular na mão, cuidado com a mochila, não fiquem de bobeira sozinhos. Pensei em diversas situações, mas JAMAIS que a POLÍCIA seria a maior das ameaças. É traumático, triste, é doloroso. Estão assustados e machucados, com marcas que nem o tempo apagará", afirmou.
Ela contou ainda que os policiais militares disseram ao grupo para que evitassem andar pelas ruas de Ipanema. Um dos meninos, que é canadense, está muito assustado e pediu para voltar para casa. Os três meninos negros, filhos de diplomatas, não falam bem o português. Eles estudam numa escola francesa em Brasília, com o filho de Rhaiane.
— É muito triste tudo isso. Não consegui dormir essa noite de tanta angústia. Os meninos estão abalados e com medo. Jamais poderia imaginar que isso aconteceria — desabafou a servidora pública.
O filho dela contou que durante a abordagem os policiais militares mantiveram as armas apontadas para as cabeças dos três meninos negros, enquanto apalpavam as crianças e perguntaram de forma ríspida o que eles estavam fazendo ali. A atitude truculenta dos agentes deixou os meninos ainda mais nervosos, já que não conseguiam entender o que eles diziam, pois não falam português. Além do Itamaraty, o caso foi relatado pelos pais aos consulados do Canadá, Gabão e Burkina Faso, países de origem dos três jovens negros.
A embaixatriz do Gabão, Julie Pascali Moudouté, enviou uma carta de protesto ao Itamaraty. Em entrevista ao RJ2 da TV Globo, a diplomata questionou a conduta da PM. "A polícia está aqui para proteger. Como é que você pode colocar arma na cabeça dos meninos de 13 anos? Como que é isso? (...) Você me aborda, você me pergunta. E depois você me diz do que você está reclamando. Mas você não sai com arma e me coloca na parede! A gente crê na Justiça brasileira e a gente quer justiça. Só isso".
Em nota, a Polícia Militar informou que os policiais envolvidos na ação portavam câmeras corporais e que as imagens serão analisadas para constatar se houve algum excesso por parte dos agentes. A corporação reforçou ainda que em todos os cursos de formação, "a Secretaria de Estado de Polícia Militar insere nas grades curriculares como prioridade absoluta disciplinas como Direitos Humanos, Ética, Direito Constitucional e Leis Especiais para as praças e oficiais que integram o efetivo".
O vídeo mostra os adolescentes entrando em um prédio na Rua Prudente de Morais quando a viatura da PM parou em cima da calçada e os policiais desceram com as armas em punho. O grupo, formado por um jovem branco e outros três negros, foi obrigado a encostar na parede para ser revistado. Os amigos tinham chegado de Brasília, na manhã da quarta-feira, para passar cinco dias de férias no Rio.
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