Rio
PUBLICIDADE

Por O Globo — Rio de Janeiro

O Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh), da Defensoria Pública do Estado do Rio Janeiro, informou que irá apresentar recurso de apelação contra a sentença que absolveu os policiais civis acusados de matar João Pedro Matos Pinto. Os defensores, que representam parentes do adolescente, afirmam que a sentença "não observou a robusta prova técnica e testemunhal produzida no processo". João Pedro foi morto em 2020, durante uma operação no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. Os agentes Mauro José Gonçalves, Maxwell Gomes Pereira e Fernando de Brito Meister eram réus por homicídio duplamente qualificado e fraude processual.

Para justificar a absolvição, a juíza Juliana Bessa Ferraz Krykhtine afirmou que os policiais agiram em legítima defesa. Segundo o Nudedh, essa avaliação "subtraiu a competência constitucional do Júri Popular para o julgamento da causa", ou seja, o caso não foi julgado pelo júri mesmo se tratando de um homicídio, o que iria contra o princípio legal de que crimes contra a vida, quando com materialidade e indícios de autoria, são julgados dessa forma.

Além disso, a defensoria destacou que a sentença afastou provas técnicas produzidas por peritos externos ao próprio órgão de segurança ao qual pertencem os acusados, assim como a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos e do Supremo Tribunal Federal, que determinam investigações independentes e perícias autônomas em casos de morte provocada por agentes de Estado.

Justificativas da juíza:

  • “Os réus no momento do fato encontravam-se no local do crime, em razão de perseguição a elementos armados. Após os inúmeros disparos já na área externa da casa, houve uma pausa, momento em que fora lançado, por parte dos traficantes, um artefato explosivo artesanal em direção aos policiais”.
  • “Sob esse panorama, a fim de repelir injusta agressão, os policiais atiraram contra o elemento que teoricamente se movimentava em direção ao interior da residência”, emendou.
  • “Vale destacar que embora seja cediço que houve a morte de um adolescente inocente, a vítima João Pedro, é necessário entender, com apego à racionalidade, que a dinâmica dos fatos, como narrada e confirmada pelos diversos laudos anexados ao processo, não pode ser inserida em um contexto de homicídio doloso por parte dos policiais. Isso porque, no plano da tipicidade, o aspecto subjetivo já não se completa, haja vista a clara ausência de dolo, uma vez que não houve qualquer intenção de matar o adolescente”.
  • "Nessa linha de raciocínio, saindo do aspecto da tipicidade e adentrando na antijuridicidade, é imperioso entender que os policiais, à primeira vista, agiram sob um excludente de ilicitude, a saber: a legítima defesa. ”
  • "A agressão sofrida pelos réus era atual, face aos disparos efetuados em sua direção, bem como o lançamento dos explosivos, além do que os mesmos se utilizaram dos meios necessários que possuíam para repelí-la. A prova produzida nos autos não deixa dúvidas que a conduta dos réus se deu em legítima defesa e como tal deve ser reconhecida".

Relembre o caso

João Pedro brincava em casa, no dia 18 de maio de 2020, quando começou uma operação conjunta das polícias Civil e Federal. O adolescente estava com amigos e, segundo afirma a família, os agentes chegaram atirando. O garoto foi atingido por um tiro de fuzil nas costas. Socorrido num helicóptero da polícia, ele não resistiu ao ferimento. A casa onde ele morava ficou com mais de 70 marcas de tiros.

A casa onde estava João Pedro foi atingida por 70 tiros — Foto: Jack Silva/Arquivo
A casa onde estava João Pedro foi atingida por 70 tiros — Foto: Jack Silva/Arquivo

Durante a investigação, foi constatado que o disparo que atingiu João Pedro partiu de um policial civil. A defesa dos agentes afirmou que eles só entraram na casa onde estava o garoto porque perseguiam bandidos e que houve um confronto.

Numa audiência de instrução de julgamento, ocorrida em 2022, uma testemunha afirmou que não se lembrava da presença de traficantes armados perto da residência onde o adolescente estava. A versão confrontou o que diziam os policiais civil e federais. Eles afirmaram que criminosos do Complexo do Salgueiro pularam o muro da casa. De acordo com os agentes, os bandidos atiraram contra eles e lançaram granadas.

Parentes de João Pedro também afirmaram que os policiais chegaram à residência atirando e que a cena do crime foi alterada para dar a impressão de que ocorrera um confronto com traficantes. O Ministério Público do Rio, que denunciou os agentes, destacou que foram plantados no local uma pistola e explosivos. Além disso, uma escada foi posicionada no muro nos fundos da casa, afirmou o MP.

Em nova audiência em setembro de 2023, o policial civil Fabio Vieira Rodrigues, que estava em um helicóptero sobrevoando o Complexo do Salgueiro, disse ter visto mais de um traficante andando perto da casa que era alvo da operação, localizada a menos de cem metros do imóvel onde estava João Pedro.

Meses antes desse depoimento, o Governo do Estado do Rio de Janeiro foi condenado a pagar uma indenização aos pais de João Pedro. O poder estadual deve pagar dois terços de um salário mínimo para o pai e a mãe até a idade que ele completaria 25 anos e depois um terço até a data que o filho completaria 65 anos.

Mais recente Próxima Base do Segurança Presente é inaugurada no entorno do Aeroporto Internacional do Galeão

Inscreva-se na Newsletter: Notícias do Rio

Mais do O Globo

Prazo e opções do elenco afastam possibilidade

Flamengo não deve contratar substituto para Pedro; saiba motivo

Tricolor paulista reclama de decisão de Paulo Cesar Zanovelli em origem do gol de Kauã Elias, o primeiro da vitória carioca por 2 a 0

São Paulo pode conseguir anulação de jogo contra Fluminense? O que a lei diz? Veja perguntas e respostas

Com envelhecimento mais veloz da população, efeitos das mudanças de 2019 se esgotarão já em 2027

Nova reforma da Previdência se tornou mais urgente

Internações de bebês bateram recorde no ano passado e continuam em alta neste ano

Doenças respiratórias são efeito nefasto das mudanças climáticas

A falta de compreensão sobre a razão por que o oceano é importante para nossa vida atrasa a busca por soluções

A conservação ambiental também é azul

É importante procurar saber o que o candidato em quem você pretende votar fará a respeito dos idosos

É preciso dar atenção à política do idoso

As políticas públicas precisam funcionar, e a prosperidade obedecer a alguns princípios éticos

Riqueza fascina nas redes e na política

Pedia-se tolerância religiosa, passaram a perseguir as religiões afro-brasileiras

A militância mudou de mãos

Uma cidade fica bonita com o Cristo Redentor olhando gigantesco lá de cima, mas ela é feita desses detalhes tão pequenos de nós todos, como o tombamento da bossa nova

Veja o horóscopo do dia 9/9 para os signos de Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes

Horóscopo de hoje: veja previsão para seu signo no dia 9/9