No número 13 da Travessa do Comércio, no Centro do Rio, o sobrado onde Carmen Miranda morou com a família em 1925, perdeu uma parte do telhado após um desabamento nesta segunda-feira. O imóvel, que pertence a um advogado do ramo imobiliário, acumula uma dívida de R$ 260 mil de IPTU e é integra o integra o conjunto arquitetônico tombado da Praça XV, tombado pelo Instituto de Patrimônio Histórico (Iphan).
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Ninguém ficou ferido no desabamento, mas é a segunda vez que ocorre um desabamento do telhado do imóvel este ano. A casa foi comprada em 2011 pela Arilucas, uma empresa do setor imobiliário, que pertence ao advogado Alexandre Barreira. A companhia comprou o prédio por cerca de R$ 1,1 milhão da antiga proprietária, a Santa Casa de Misericórdia. O advogado é o mesmo que cobrava na Justiça R$ 211 milhões de honorários advocatícios da Santa Casa, por seis meses de trabalho, como divulgou a coluna do Ancelmo.
Em junho, a Defesa Civil do Rio isolou a casa após cerca de um terço do telhado cair. Segundo o Iphan, o proprietário recebeu um auto de infração devido à falta de manutenção, e foi notificado a tomar as medidas de correção para sanar os riscos estruturais. O incidente foi comunicado ao Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), à Defesa Civil e à Subprefeitura do Centro. Nenhum relatório referente à situação interna do local foi enviada ao Iphan. O órgão explicou, em nota, que não é possível dar duas notificações sobre o mesmo motivo.
De acordo com a Portaria 187/10, o proprietário tem o prazo de 15 dias para apresentar defesa. Ele também pode apresentar recurso ou desejo de realizar um Termo de Compromisso. Este prazo ainda não acabou e só passa a ser contado a partir do recebimento do auto de infração, que é enviado via correio. Caso o proprietário não se apresente, poderá ser multado e o processo vira uma ação civil pública.
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A empresa proprietária Arilucas informou, por meio de nota, que retomou o imóvel da locatária para quem alugava o casarão. O pronunciamento diz ainda que a dona da casa tomou conhecimento do primeiro desabamento do telhado no dia 3 de julho, através do Iphan, e que comunicou à locatária. Essa, por sua vez, teria contratado uma equipe técnica que fez uma vistoria e constatou danos estruturais no telhado, mas que os técnicos não poderiam fazer as obras, porque precisariam da autorização do Iphan. A locatária havia se comprometido em protocolar um pedido ao órgão, mas diante da gravidade dos fatos, a Arilucas informou que vai assumir as medidas de reparação.
— É uma região em plena revitalização. Esse descuido com o patrimônio é um revés para as pessoas que estão abrindo novos empreendimentos ali, e para o poder público, que acaba perdendo dinheiro investido. Providências precisam ser tomadas. Essa casa tem uma importância histórica incrível, se restaurada, poderia ser um belíssimo museu sobre a Carmen Miranda, por exemplo — disse Claudio Castro, sócio da Sérgio Castro Imóveis.
A moradia da pequena notável
Carmen Miranda morou com a família no sobrado em 1925. Nessa época, sua mãe tinha uma pensão, com a qual ajudava a sustentar a família. O imóvel chegou a abrigar um restaurante com karaokê cheio de fotos que levava o nome de Carmen Miranda House in Club.
A cantora, ícone de brasilidade, fez das proximidades da Praça Quinze seu reduto. Em entrevista ao GLOBO em 2015, Ruy Castro recordou que ela frequentou a igrejinha de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, trabalhou em lojas de chapéus femininos e de artigos masculinos A Principal, quase em frente à Confeitaria Colombo.
Imóvel será adquirido pela prefeitura
A Defesa Civil Municipal informou que fez cinco vistorias nos últimos nove meses nos imóveis situados na Travessa do Comércio, nos números 9, 11 e 13, no Centro do Rio. No local, os técnicos identificaram a existência de risco de queda de reboco das fachadas dos imóveis com projeção no logradouro. O órgão afirmou ainda que não fez vistorias internas porque os imóveis estavam fechados, e colocou fitas na fachada para alertar sobre o risco de queda de reboco.
O órgão enviou ofício para a Secretaria municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico (SMDUE) solicitando que a secretaria notifique o proprietário e realize análise estrutural dos interiores dos imóveis. A Subprefeitura do Centro e o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) também foram oficiados.
Em nota, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico (SMDUE) informou que o imóvel está em processo de arrecadação, devido ao mau estado de conservação. O órgão reforçou que o município tem feito esforços para recuperar imóveis abandonados em diferentes regiões na cidade, como o programa voltado para ocupar imóveis vazios na região central, com projetos culturais, em perímetro que inclui a Travessa do Comércio.
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