Um levantamento feito pelo GLOBO com base nos dados de janeiro a junho deste ano do Instituto de Segurança Púbica (ISP) revela os dias e horários em que os criminosos agem com mais frequência nos dois crimes com maior quantidade de ocorrências na Zona Sul do Rio: estelionato e furto de celulares. Nas três Áreas Integradas de Segurança Pública (AISPs) da região, o primeiro semestre de 2024 teve 5.879 casos de estelionatos reportados às delegacias e, de furto de celulares, 4.923.
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No caso dos furtos de celular, a área do do 2º BPM (Botafogo), que inclui ainda bairros como Catete e Flamengo, tem o sábado à noite como o período mais perigoso. Os números do ISP apontam que os bandidos agem, sobretudo, nos horários perto das 20h e das 22h, numa região que tem muitos bares e restaurantes, com grande movimentação noturnas nos fins de semana.
Já nas áreas do 19º BPM (Copacabana) e do 23º BPM (Leblon), os bandidos costumam furtar aparelhos de telefone, principalmente, nos domingos à noite. Em Copacabana e no Leme, o pico ocorre às 23h. No Leblon e nos bairros vizinhos, como Ipanema, Gávea e Jardim Botânico, é um pouco mais cedo, às 22h.
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Apesar de os números apontarem os horários de mais perigo na cidade, os casos mostram que a insegurança está presente ao longo do dia do carioca. Na tarde de quinta-feira passada, um homem foi vítima de um assalto na Rua Jerônimo Monteiro, no Leblon. Nas imagens registradas por câmeras de segurança é possível ver o criminoso, que chega em uma moto, de capacete, disfarçado de entregador, apontando a arma para o homem e exigindo os pertences. Após roubar o celular e um anel, o bandido corre para a motocicleta e foge.
Multiplicação dos golpes
Já os registros de estelionato, que têm batido recordes no estado do Rio, com mais de 73 mil casos de janeiro a junho deste ano, os dados mostram que os bandidos tentam aplicar os golpes, principalmente, pelas manhãs, inclusive na Zona Sul.
Na região de Botafogo, os estelionatos têm pico perto das 8h das quartas-feiras. E em Copacabana, às quintas-feiras, perto das 10h. Enquanto no Leblon e entorno, há uma diferença: além das manhãs, os golpistas também agem de noite: os picos são nas manhãs às 10h de quinta-feira e à meia-noite das sextas-feiras.
Outras regiões
O GLOBO levantou ainda os dias e horários de pico de crimes no estado como um todo e em outras sete AISPs da cidade. Na área do 5º BPM (Praça da Harmonia), que inclui a Lapa, Santa Tereza, Praça Mauá e Praça da República, por exemplo, os roubos de celular tendem a ocorrer nas madrugadas de domingo, entre 0h e 3h, justo quando os bares da região próxima aos Arcos estão lotadas de cariocas e turistas. Na região do 6º BPM (Tijuca, Praça da Bandeira e Grajaú), uma curiosidade: os furtos de celular ocorrem mais às quartas à noite, perto das 23h. É um horário em que torcedores costumam estar saindo dos jogos de futebol que ocorrem no estádio do Maracanã.
Por outro lado, na Zona Oeste, no 31º BPM (Recreio e Barra da Tijuca), no 18º BPM (Jacarepaguá, Taquara, Tanque e Campinho), 14º BPM (Gericinó, Bangu e Realengo) e 40º BPM (Campo Grande), apesar do estelionato ser o crime mais presente, a ameaça e a lesão corporal vêm logo em seguida. Na Barra e no Recreio, o estelionato é comum às quartas-feiras, à 0h, e a ameaça às sextas-feiras, às 12h. Em Jacarepaguá, os golpes, em sua maioria, são aplicados às quintas-feiras, às 10h, e as ameaças são feitas às quartas-feiras, às 8h, e aos domingos, às 10h.
Na região de Gericinó, o estelionato ocorre também nas manhãs de quinta, às 10h, e o crime de lesão atinge seus picos aos finais de semana: aos sábados, às 8h, e aos domingos, à meia-noite. Em Campo Grande, o estelionato tem a maior parte dos registros concentrada às terças-feiras, às 12h, e as ameaças às quartas-feiras, no mesmo horário.
Números no estado
No estado, as primeiras horas de sol guardam os seus riscos. É o período em que há alta nos roubos em coletivos, que ocorrem, sobretudo, em torno das 7h das segundas-feiras, quando muitas pessoas estão a caminho do trabalho. Independentemente do que mostram os números, casos recentes têm mostrado uma repetição da violência no começo do dia.
A manhã mal havia começado ontem quando a professora Layla Marinho Paixão, de 35 anos, morreu baleada numa tentativa de assalto, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Ela estava no banco do carona do carro, dirigido pelo marido. Pouco tempo depois, por volta das 10h30, no Cachambi, na Zona Norte, uma mulher foi agredida ao se recusar a entregar o celular a um ladrão. Foi o segundo caso de agressão em menos de 12 horas. Na madrugada de ontem, em Nova Iguaçu, uma idosa de 65 anos foi ferida com coronhadas e está internada em estado gravíssimo.
As manhãs, aliás, são quando ocorrem o crime com mais registro neste ano no estado: o estelionato. Dos 73.076 casos, de janeiro a junho, o horário em que as vítimas relataram mais abordagens é às 10h das quartas-feiras, com 1.599 ocorrências (3,71% dos registros). De segunda a sexta, porém, esse também é um dos horários favoritos dos golpistas.
Dois roubos em menos de dois meses
O terror vivido duas vezes, em menos de dois meses, por um casal da Tijuca, na Zona Norte do Rio, retrata porque as noites nas ruas é de sensação de insegurança para muitos. Por volta da meia noite do dia 29 de junho deste ano, as vítimas, que preferiram não serem identificadas, viveram momentos de terror ao serem abordadas por bandidos enquanto entravam com o carro na garagem de um prédio, na Rua Antônio Basílio, na Tijuca, na Zona Norte da cidade. Tentando fugir dos criminosos, a motorista acelerou e entrou com o veículo no edifício, porém os homens persistiram, seguiram as vítimas e terminaram levando o carro, assim como alguns pertences.
O caso chama a atenção pela coragem dos criminosos, que não hesitam mesmo depois de uma tentativa de fuga, e por uma triste coincidência. O mesmo casal foi vítima de um assalto executado da mesma maneira e com o mesmo desfecho, há menos de dois meses. No dia 4 de maio, também a noite, os dois chegavam na garagem do mesmo prédio quando foram abordados por bandidos em motocicletas. Da mesma maneira, o casal tentou fugir para o interior do prédio, porém não foram bem-sucedidos.
— Nós vivemos o primeiro trauma em maio. Todas as duas situações aconteceram na porta do prédio, no mesmo lugar. Eu não sei dizer se estavam nos seguindo ou não, foi tudo muito rápido. Eles conseguiram levar o carro e alguns pertences. Depois disso, nós conseguimos comprar um novo veículo, mas não chegamos a ter paz nem por 24h. Fomos no aniversário de uns amigos e, quando eu fui entrar na garagem, a mesma coisa, na mesma rua. Só que nessa segunda vez eles foram mais agressivos — conta uma das vítimas.
Em nota, a Polícia Militar informou o policiamento é distribuído de maneira estratégica, levando em consideração os dados apontados pela mancha criminal de cada Área Integrada de Segurança Pública. E que a medida tem como principal objetivo coibir e prevenir todas as práticas delituosas na área de atuação das unidades operacional, que atuam no reforço do policiamento por meio de viaturas e motopatrulhas, com o emprego de agentes subordinados ao Comando de Polícia Especial (CPE) e do Comando de Operações Especiais (COE).
Sobre os horários das rendições, o regulamento da Corporação prevê que a troca de turno seja feita sempre no posto de serviço para o qual a guarnição foi escalada para cumprir o roteiro de policiamento.
Já a Polícia Civil esclarece que possui investigações em andamento para identificar e responsabilizar autores de crimes, bem como desarticular quadrilhas que atuam no território fluminense. A instituição disse ainda que trabalha em conjunto com a Polícia Militar, com monitoramento, levantamento e troca de informações de inteligência, e ações para nortear o policiamento ostensivo em áreas com maior índice de criminalidade, a fim de reprimir delitos, além de identificar e capturar criminosos.
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