Alvo de procedimento de apuração aberto pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a desembargadora Valéria Dacheux, da 6ª Câmara de Direito Privado do Rio, alega em sua defesa, obtida pelo Estúdio I, da Globonews, que parentes da socialite Regina Gonçalves, de 88 anos, teriam interesses financeiros e não preocupação com a saúde dela ao questionar a concessão de curatela ao marido José Marcos Chaves Ribeiro.
O pedido de abertura da apuração no CNJ foi feito pela Ouvidoria Nacional da Mulher. Os advogados de Regina alegam que a desembargadora tem ignorado os pedidos e questionamentos feitos pela defesa. O documento que serviu de base para a abertura da investigação informa que a socialite seria vítima de cárcere privado e de maus-tratos por parte de Marcos Ribeiro, o que estaria sendo ignorado pela desembargadora, desacreditando a vítima e atuando "em conjunto com defesa do acusado".
A desembargadora, em sua defesa, afirma que "adotou todas as cautelas necessárias ao bem-estar físico, psíquico e patrimonial da idosa. Valéria Dacheux, no entanto, não cita a existência de pedido da Polícia Civil para que a curatela seja retirada de Marcos Ribeiro. No inquérito relatado pelo MPRJ o delegado do 12ª Distrito Policial (Copacabana) Angelo José Lages Machado classifica o marido e ex-motorista como "agressor".
Maria Helena Mallmann, da Ouvidora Nacional da Mulher, pediu ao CNJ que intervenha na conduta da desembargadora. A ministra cita alegação da própria Regina à ouvidoria, na qual afirma que a postura da desembargadora contraria todas as decisões protetivas conferidas em jurisprudências.
Relembre o caso
Em abril, num mesmo dia, a Justiça publicou duas decisões antagônicas sobre a tutela da socialite Regina Gonçalves. A desembargadora Valéria Dacheux, da 6ª Câmara de Direito Privado, manteve a tutela provisória de Regina com o marido, José Marcos Chaves Ribeiro, revogando a medida protetiva de que ele ficasse a 250 metros de distância da esposa. Já em primeiro grau, a juíza substituta Claudia Leonor Jourdan Gomes Bobsin, da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso, determinou a volta da socialite ao edifício Chopin, em Copacabana, onde mora. Ela retornaria ao apartamento com o curador, no caso, seu sobrinho. Prevaleceu a decisão de segunda instância: Regina retorna com o companheiro.
A queda de braço entre a família de Regina e seu companheiro existe desde 2016, mas só este ano foi que a batalha judicial entre as duas partes se acirrou. No dia 2 de janeiro, Ribeiro alegou que Regina teve um surto e foi à casa do irmão, em Copacabana, de onde não mais retornou. Uma ação foi movida pela família da socialite contra o marido por violência psicológica e doméstica sofrida por ela, além da ameaça. O caso só veio à tona na semana passada, quando vizinhos de Regina, moradores do luxuoso Chopin, onde a socialite tem dois apartamentos, fizeram um movimento pelas redes sociais, no qual denunciavam o sumiço dela.
Decisão favorável ao companheiro
A decisão da desembargadora Valéria Dacheux foi concedida às 10h40. Apesar de o sistema ser eletrônico, até a noite de quinta-feira, a informação não constava nas movimentações da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso, exibidas no site do Tribunal de Justiça. O próximo passo, agora, será a magistrada de primeiro grau modificar a sua decisão por conta do resultado do recurso favorável a Ribeiro. A juíza de primeiro grau reiterou que, "diante da repercussão" do caso, o processo continue em sigilo.
Na decisão de segundo grau, a desembargadora determinou ainda que Regina deverá ter acompanhamento de uma cuidadora, escolhida com a aprovação dos familiares, para garantir a transparência quanto à saúde e bem-estar da idosa. Caberá ao juízo de primeira instância fixar a visitação dos familiares, mesmo que de forma assistida, para evitar alegações de que a socialite está em cárcere privado. O que originou o processo foi justamente a denúncia feita pela família de que Regina sofria violência doméstica, acusando Ribeiro de mantê-la trancada no apartamento do Chopin.
A magistrada destaca ainda, num dos trechos, que a decisão não é imutável caso surjam novos fatos capazes de mudar a tutela. Mas no cenário atual, segundo a ordem judicial, os cuidados de Regina ficarão a cargo do marido.
O empresário João Chamarelli, que disse estar autorizado pela família de Regina a dar entrevistas sobre o caso, afirmou que a socialite fora vítima de um golpe de Ribeiro. Segundo ele, Ribeiro era motorista da socialite e a mantinha em suposto cárcere privado, mas ela teria conseguido escapar, após um descuido dele. Chamarelli disse que o caso foi registrado na polícia e, como o inquérito corre em segredo de justiça, ele não poderia falar mais do que lhe fora autorizado. Ao ser consultado sobre a decisão da Justiça desta quinta-feira, ele alegou a validade da ordem judicial de primeira instância em favor da família de Regina.
Já o advogado de Ribeiro, Bruno Saccani, argumentou que, como o processo está em sigilo, não poderá comentar sobre a decisão dada pelo Tribunal de Justiça, mas ressaltou que a determinação em segundo grau, obviamente, prevalece sobre a primeira.
A idosa é carinhosamente chamada de dona Regina no Chopin, onde mora antes mesmo de ficar viúva de Nestor Gonçalves, em 4 de março de 1994. O casal não teve filhos, portanto, Regina herdou dois apartamentos no Chopin, mansões em São Conrado, uma fazenda em Angra dos Reis e outros bens. E é esse patrimônio que indiretamente está na disputa quando o assunto é quem vai ficar cuidando dela.
Veja imagens do apartamento no Chopin onde vive Regina Gonçalves
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