Pelo quinto dia consecutivo o Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, é alvo de uma operação da Secretaria municipal de Ordem Pública (Seop) com apoio das polícias Militar e Civil nesta sexta-feira, que visa a demolir o condomínio Novo Horizonte, erguido pelo tráfico na favela Parque União. Moradores da região se queixam das ações em sequência que, segundo eles, alteram a rotina no conjunto de favelas, provocando fechamento de escolas, de comércios e de postos de saúde. No fim da manhã, centenas de pessoas, com faixas com a palavra "Paz", fecharam a Avenida Brigadeiro Trompowski e a faixa lateral da Avenida Brasil durante um protesto.
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Nesta sexta-feira, as duas escolas estaduais localizadas na Maré — o Ciep 326 - César Pernetta e o Colégio estadual Professor João Borges de Moraes — que atendem 1.424 alunos, voltaram a fechar as portas, como acontece desde segunda-feira.
As unidades da rede municipal funcionam normalmente. Em um comunicado envidado pelo Ciep Hélio Smidt a grupos de pais, a escola afirma ter sido obrigada pela Secretaria Municipal de Educação a abrir, embora não sinta que haja segurança para tal:
"Este é o quinto dia útil de operação policial consecutivo, infelizmente. Sentimos o pesar dessa tragédia urbana vivenciada em nossas comunidades. Estamos todos sendo vitimados por essa violência que não é somente material, mas, também, social. Precisamos encontrar um meio para trabalharmos e os filhos de vocês estudarem, porém, precisamos de segurança para isso. A escola estará aberta a partir das 9h POR DETERMINAÇÃO DA SME. Receberemos os alunos que forem, mas não temos como garantir a segurança deles, e nem a nossa. Avaliem a necessidade de circulação pela comunidade no dia de hoje e enviem seus filhos caso queiram e se sintam seguros. Não se preocupem com faltas e suas implicações nos programas de assistência social. Daremos um jeito como sempre fizemos e vocês sabem que podem contar com nossa parceria, assim como sabemos que podemos contar com a parceria vocês".
Diante disso, profissionais das escolas que funcionam na Maré fizeram um protesto em frente à prefeitura do Rio. Eles reclamam do que consideram o descumprimento, por parte da Secretaria Municipal de Educação, dos protocolos que dizem respeito ao funcionamento das unidades escolares durante conflitos e operações policiais.
Em nota enviada ao GLOBO, a Secretaria Municipal de Educação diz que "24 escolas municipais ficaram fechadas na segunda, na terça e na quarta-feira, na Maré" e que, nesta quinta e sexta-feiras, as "escolas reabriram em horários alterados". A pasta informa ainda que a abertura ou o fechamento das unidades "é conduzido pela secretaria seguindo o protocolo Acesso Mais Seguro, em parceria com a Cruz Vermelha Internacional, o qual envolve critérios técnicos como o monitoramento permanente da situação em cada território e a atualização das forças policiais". Segundo eles, cada dia "apresentou uma dinâmica diferente" e que, por isso, a secretaria adotou procedimentos específicos de acordo com o que ocorreu em cada um dos dias de operação policial.
Sobre o Ciep 326 - César Pernetta e o Colégio Estadual Professor João Borges de Moraes, a secretaria de Estado da Educação informou que os dias letivos perdidos serão repostos, assim que possível, "a partir de um planejamento pedagógico, de forma a mitigar os prejuízos na aprendizagem dos alunos."
O órgão informou ainda que vem monitorando os casos através do Registro de Violência Escolar (RVE), ferramenta interna que visa mapear e traçar ações que ajudem no desenvolvimento de uma cultura de paz nas escolas. "Além disso, os diretores das unidades possuem autonomia para abertura e fechamento dos colégios de forma a garantir a integridade de alunos e servidores", conclui a nota.
O funcionamento da Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva foi alterado. A unidade suspendeu as atividades externas, como as visitas domiciliares.
Das 15 comunidades que compõem o complexo, as favelas mais afetadas são Parque União, Nova Holanda e Parque Rubens Vaz. Segundo levantamento da ONG Redes da Maré, desde que as operações começaram, houve fechamento de 49 escolas da área e, ao todo, cerca de 9 mil alunos ficaram sem aulas. Este ano, estudantes da região ficaram sem aula 25 vezes, o mesmo número de dias de todo 2023, por conta de operações policiais.
Estão na Maré equipes da Secretaria municipal de Ordem Pública (Seop) e das polícias Militar e Civil. Mais de 20 dos cerca de 40 prédios já foram alvos das equipes que fazem a demolição do condomínio ilegal.
De acordo com a PM, atuam na Maré equipes do Comando de Operações Especiais (COE) e do 22º BPM (Maré).
Lavagem de dinheiro
De acordo com as investigações da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), a comunidade do Parque União vem sendo usada há anos para lavar o dinheiro do tráfico acumulado com a venda de drogas por meio da construção e da abertura de empreendimentos. Os agentes apuram ainda a participação de funcionários de órgãos representativos da comunidade no esquema.
As ações no Parque União revelaram o que a polícia considera ser uma estratégia da facção criminosa: colocar ao menos uma pessoa em cada unidade habitacional para fingir que são moradores e dificultar as demolições. Na primeira fase da operação, cerca de 90% dos prédios estavam vazios.
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